O Japão disse que no momento não cogita priorizar vacinas contra covid-19 aos atletas olímpicos, refutando uma reportagem que provocou furor nas redes sociais; Andressa Alves e Rafaelle defendem imunização de grupos prioritários

 

 

Texto: Lincoln Chaves/Agência Brasil
Foto: ©Sam Robles/CBF/Divulgação

 

 

Esta semana, a priorização da vacinação de atletas ganhou destaque no Japão e se tornou uma polêmica. Uma reportagem da agência Kyodo afirmava a possibilidade de garantir a vacinação de todos os atletas olímpicos e paralímpicos até o final de junho, mas o governo desmentiu a informação. Só um milhão de pessoas já recebeu a primeira dose da vacina da Pfizer desde janeiro em uma população de 126 milhões de habitantes, e os idosos mais vulneráveis só começam a ser imunizados na semana que vem.

 

“Deem primeiro à minha mãe”, escreveu um usuário do Twitter, acrescentando: “Os atletas são todos jovens e saudáveis.”

 

O tema foi destaque na entrevista coletiva da meia-atacante Andressa Alves e da zagueira Rafaelle, da seleção brasileira de futebol feminino. As atletas se manifestaram contrárias a uma eventual prioridade a atletas na vacinação contra o vírus antes da Olimpíada de Tóquio, possibilidade discutida em alguns países e que, no início do ano, chegou a ser debatida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).

 

“No meu ponto de vista, como ser humano, os atletas têm que ser os últimos a serem vacinados. Há pessoas que precisam mais que a gente neste momento. Há outras maneiras de se preparar e chegar em Tóquio com segurança. Chegar ao menos 15, 20 dias antes [dos Jogos], fazer os exames que a gente faz no cotidiano”, defendeu Andressa, por videoconferência, na Granja Comary, em Teresópolis (RJ), onde está reunida com a seleção.

 

“Acho que a maioria das atletas gostaria de tomar a vacina, para ter essa segurança, mas é uma coisa que, hoje, tem que ser dada prioridade para quem precisa mais e corre mais risco. Concordo com a Andressa. Não é por sermos atletas que devemos ter privilégio. Tem que pensar mais na população em geral. A gente vai se cuidar. Há várias maneiras para chegarmos lá [em Tóquio] bem”, completou Rafaelle, também por videoconferência.

 

Por conta da pandemia, a seleção feminina está reunida apenas para treinamentos até o próximo dia 13, apesar deste ser o período liberado pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) para jogos entre equipes nacionais, a chamada data Fifa. As restrições sanitárias para entrada na Europa impediram que o Brasil disputasse os amistosos previstos. O jeito, então, foi aproveitar a data para que a técnica Pia Sundhage pudesse observar jogadoras que pretende levar à Tóquio e para a sequência do trabalho.

 

Pia convocou uma seleção predominantemente formada por atletas que jogam no futebol nacional (24 entre 26). As exceções são justamente Andressa Alves (Roma, da Itália) e Rafaelle (Changchun, da China). A zagueira, porém, já estava por aqui, devido à impossibilidade de brasileiros entrarem em território chinês no atual momento. A defensora tem mantido a forma utilizando a estrutura do Bahia.

 

“Meu clube sempre se mostrou aberto a tentar minha volta à China, mas o embarque está proibido e tem dificultado. Mas estar aqui tem me ajudado com a seleção. Estar no Brasil é bom, ficar perto da família. Mesmo não podendo voltar para a China, estou sempre em contato com o meu clube. Já tentei conversar com eles, de pensar em um empréstimo, pois vai começar o Campeonato Brasileiro e posso ganhar ritmo de jogo. Mas é uma coisa que não depende só de mim. Nas próximas semanas, deve definir alguma coisa”, disse Rafaelle.

 

Presente na delegação que está reunida na Granja, a atacante Bia Zaneratto é outra vinculada a um clube chinês (Wuhan Xinjiyuan). Também sem poder retornar ao país asiático, ela está emprestada ao Palmeiras e disputará o Brasileirão, com início previsto para o próximo dia 17.

 

Andressa, por sua vez, é a única que veio diretamente do exterior para integrar o grupo em Teresópolis. A logística da viagem foi preparada pela Roma, após o contato da coordenadora de seleções da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Duda Luizelli. A meia-atacante se apresentou na última terça (6), um dia após o restante das jogadoras.

 

“Era para ter chegado antes, mas, infelizmente, houve um teste positivo [para covid-19] no estafe técnico [da Roma]. Pelas normas da Itália, se há um caso positivo, você tem de ficar em quarentena por dez dias, treinando, e fazer o exame da covid-19 a cada um dia. Quando terminaram os dez dias, consegui viajar. Fiz o exame quando cheguei aqui, fiquei isolada das meninas e, no dia seguinte, pude começar a treinar com elas”, contou Andressa.

 

Tanto Rafaelle quanto Andressa são cotadas para representar o Brasil em Tóquio. Apenas 18 jogadoras podem ser convocadas para a competição em solo japonês. As duas estiveram no She Believes, torneio amistoso disputado nos Estados Unidos em fevereiro, onde a seleção brasileira enfrentou as anfitriãs (que foram as campeãs), o Canadá e a Argentina.