Popularizada em filmes como ‘Lucy’ e ‘Sem Limites’, informação é falsa, já que humanos usam mais do que isso até quando dormem
Você já deve ter ouvido falar que usamos apenas 10% da nossa capacidade cerebral. Embora seja uma teoria interessante, que nos dá a impressão de que um dia poderemos usar os outros 90%, a informação é falsa, segundo Paulo Jubilut, biólogo e professor do cursinho preparatório Aprova Total.
Ele lembra que diversos filmes já trataram do tema, como Lucy, de 2014, com Scarlett Johansson, e Sem Limites, de 2011, em que os personagens passam a utilizar toda a capacidade cerebral e se tornam super-humanos. Porém, na vida real, biologicamente os seres humanos utilizam toda a capacidade do seu cérebro, inclusive enquanto estão dormindo.
Mas de onde surgiu essa lenda? Para Jubilut, que possui mais de 3 milhões de seguidores em seu canal no YouTube, a explicação é confusa. “Não sabemos se essa falsa afirmação quer dizer que, a cada dez células cerebrais, apenas uma funciona. Ou se somente um décimo da massa do cérebro é ativa. Mas nenhuma dessas hipóteses está correta”, afirma.
Com uma técnica chamada ressonância magnética funcional, os cientistas conseguem identificar quais partes do cérebro são ativadas quando uma pessoa faz ou pensa algo, por exemplo.
Esses exames revelam que ações simples, como abrir e fechar as mãos, precisam da atividade de muito mais do que 10% das regiões do cérebro. “Até durante o sono usamos mais de 10% das regiões do cérebro”, informa Jubilut.
O mito pode significar também que apenas um em cada dez neurônios do cérebro é funcional. No entanto, mesmo que os neurônios não estejam disparando potenciais de ação, ainda podem estar recebendo sinais de outros neurônios, servindo como uma espécie de ponte entre um neurônio e outro. Ou seja, estão ativos. Nosso corpo não permite que as células do cérebro fiquem ociosas, pois elas são muito valiosas.
Então já atingimos 100% da nossa capacidade cerebral? Depende. Se isso for entendido como atividade dos neurônios, a resposta é sim. Mas não quer dizer que não podemos melhorar nosso desempenho cerebral.
Hábitos saudáveis, boa alimentação, praticar exercícios e ter um bom sono melhoram muito a nossa capacidade de aprender novas habilidades, mesmo com 100% do cérebro funcionando, afirma Jubilut.
“Por exemplo, quem começa a tocar um instrumento musical aumenta a atividade do corpo caloso, que é a ponte que liga os dois hemisférios do cérebro, permitindo que as informações circulem mais rapidamente e com rotas mais variadas. Isso ajuda os músicos a desenvolverem uma memória melhor”, afirma o professor.
Ele explica ainda que o nosso cérebro tem a capacidade de reorganizar suas conexões em situações em que somos expostos a estímulos sensoriais diferentes, como, por exemplo, quando mudamos algum hábito ou sofremos algum dano na estrutura cerebral.
“Na verdade, o cérebro está sempre se renovando e se reestruturando. Portanto, sim, é possível ficar mais inteligente. Mas o aumento do aprendizado está baseado no aumento das conexões neuronais, quando estimulamos o cérebro.”