Em meio à pandemia, sem RG ou CPF, eles não têm acesso a qualquer benefício 

 

O Câmera Record desta segunda, dia 29/06, apresenta os relatos de quem vivem sem documentos, brasileiros que, nos registros oficiais, não existem. Uma população que subitamente se colocou em evidência durante a pandemia: à margem da sociedade, eles não conseguem acessar nenhum tipo de benefício.

 

Os repórteres viajaram pela regiões Sudeste, a mais rica do país, e Nordeste, considerada a mais pobre, para mostrar como é o dia a dia de quem vive às sombras do poder público.

 

Quase três milhões de pessoas não têm sequer um documento no País, segundo o último levantamento do IBGE. Isso significa que elas não existem oficialmente. Nem são reconhecidas como cidadãs.

 

“São invisíveis aos olhares do Estado e até de outras pessoas. Elas não têm referência sobre elas, o que no século XXI, na era da informação, constitui um absurdo completo”, avalia Marcelo Neri, economista da FGV-Rio.

 

Sem Certidão de Nascimento, RG, CPF e Título de Eleitor, são empurradas para condição de indigente. Pois nunca foram à escola e não comemoram aniversário, porque desconhecem o dia que nasceram.

 

Em Serra do Inácio, no Piauí, Genalda Maria de Jesus acha que tem 17 anos. Não tem nenhum documento e os filhos dela também não. Como estão sem registro, a mãe ainda não escolheu o nome completo dos meninos.”Para fazer o registro, eu preciso do meu documento. Só que eu nunca tive”, lamenta.  “Pessoas como Genalda não existem para o mundo cível. Quem não tem documento não pode ser inserido nas políticas públicas de governos. Elas vivem à margem da sociedade, diz Karla Andrade, defensora pública do estado do Piauí.

  

Stephani vive na cidade de São Paulo e também não é documentada. Quando criança, se perdeu nas ruas da capital paulista e encontrou refúgio na Cracolândia, no centro da cidade. Passou dez anos vendendo drogas e se prostituindo em troca de pedras de crack. A partir daí, a jovem passou a existir, mas apenas para o sistema carcerário.

 

“Eu não recebi nenhuma visita, não sabia o endereço da minha casa, não tinha para quem recorrer. O número do RG criminal é o único registro que eu possuo na vida”, revela Stephani.

 

A Certidão de Nascimento é o primeiro passo para comprovar nossa existência. Nela tem informações que vamos carregar para o resto da vida. Por não ter esse documento, Gisele perambula com o namorado pelas ruas da ‘Cidade Maravilhosa’. E se pergunta a todo momento: quem sou eu?

 

A jovem nunca tomou vacina, não sabe ler nem escrever e jamais foi ao médico. Gostaria de sair dessa vida de sofrimento. Arrumar uma casa. Ser reconhecida como pessoa”, espera Gisele. Só no estado do Rio de Janeiro, mais de 24 mil pessoas não têm documentos, segundo o IBGE.

 

E mais: no Instagram do Câmera Record, o repórter Romeu Piccoli preparou um diário de bordo em que mostra os bastidores da viagem da nossa equipe até a Serra do Inácio, no Piauí.

 

No podcast do programa, Piccoli, o repórter Herbert Moraes e o economista Marcelo Neri, da FGV-Rio, analisam a situação de brasileiros invisíveis em estados diferentes.

 

O Câmera Record, apresentado por Sergio Aguiar, vai ao ar às segundas, às 20h00 na Record TV Japan.