Ao fazer o tratamento adequado, 95% dos pacientes são considerados indetectáveis e não transmitem o HIV por via sexual

 

 

 

Texto: Redação/Agência Brasil
Foto: Paulo Giacomini vive com HIV e está chegando aos 60 anos de idade –  ©RV Brasil/Caminhos da Reportagem

 

 

 

Quarenta anos depois do primeiro caso confirmado de síndrome da imunodeficiência adquirida (aids), a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu metas para acabar com a epidemia da doença até 2030. 

 

O infectologista Ricardo Diaz acredita que temos os instrumentos para ver o desaparecimento de uma epidemia global e avançamos rapidamente para isso. Ariadne Ribeiro, assessora de apoio comunitário do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), criado em 1996 para criar soluções e ajudar nações no combate à aids,  afirma que a instituição sonha em eliminar a doença, porque, se todas as pessoas vivendo com HIV tiverem seus tratamentos e quebrarem a cadeia de transmissão, não teremos novas infecções nem pessoas morrendo em decorrência da doença. Segundo o secretário de Vigilância à Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, o Brasil está caminhando para alcançar essa meta, classificada como ousada, mas possível.

 

Cazuza foi um dos primeiros artistas a falar publicamente sobre a aids. A mãe do cantor, Lucinha Araújo, acredita que ele deixou, além de belas canções, a coragem de enfrentar a doença. “Ele falou ‘Mamãe, quem canta Brasil mostra a sua cara não pode esconder a sua em um momento como esse’. E ele serviu também de exemplo para milhões de soropositivos mostrarem as suas caras”, explicou.

 

O jornalista Paulo Giacomini vive com HIV e está chegando aos 60 anos de idade. Ele afirma ser uma idade que nunca imaginou alcançar. “Para mim, é muito difícil chegar nessa idade e é muito difícil chegar com aids nessa idade. Eu tinha sonhos que eu tive que enterrar. Por muitos anos, eu fiquei esperando a morte”. Paulo faz acompanhamento de saúde no Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS de São Paulo.

 

A médica infectologista Rosa de Alencar é diretora adjunta do centro e explica que, quando a quantidade de vírus no organismo de uma pessoa está abaixo do nível que o exame consegue detectar, a carga viral se torna indetectável. “Quando acontece isso, se a pessoa está tomando remédio de forma regular, ela não transmite mais o vírus. Hoje, o tratamento é também uma forma de prevenção”. Ariadne Ribeiro lembra que a aids acontece em decorrência do não tratamento do HIV. “Quando a carga viral de um indivíduo está indetectável, o vírus que existe dentro dessa pessoa não tem força para transmitir. Então, a gente quebra a cadeia de transmissão e, quebrando a cadeia de transmissão, a gente elimina a aids”.

 

No Brasil, 694 mil pessoas estão em tratamento e, ao fazerem tratamento, 95% delas são consideradas indetectáveis e não transmitem o HIV por via sexual. É o caso da escritora Thais Renovatto. Vivendo com HIV, ela conta que, depois que começou o tratamento e ficou na condição de indetectável, percebeu que havia uma doença biológica e uma doença social, por conta do preconceito e da desinformação. A escritora diz que algumas pessoas reclamam quando ela fala do HIV de maneira leve. “Não estou banalizando a doença, mas, na minha ótica, hoje, dá para se viver muito bem e há muitas pessoas que vivem muito bem e que se escondem muito mais pelo estigma do que pela doença em si”.

 

O tratamento e as formas de prevenção evoluíram muito nos últimos 40 anos. Especialistas citam a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) como ferramentas de impacto no controle da transmissão do HIV. E, enquanto cientistas tentam achar a cura definitiva para a aids e a ONU aposta que, com os tratamentos disponíveis, a doença pode deixar de ser um problema de saúde pública em 2030, estudos clínicos para o desenvolvimento de uma vacina são realizados em todo o mundo.

 

Um deles é o Projeto Mosaico, realizado no Hospital Emílio Ribas. Thiago Storari, estudante de direito, não tem HIV e é voluntário da pesquisa. Ele conta que uma das motivações para fazer parte do estudo foi o fato de ter perdido um tio em decorrência da aids. “No dia que foi confirmado que eu ia fazer parte do estudo, eu mandei no grupo da família e minha tia falou: ‘Que coisa gostosa saber que meu irmão morreu por conta desse vírus e, hoje, o meu sobrinho tem a chance de ajudar a ciência a desenvolver um passo importante na prevenção contra o HIV”.