Prisão de suspeitos de envolvimento com o grupo terrorista Hezbollah em território brasileiro teve participação da famosa, mas discreta, agência israelense
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Com a ajuda do Mossad, a PF (Polícia Federal) prendeu nesta quarta-feira (8) dois brasileiros por suspeita de ligação com o grupo terrorista libanês Hezbollah, que planejava ataques a alvos judeus no território nacional.
A colaboração entre o Mossad e agentes da PF também permitiu o cumprimento de 11 mandados de busca e apreensão para coletar provas do recrutamento de brasileiros para ações extremistas.
Embora seja o menor dos três serviços de inteligência israelenses, o Mossad é conhecido por operações discretas, mas cinematográficas.
Com a criação do estado de Israel, em 1948, a preocupação do então primeiro-ministro, David Ben-Gurion, com a segurança se intensificou, o que o motivou a montar três agências de inteligência.
Enquanto o foco da Aman é na inteligência militar e o da Shin Bet, em contraespionagem e operações antiterrorismo internas, o Mossad tem atribuições que envolvem atividades secretas fora de Israel, incluindo a proteção de cidadãos israelenses e judeus no exterior e a defesa de interesses nacionais.
Ele foi criado em dezembro de 1949, sob o nome oficial hebraico de ha-Mossad le-Modiin ule-Tafkidim Meyuhadim (O Instituto de Espionagem e Tarefas Especiais).
Esse serviço tem como embrião um camponês palestino dos anos 1930, usado pela brigada judaica para passar informações sobre os hábitos de árabes que viviam na região. Naquela época, a Palestina ainda era uma colônia britânica.
Atualmente, estima-se que a agência tenha em torno de 7.000 funcionários. A estrutura detalhada do Mossad é um segredo de estado, mas são conhecidas algumas de suas subdivisões:
• Caesarea: realiza operações encobertas e ataques;
• Tevel: é responsável pela cooperação com serviços secretos aliados.
• Keshet: coleta informações por meio de vigilância telefônica e arrombamentos;
• Tzomet (a maior de todas): é a divisão que localiza agentes estrangeiros, recruta-os e lida com eles.
Cada divisão é chefiada por um diretor com cargo equivalente a um major-general das FDI (Forças de Defesa de Israel).
Em 2013, o Mossad lançou uma campanha online em busca de homens e mulheres “audaciosos e inteligentes” e que “sonhem com aventuras de risco”. A ação, intitulada “Com inimigos como estes, necessitamos de amigos”, visava recrutar novos agentes e profissionais para missões globais e trabalhos nas instalações em Israel.
Com 60 tipos de trabalho disponíveis, o Mossad destacava a necessidade de coragem, inteligência e habilidade mental e buscava líderes capazes de mobilizar e fascinar pessoas.
Caça a nazistas e polêmicas
A agência, que agora trabalha para evitar que israelenses sejam alvo de terroristas no exterior, ficou conhecida por caçar e capturar nazistas próximos a Adolf Hitler, anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Exemplo disso é o que ocorreu em 1960, na Argentina, quando o Mossad, em missão secreta, capturou o oficial nazista da SS Adolf Eichmann em Buenos Aires.
Os quatro agentes do Mossad o levaram para um esconderijo, onde confirmaram sua identidade. Após 11 dias, ele foi levado clandestinamente, em um avião da El Al, para Israel, e foi julgado e condenado por crimes contra o povo judeu. Eichmann foi enforcado à meia-noite de 1º de junho de 1962.
Entretanto, o Mossad tem um passado recente envolto em polêmicas. Em 19 de janeiro de 2010, um dos líderes do grupo terrorista palestino Hamas, Mahmoud al-Mabhouh, foi encontrado morto na suíte de um luxuoso hotel de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Segundo autoridades dos Emirados, Al-Mabhouh morreu por sufocamento. Logo após a confirmação de que se tratava de um assassinato, a polícia local sugeriu o serviço de inteligência israelense como autor.
Os 11 suspeitos, possivelmente agentes do Mossad, teriam usado passaportes europeus falsos — de pessoas que realmente existem, mas com fotos alteradas.
O episódio criou uma crise diplomática em países como França, Irlanda e Reino Unido, que cobravam explicações de Israel sobre o uso de documentos falsos de seus cidadãos.
Oito anos depois, um assassinato a 7.700 km de Israel voltou a jogar os holofotes em cima do Mossad.
O cientista palestino Fadi al-Batsh, membro do Hamas, foi morto a tiros enquanto caminhava em uma rua de Kuala Lumpur, capital da Malásia, em 21 de abril de 2018.
Na ocasião, Israel o acusava de participação no desenvolvimento do sistema de mísseis do Hamas na Faixa de Gaza.
O Hamas afirmou ter prendido um cidadão palestino que teria colaborado com o Mossad na localização e no assassinato de Fadi al-Batsh.
Em entrevista à emissora de TV Al Jazeera, após o crime, o jornalista investigativo israelense Ronen Bergman, especialista em inteligência israelense e autor do livro Rise and Kill First: the Secret History of Israel’s Targeted Assassinations (Levante-se e mate primeiro: a história secreta dos assassinatos seletivos de Israel, em tradução livre), disse que a execução do palestino na Malásia tinha características de ser de autoria do Mossad.
Israel nunca admitiu envolvimento do seu serviço secreto no caso.