No Japão, Kenji Kawami ficou famoso por criar objetos “quase” inúteis, que chamam a atenção até hoje
Texto: Daniel Mello/Agência Brasil e Redação/Record TV Japan
Fotos: Divulgação/Kenji Kawakami
O Dia do Inventor, comemorado hoje (4), homenageia pessoas que se dedicam a buscar novas soluções para problemas antigos, como também aquelas que, a partir da observação, têm uma ideia que facilita a vida cotidiana. “O que caracteriza o bom inventor é estar atento a tudo que envolve a vida dele e perceber que as coisas em volta podem ser mudadas. A atenção do inventor em determinados detalhes faz a diferença”, diz o presidente da Associação Nacional dos Inventores (ANI), Carlos Mazzei.
Ele explica que independentemente de como surge a ideia, todos os inventores têm o direito de receber pelas suas inovações. “Uma dona de casa inventa um utensílio porque sente falta na hora em que está fazendo a comida. Ela sente falta de algo, procura no mercado e vê que aquilo não foi inventado ainda. Ela pode registrar a patente no nome dela e ganhar dinheiro com isso.”, exemplifica.
Mazzei lembra que apesar de muitas novidades surgirem desses inventores de ocasião, existem pessoas que se dedicam a solucionar problemas e dificuldades criando novos instrumentos e aparelhos. “O inventor propriamente dito, que tem uma bancada em casa, um laboratório, passa os fins de semana exercitando a criatividade”, acrescenta.
Chindougu
No Japão, existe uma palavra para invenções que poderiam ser úteis, mas acabam não sendo tão práticas. Chindougu 珍道具 é a junção de duas palavras: 珍 (chin), que significa “curioso” ou “estranho”; e 道具 (dougu), que significa “instrumento” ou “dispositivo”. Ainda assim, “estranho dispositivo” ou “instrumento curioso” não passa a ideia toda de chindougu, que seria algo que poderia ser usado, mas você não usaria por vergonha.
Kenji Kawakami já apareceu em diversos programas e também na mídia estrangeira. Ele é responsável por diversos inventos inúteis e por catalogar e organizar um grupo, que existe até hoje, mas sem página na internet. A Sociedade Internacional Chindougu tem membros do mundo todo. Kawakami nunca ganhou um centavo com suas invenções, mas escreve livros e artigos, dá palestras e organiza eventos. Confira nesta reportagem a galeria de invenções do japonês.
Registro
Todas essas pessoas podem registrar as suas criações e fazer a exploração comercial delas, ou autorizar, mediante o pagamento de royalties, a exploração dessa inovação por outras pessoas ou empresas. “Uma patente pode te dar uma garantia de 15 a 20 anos para você explorar ou autorizar alguém a explorar”, explica o presidente da ANI.
Porém, o processo não é simples. A ANI oferece assessoria aos inventores para que consigam registrar as patentes de suas inovações no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). “Não é fácil você fazer uma patente. Você precisa ter uma qualificação técnica para redigir um documento de patente. Você precisa proteger de forma bem abrangente a ideia que teve”, comenta Mazzei.
Mercado
Além disso, os inventores enfrentam outro obstáculo para que suas ideias cheguem ao cotidiano da população: a dificuldade em acessar os investidores. “O problema aqui no Brasil é o seguinte: a falta de apoio. Os cantores têm os empresários que ajudam a levar a música deles para o mercado. Os inventores não têm. Os inventores têm essa dificuldade financeira”, afirma o presidente da ANI. Um dos trabalhos da associação é tentar intermediar essas relações entre inventores e empresários.
Entre os produtos com promessa de sucesso, mas que ainda não chegaram ao público está um sistema que acende churrasqueiras a carvão por controle remoto. “Você, as vezes, deixa de fazer um bom churrasco porque é complicado acender o carvão. Tem que ter a temperatura correta para a carne ficar boa”, detalha Mazzei sobre os inconvenientes que a invenção busca superar.
A ANI mantém ainda um museu com centenas de invenções feitas por brasileiros, entre eles um acervo para empresários interessados e também para despertar a curiosidade de jovens e crianças. Entre as inovações brasileiras que hoje são cotidianas em todo o mundo, Mazzei lembra o câmbio automático para automóveis.