Biólogo ressalta que 99,99% dos microrganismos encontrados nessa região são inofensivos
Um local pouco estudado do corpo humano, o umbigo é, na verdade, “uma selva de diversidade microbiana”, de acordo com os achados de um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos. Eles identificaram em média 67 filotipos bacterianos em um total de 60 amostras.
O Projeto de Biodiversidade do Umbigo foi iniciado há mais de uma década pelo time do biólogo Rob Dunn, da Universidade da Carolina do Norte. De lá para cá, eles publicaram em revistas científicas algumas descobertas.
E foi justamente em um artigo na PLOS One que a equipe de Dunn forneceu detalhes inéditos sobre as bactérias que habitam nosso umbigo — e não há nada com que se preocupar, segundo os resultados do estudo.
O que eles descobriram foi que, embora existam muitas bactérias diferentes no umbigo, apenas algumas espécies eram muito comuns e estavam presentes em mais de 80% das pessoas.
Essas bactérias identificadas com mais frequência foram chamadas de “oligarcas”. Além disso, essas oligarcas eram mais parecidas entre si do que outras bactérias escolhidas aleatoriamente.
Isso sugere que a presença dessas bactérias no umbigo é previsível e pode ser devido a adaptações específicas que permitem que elas sobrevivam em nosso corpo.
Filotipos bacterianos são grupos ou categorias de bactérias definidos com base em suas características genéticas e relação evolutiva, permitindo classificar e entender a diversidade e evolução desses microrganismos.
O artigo mostrou ainda que o microbioma da pele do umbigo é formado principalmente por bactérias, como Staphylococci, Corynebacteria, Actinobacteria, Clostridiales, Bacilli e Gammaproteobacteria.
A equipe identificou uma bactéria rara em uma amostra colhida no próprio umbigo de Rob Dunn, a Enterococcus mundtii. “[É] encontrada em mim, soja e mariposas. Vai entender”, disse o biólogo, que também é autor do livro The Wild Life of Our Bodies (A Vida Selvagem de Nossos Corpos, em tradução do inglês).
Por meio de técnicas de sequenciamento profundo, foi observado que a composição do microbioma da pele é semelhante àquela encontrada em estudos que analisaram culturas de amostras de pele da mesma região.
Além das bactérias, o microbioma do umbigo possui uma presença surpreendente de três filotipos de Archaea, um grupo de microrganismos unicelulares que geralmente são encontrados em ambientes extremos — como vulcões ou fontes termais muito quentes — e nunca antes haviam sido relatados na pele humana.
A diversidade de filotipos bacterianos nos umbigos pode variar significativamente, com algumas amostras apresentando mais de três vezes mais diversidade do que outras. Essas diferenças podem ter implicações importantes para a saúde e o bem-estar das pessoas.
A presença de filotipos raros e pouco frequentes na pele do umbigo pode desempenhar um papel no potencial efeito benéfico das bactérias da pele na função imunológica da pele e nas alergias, sustentam os autores.
Segundo Dunn, 99,99% das bactérias que habitam o nosso corpo são boas. Por essa razão, especialistas recomendam que não abusemos de sabonetes ou medicamentos antibióticos.
“Matar as espécies que vivem em você pode deixá-lo mais doente, ao invés de mais saudável, se você matar as espécies erradas”, alertou o biólogo.
Isso não significa que não se deva limpar adequadamente o umbigo. A higiene é a mesma de outras partes do corpo na hora do banho.