Cerca de 150 caminhões com itens não militares aguardam liberação para acessar Gaza por Rafah, na fronteira com o Egito

 

Foto: Canva

 

Após duas semanas da guerra provocada pelos ataques do grupo terrorista Hamas a Israel, as primeiras ajudas internacionais chegarão à Faixa de Gaza pela fronteira sul do território. Controlada pelo Egito, a passagem de Rafah será o primeiro corredor humanitário estabelecido internacionalmente no conflito.

 


Com a chegada de 20 caminhões, a expectativa é que alimentos, água e remédios passem pela fronteira para auxiliar a população de Gaza. Todavia, nenhum palestino ou estrangeiro poderá deixar o enclave — incluindo o grupo de palestinos-brasileiros que aguarda para ser trazido ao Brasil por um avião da FAB (Força Aérea Brasileira).

 

 

Apesar do nome, especialistas explicaram ao R7 que um corredor humanitário não envolve necessariamente a retirada de alguma população ou a passagem de pessoas afetadas por uma guerra.

 

 

Segundo Rodrigo Gallo, coordenador do curso de política e relações internacionais da FespSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) e de graduação do Instituto Mauá de Tecnologia, não existe um conceito fechado para a utilização do termo.

 


“O formato do corredor humanitário, digamos assim, depende dos acordos firmados entre as partes envolvidas. Há princípios do direito internacional e do direito de guerra que falam sobre a necessidade de proteger a vida dos civis, mas não exatamente sobre um formato-padrão para corredores humanitários”, conta Gallo.

 

 

James Onnig, professor de geopolítica do Laboratório de Pesquisas em Relações Internacionais da Facamp (Faculdades de Campinas), ressalta que, além dos países envolvidos no conflito, Estados terceiros e organizações internacionais podem interceder pelos corredores.

 


“As partes em conflito podem aceitar a mediação de um terceiro país, a mediação de uma organização internacional, como a Cruz Vermelha. Isso também pode acontecer no caso do estabelecimento de corredores humanitários”, explica Onnig.

 

Em Kiev e Moscou

 


O termo corredor humanitário foi bastante mencionado há pouco tempo, durante o início da guerra entre Kiev e Moscou, quando milhões de ucranianos fugiram do país usando a fronteira com a Polônia. Pelo local também entraram alimentos, remédios e outros itens para a sobrevivência de civis.

 


Para garantir a segurança de quem se desloca pelo corredor humanitário, as rotas traçadas durante o acordo se tornam desmilitarizadas. Ou seja, ataques como bombardeios ou emboscadas são proibidos. Entretanto, nem sempre esse pacto é cumprido.

 


“Quando se abre um corredor humanitário, você também passa a ter enormes riscos. Por exemplo, quando se pode passar por uma estrada específica, a gente não sabe se vai ter um comboio de pessoas que vai cair em uma armadilha, ser perseguido… Então é muito arriscado também tirar as pessoas”, explica Onnig.

 


Após aberto, o corredor humanitário costuma ter um período para fechar. Esse intervalo de tempo é que constitui o cessar-fogo naquela região específica entre os envolvidos na guerra.

 


“Pode-se alegar que um corredor humanitário pode ser aberto para que comida e água cheguem a um território, mesmo que a população não seja evacuada. Até porque, muitas vezes, remover uma grande quantidade de pessoas de uma zona de conflito é uma operação complexa e arriscada”, afirma Gallo.

 

Desafios de um corredor humanitário

 


Atualmente, 2,4 milhões de pessoas vivem na Faixa de Gaza. Ao menos 500 mil pessoas deixaram a fronteira norte do enclave e se dirigiram ao sul, região mais próxima ao Egito, após o pedido de evacuação feito por Israel.

 


Apesar de o ideal ser a abertura de um corredor humanitário pelo qual a população da Faixa de Gaza possa deixar a região, tanto Gallo quanto Onnig explicam que o fluxo simultâneo e súbito de milhões de pessoas pode acarretar outros problemas.

 


“Deslocar uma população, por mais que possa parecer a melhor solução nesses casos, exige cuidados logísticos muito grandes. Nem sempre é possível criar essas condições em tão pouco tempo”, reforça Gallo.

 


“Os corredores que tiram pessoas são corredores humanitários que vão criar um segundo problema, que são os refugiados. Então não termina o problema. Chamar um corredor de humanitário é também aceitar a entrada de ajuda e não somente a saída de população”, conclui Onnig.

 

 

 

 

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