Entre 65% e 80% da população mundial tem esse incômodo em alguma etapa da vida

 

 

Texto: Redação/Record TV Japan*
Foto: AdobeStock

 

 

Dor nas costas é a segunda causa mais comum de consultas médicas – só perde para o resfriado. Entre 65% e 80% da população mundial tem esse incômodo em alguma etapa da vida, segundo a SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia). A maioria dos casos é de fácil resolução. Porém ela pode ser sintoma de uma doença reumática crônica.

 

“A maior parte está relacionada a dores musculares ocasionadas por erros de postura e por dormir de mau jeito. Mas alguns casos específicos merecem atenção”, alerta Ari Halpern, coordenador da Comissão Científica da SBR em Coluna Vertebral.

 

O especialista diz que as dores podem atingir indivíduos em qualquer idade (inclusive crianças), mas são recorrentes em idosos. Ele cita alguns exemplos de quando a dor nas costas requer atendimento médico.

 

“Se um idoso começa a ter uma dor nova de repente, se for acompanhada de perda de peso e febre, se ocorrer durante a noite e melhorar durante o dia”, afirma.

 

“Pessoas que tiveram diagnóstico de câncer nos últimos cinco anos e com o sistema imunológico em baixa também devem ficar atentas”, completa.

 

Essas são situações em que a dor nas costas pode ser sintoma de uma doença reumática crônica. Uma delas é a espondilite anquilosante, uma doença inflamatória e autoimune causada por fatores genéticos e externos.

 

“[A dor] começa pelas articulações da coluna, mas também pode afetar outros órgãos, a pele e os olhos”, explica Halpern. Segundo ele, é mais comum que os sintomas apareçam por volta dos 20 anos de idade, mas não é raro que se manifestem em pessoas mais velhas.

 

“Caso não haja tratamento, a espondilite pode causar a perda o movimento das articulações e deformidades”, alerta. O tratamento é feito com remédios específicos, de acordo com recomendação médica.

 

O reumatologista também destaca a estenose do canal lombar, uma doença degenerativa que atinge idosos. “Eles sentem dores somente na hora de andar, então ficam com a capacidade de locomoção diária limitada”, explica.

 

O médico alerta que sentir dor nas costas não é algo normal, mesmo no caso de idosos. “Tem gente que acha que a dor e o fato de não conseguir andar faz parte da idade. Mas não, são patologias da coluna que precisam ser tratadas”, ressalta.

 

Origem

 

Se você nunca sentiu dor nas costas, certamente conhece alguém da família ou algum amigo que já reclamou desse incômodo. A situação foi agravada na pandemia. De acordo com pesquisa da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), 41% dos brasileiros reclamaram do problema.

 

O ortopedista Luciano Miller, que faz parte do corpo clínico do Hospital Albert Einstein e é diretor da Clínica Colunar, explica que as dores nas costas aparecem como consequência da evolução humana. 

 

“Éramos quadrúpedes e viramos bípedes, e a coluna começou a suportar a carga da cabeça até a região lombar. Só que antes vivíamos no campo e fazíamos muitas atividades físicas. Aí, mudamos para as cidades e nos tornamos mais sedentários, perdemos muita musculatura que protegia e equilibrava nossa coluna. Nosso peso também aumentou e, com isso, perdemos os músculos. Perdemos o suporte, e o aumento de peso sobrecarregou ainda mais a coluna vertebral”, diz ele.

 

Não bastassem as questões evolutivas e o sistema de trabalho das pessoas, o médico ressalta que o estresse é mais um fator que piora as dores e aumenta as contraturas musculares. 

 

“Há fatores que também são responsáveis por muitas dores devido a contraturas musculares: as tensões do dia a dia, o trabalho, o trânsito, o medo da violência — isso tudo leva à contratura dos músculos das costas, do trapézio, da cervical, dorsal e lombar e aumenta a dor”.

 

São muitas as causas que agravam as dores, mas é possível diminuí-las, como explica o ortopedista.

 

“Precisamos atacar diretamente os pontos causadores dessas dores: o aumento do peso, a sobrecarga na coluna por passar muito tempo sentado e as tensões do dia a dia”, alerta ele. E acrescenta: “Devemos colocar na nossa rotina a atividade física pelo menos duas ou três vezes por semana para trabalhar a musculatura da coluna; com isso ganhamos suporte muscular e trabalhamos o alongamento. Melhoramos a postura e protegemos a coluna, com o aumento muscular”

 

A questão de ficar sentado o dia todo é possível de ser resolvida de um jeito simples.

 

“O home office tirou também a caminhada na hora do almoço ou durante o dia. Ou seja, deixou a gente mais sedentário e colocou mais pressão na coluna. A cada 30 ou 40 minutos é importante levantar-se, esticar um pouco o corpo para alongar a musculatura e tirar a pressão no disco da coluna e das articulações. É necessário andar um pouquinho e, se possível, fazer um alongamento, mesmo que seja básico”, explica o ortopedista.

 

No dia a dia também se deve prestar atenção na postura. “Por exemplo, ao pegar um peso, em vez de dobrar a coluna para a frente para fazer uma alavanca, a pessoa tem de refletir mais nos joelhos e fazer força também com as pernas, não somente com a coluna”, ressalta o médico.

 

Outra orientação do ortopedista é em relação à hora de dormir. É importante ter um colchão e travesseiros adequados que ajudem a coluna vertebral a estar em bom estado.

 

“O colchão tem de ser adequado ao peso e à altura da pessoa, com densidade correta. Não pode ser muito duro, porque acaba sobrecarregando alguns pontos da coluna, nem muito mole, porque afunda e muda a curvatura da coluna”, ensina Miller. Vale lembrar que o colchão tem prazo de validade e dura entre sete e oito anos.

 

A validade do travesseiro é de três a quatro anos e ele deve ter um tamanho certo: “Deve ir da altura da orelha até a parte lateral do braço”, diz o médico.

 

Tem posição certa para dormir também. “O ideal é dormir de lado, com um travesseiro no meio das pernas. É o que recomendamos, mas depende do sono de cada um; a pessoa acaba mudando de posição”, lamenta o ortopedista.

 

A última dica, mas que merece a mesma atenção de todas as outras, é que a dor nas costas tem hora para acabar. Ela não pode ficar para sempre, sem que a pessoa procure um médico. No caso de idosos, crianças e pessoas que passaram por acidentes, a atenção deve ser ainda maior. 

 

“Dor nas costas associada a perda de força e formigamento nas pernas e dor nas costas associada a perda de peso e febre têm de ser investigadas”, salienta o médico.

 

“Outra coisa muito importante: criança não tem dor nas costas. A coluna da criança é muito elástica, plástica. Criança com dor nas costas tem de ser verificada. Além da dor nas costas que não melhora em idosos acima dos 65 anos, porque aumenta muito o risco de câncer e sabemos que o primeiro local em que há metástase de tumores é a coluna vertebral, que tem de ser bastante avaliada”, finaliza Luciano Miller.

 

Tratamento 

 

Cientistas descobriram que retreinar a forma como as costas e o cérebro se comunicam pode controlar a dor na região. A pesquisa, publicada no Journal of the American Medical Association, acendeu uma nova esperança para as pessoas que convivem com dor crônica nas costas.

 

“O que observamos em nosso estudo foi um efeito clinicamente significativo na intensidade da dor e um efeito clinicamente significativo na incapacidade. As pessoas ficaram mais felizes, relataram que sentiam que suas costas estavam melhor e sua qualidade de vida era melhor. Também parece que esses efeitos foram sustentados ao longo do tempo”, afirma o professor da Escola de Ciências da Saúde da UNSW (University of New South Wales), James McAuley. 

 

O sistema nervoso das pessoas que têm dor crônica nas costas se comporta de maneira diferente daqueles que desenvolvem uma lesão recente na região lombar, segundo as pesquisas nas quais o estudo foi baseado. 

 

“Pessoas com dor nas costas são frequentemente informadas de que suas costas são vulneráveis ​​e precisam de proteção. Isso muda a forma como filtramos e interpretamos as informações das nossas costas e como as movemos. Com o tempo, elas ficam menos em forma e o modo como se comunicam com o cérebro é interrompido, de maneira que parece reforçar a noção de que as costas são vulneráveis ​​e precisam de proteção. O tratamento que idealizamos visa quebrar esse ciclo autossustentável”, diz o professor.

 

As terapias tradicionais procuram, na maioria das vezes, consertar algo nas costas, por exemplo, os meios de “soltar” as articulações ou fortalecer músculos. Já o treinamento idealizado pelos pesquisadores leva em consideração todo o sistema, desde o que as pessoas pensam sobre as suas costas, como costas e cérebro se comunicam, as formas como as costas se movem e até mesmo as predisposições da região.

 

A pesquisa contou com 276 participantes que apresentavam dor lombar crônica por mais de três meses. Os voluntários foram divididos em dois grupos, sendo um de intervenção e o outro de controle.  

 

No primeiro, os pacientes realizaram um curso de 12 semanas focado no retreinamento sensório-motor que, em resumo, alterou a forma como eles pensavam o seu corpo, processavam as informações sensoriais da parte atingida pela dor e o modo como moviam suas costas durantes as atividades. 

 

“Esse tratamento, que inclui módulos e métodos educacionais especialmente projetados e retreinamento sensório-motor, visa corrigir a disfunção que agora sabemos estar envolvida na maioria das dores crônicas nas costas, e isso é uma perturbação no sistema nervoso”, explica o professor da University of South Australia, Lorimer Moseley.

 

A terapia tinha três metas: alinhar a compreensão do paciente com as descobertas científicas mais recentes sobre a causa da dor crônica nas costas, normalizar a forma como as costas e o cérebro se comunicam e treinar o corpo e o cérebro para voltarem a uma relação de proteção comum e com a possibilidade de retomada das atividades habituais.

 

“Achamos que isso lhes dá confiança para buscar uma abordagem de recuperação que treina tanto o corpo quanto o cérebro”, ressalta o professor da Universidade de Notre Dame e diretor clínico do estudo, Ben Wand.

 

O outro grupo também passou por sessões clínicas semanais e treinamentos residenciais durante 12 semanas, mas não houve reeducação de movimentos nem atividade física. O grupo passou por sessões de laser, diatermia nas costas (técnica que estimula a produção de calor) e estimulação cerebral, além de técnicas para controlar os efeitos placebos dos tratamentos.

 

No total, foram necessárias 18 semanas para diminuir de forma significativa a intensidade da dor nos pacientes. 

 

Depois desse período, o grupo que passou pela reeducação relatou uma melhora na qualidade de vida mesmo um ano após o estudo. Apesar de os cientistas ainda considerarem pequena a melhora da intensidade da dor, o novo tratamento estimula a criação de novas terapias que, por exemplo, se concentrem nas costas, como a manipulação espinhal.

 

Os cientistas informaram que poucos tratamentos para a dor lombar demonstram benefícios a longo prazo, mas o presente estudo atingiu o feito de recuperar completamente duas vezes mais pessoas que os demais.

 

Os autores consideram necessárias mais pesquisas para testar o tratamento em diferentes populações e grupos mais específicos. Além disso, os pesquisadores esperam testar essa abordagem em outros tipos de dores. (*com informações do portal R7)

 

Assista a Record TV no Japão ao vivo