Cerca de 25 milhões de crianças estão com as vacinas atrasadas; confira as vacinas oferecidas no Japão

 

 

Texto: Mariana Tokarnia/Agência Brasil 
Foto: ©Fernando Frazão/Agência Brasil

 

 

Em todo o mundo, após dois anos de pandemia, foi registrada a maior queda contínua nas vacinações infantis dos últimos 30 anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Dados divulgados mostram que 25 milhões de crianças estão com as vacinas atrasadas. O Brasil está entre os dez países no mundo com a maior quantidade de crianças com a vacinação atrasada. No Japão, o país tem feito campanhas para lembrar os pais das vacinas preventivas oferecidas pelas prefeituras. Confira no final da matéria as principais aplicadas em crianças e adolescentes.

 

A queda na vacinação é medida pela vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3), usada como marcador de cobertura vacinal. Ao todo, em 2021, são 2 milhões a mais de crianças com atraso vacinal do que eram em 2020 e 6 milhões a mais do que em 2019.  As crianças devem receber três doses da vacina. A porcentagem de crianças que estão com o esquema vacinal completo caiu cinco pontos percentuais entre 2019 e 2021, para 81%. No Brasil, as doses são aplicadas em bebês aos 2, 4 e 6 meses de idade.

 

As organizações mostram que entre as 25 milhões de crianças, 18 milhões não receberam nenhuma dose da vacina e a grande maioria delas vive em países de baixa e média renda, com Índia, Nigéria, Indonésia, Etiópia e Filipinas. Entre os países com os maiores aumentos relativos no número de crianças que não receberam uma única vacina entre 2019 e 2021 estão Mianmar e Moçambique.

 

O Brasil está entre os dez países com mais crianças que não estão em dia com o calendário vacinal. No país, três em cada dez crianças não receberam vacinas necessárias. Isso significa que 70,4% das crianças receberam ao menos a primeira dose da DTP, ou pentavalente, ou seja, aproximadamente 700 mil crianças não receberam nenhuma dose da vacina.

 

“A preocupação é muito real porque as coberturas vacinais não têm aumentado e tem um sério risco de volta de doenças que tinham sido eliminadas ou que eram raridade”, diz a oficial de Saúde do Unicef no Brasil Stephanie Amaral.

 

Segundo Stephanie, um dos motivos para a não vacinação é a falsa percepção de que estamos livres de determinada doença porque são doenças que não aparecem mais, como a poliomielite, ou paralisia infantil, e a coqueluche. “Existe a falsa percepção que a vacina não é necessária, mas é o contrário. Muitas doenças não são vistas e a mortalidade infantil melhorou por causa da vacinação”.

 

Outras vacinas

 

No Brasil, consideradas outras vacinas, como a primeira dose da vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, a cobertura caiu de 93,1% em 2019 para 71,49% em 2021, o que indica que também cerca de 700 mil crianças não receberam essa vacina.

 

No mundo, a cobertura da primeira dose da vacina contra o sarampo caiu para 81% em 2021, também o nível mais baixo desde 2008. Isso significa que 24,7 milhões de crianças perderam a primeira dose dessa vacina em 2021, 5,3 milhões a mais do que em 2019. Outros 14,7 milhões não receberam a segunda dose necessária.

 

Além disso, em comparação com 2019, mais 6,7 milhões de crianças perderam a terceira dose da vacina contra a poliomielite e 3,5 milhões perderam a primeira dose da vacina contra o HPV, que protege as meninas contra o câncer do colo do útero mais tarde na vida. Mais de um quarto da cobertura de vacinas contra o HPV que foi alcançada em 2019 foi perdida. Isso, de acordo com as organizações internacionais, tem graves consequências para a saúde de mulheres e meninas.

 

A queda na vacinação infantil deve-se, de acordo com o estudo, a muitos fatores, incluindo um número crescente de crianças que vivem em ambientes de conflito e de vulnerabilidade, onde o acesso à imunização é muitas vezes desafiador. As organizações apontam ainda como motivos para a queda, o aumento da desinformação e desafios relacionados à covid-19, como interrupções de serviços e da cadeia de suprimentos, desvio de recursos para resposta à pandemia e medidas de prevenção que limitavam o acesso e a disponibilidade do serviço de imunização.

 

Incentivo à vacinação

 

Este retrocesso histórico nas taxas de imunização está acontecendo em um cenário de taxas crescentes de desnutrição aguda grave. “Crianças estão perdendo direitos, direito à saúde, à alimentação adequada. São necessárias medidas e estratégias para evitar isso. Em situação de fome, o sistema imunológico fica fragilizado e, em caso de volta de doença ou de contato com a doença, essas crianças ficam mais suscetíveis a ficarem doentes”, diz Stephanie.

 

A vacinação é importante, segundo o estudo, para prevenir surtos de doenças e prevenir mortes de crianças e adolescentes que seriam evitáveis. Níveis de cobertura inadequados já resultaram em surtos evitáveis de sarampo e poliomielite nos últimos 12 meses.

 

As organizações internacionais recomendam que os governos e demais atores responsáveis pela saúde da população intensifiquem os esforços para a recuperação da vacinação para lidar com o retrocesso na imunização de rotina, expandam os serviços de extensão em áreas carentes para alcançar crianças não vacinadas e implementem campanhas para prevenir surtos.

 

Além disso, recomendam que combatam a desinformação e aumentem a aceitação de vacinas, particularmente entre as comunidades vulneráveis; fortaleçam o investimento em atenção primária a saúde e aumentem o investimento em pesquisas para desenvolver e melhorar vacinas e serviços de imunização.

 

Monitoramento

 

Em nota, o Ministério da Saúde do Brasil diz que monitora atentamente as coberturas vacinais e tem trabalhado para intensificar as estratégias de vacinação.

 

“Nos últimos anos, a Pasta tem promovido as campanhas de multivacinação para a atualização da carteira de vacinação dos brasileiros. As campanhas nacionais de vacinação contra a poliomielite e de multivacinação para atualização da caderneta de vacinação das crianças e adolescentes estão previstas para o segundo semestre de 2022”, afirma.

 

O Ministério da Saúde acrescenta que a meta de cobertura da vacinação contra o sarampo é de 95% e, até o momento, 46,08% do público-alvo recebeu o imunizante.

 

Já a vacina tríplice viral faz parte do calendário de vacinação e é oferecida nas unidades de saúde a qualquer época do ano. De acordo com a pasta, a cobertura vacinal de 2022 será conhecida apenas após a consolidação dos dados de aplicação de imunizantes do primeiro dia de janeiro até o último dia de dezembro.

 

O Ministério da Saúde destaca que, por intermédio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), vem desenvolvendo e intensificando estratégias necessárias para enfrentamento dos desafios e reversão das baixas coberturas vacinais, em parceria com estados e municípios. Além disso, afirma que incentiva a população a se vacinar contra as doenças imunopreveníveis, e esclarece o benefício e segurança das vacinas, por meio dos seus canais oficiais de comunicação.

 

No Japão, as prefeituras, geralmente, enviam lembretes aos pais de acordo com a idade dos filhos cadastrados no sistema. As clínicas e hospitais também alertam os responsáveis quando uma vacina não foi tomada. Abaixo, alguns dos imunizantes mais comuns oferecidos pelas prefeituras.

 

Rotavírus

 

Rotarix: a partir de 6 a 24 semanas de nascimento

・2 doses (com o intervalo de no mínimo 4 semanas em cada dose)

Principalmente, a 1ª dose será aplicada a partir de 2 meses de nascimento até 14 semanas e 6 dias de nascimento.

Rotatech: a partir de 6 a 32 semanas de nascimento

・3 doses (com o intervalo de no mínimo 4 semanas em cada dose)

Principalmente, a 1ª dose será aplicada a partir de 2 meses de nascimento até 14 semanas e 6 dias de nascimento.

 

Hepatite Tipo B

A partir de 2 meses até 1 ano incompleto

・2 doses (com o intervalo de no mínimo 4 semanas em cada dose) 

・1 reforço (com o intervalo de no mínimo 20 semanas após a 1ª dose)

 

Hib (haemophilus influenzae tipo B)

A partir dos 2 meses a 5 anos incompletos

Se a aplicação da vacina iniciar-se com a idade a partir dos 2 a 7 meses incompletos:

・3 doses (com o intervalo de no mínimo 4 semanas em cada dose) 

・1 reforço (com o intervalo de no mínimo 7 meses após a 3ª dose)

 

Pneumocócica Pediátrica

A partir dos 2 meses a 5 anos incompletos

Se a aplicação da vacina iniciar-se com a idade a partir dos 2 a 7 meses incompletos: 

・3 doses (com o intervalo de no mínimo 4 semanas em cada dose) 

・1 reforço (com o intervalo de no mínimo 60 dias após a 3ª dose e somente depois de completar 1 ano de idade)

 

DPT-IPV (diftéria, tétano, coqueluche e poliomielite)

3 meses a 7 anos e 6 meses incompletos

・3 doses (com o intervalo de no mínimo 3 semanas em cada dose)

・1 reforço (a princípio, com o intervalo de no mínimo 12 meses depois da 3ª dose. Contudo, é possível tomar após passar 6 meses depois da 3ª dose)

 

BCG

Até antes de completar 1 ano

・1 dose (a partir dos 5 a 8 meses)

 

MR (sarampo e rubéola)

(1ª fase) 1 a 2 anos incompletos

1 dose

(2ª fase) 5 a 6 anos (durante o ano anterior à 1ª série da escola primária)

1 dose

 

Catapora

1 a 3 anos incompletos

2 doses (com o intervalo de 6 a 12 meses em cada dose. Contudo, é possível tomar após passar 3 meses depois da 1ª dose)

 

Encefalite Japonesa

(1ª fase) 3 a 7 anos e 6 meses incompletos

・2 doses (com o intervalo de no mínimo 1 semana em cada dose)

・1 reforço (com o intervalo de no mínimo 12 meses depois da 2ª dose)

(2ª fase) 9 a 13 anos incompletos

1 dose

 

DT (difteria e tétano)

11 a 13 anos incompletos

1 dose

 

HPV (Papiloma vírus humano)

Mulheres com a idade a partir dos 12 a 16 anos (faixa etária referente à 6ª série do primário até a 1ª série do colegial)

3 doses (no caso de tomar a vacina Cervarix: a 2ª dose deverá ser aplicada após passar um mês depois da 1ª dose; Gardasil: a 2ª dose deverá ser aplicada após passar 2 meses depois da 1ª dose, e a 3ª dose deverá ser após passar 6 meses depois da 1ª dose)

 

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