O Brasil só perde para o Japão, onde 70% da população sente os efeitos do esgotamento profissional

 

 

 

Texto: Redação/Agência Brasil
Foto: AdobeStock

 

 

 

 

Uma síndrome específica do mundo do trabalho, que é resultado de níveis devastadores de estresse: trata-se da síndrome de burnout. O termo, traduzido do inglês, significa queimar completamente. 

 

O diagnóstico de burnout surgiu, pela primeira vez, em 1974 e, desde então, atinge cada vez mais pessoas. No Brasil, estima-se que 32% da população sofre com a síndrome. O país só perde para o Japão, onde 70% da população sente os efeitos do esgotamento profissional.

 

O psicanalista e professor da USP, Christian Dunker, explica que o burnout não acontece porque você passou um fim de semana sem dormir para entregar um projeto. “Quando você passa meses, quando você entra em anos fazendo isso, você começa a se arriscar a ter uma espécie de pane geral”, diz ele.

 

Foi o que aconteceu com Duly Mittelstedt. Trabalhando sem parar como pianista e professora de piano, Duly diz que um dia o cérebro dela cansou de decodificar sons. Ela não conseguia ouvir nada. Precisou parar, fez musicoterapia e mudou o ritmo de vida para se recuperar.

 

A jornalista Izabella Camargo corria contra o tempo para dar conta de todas as funções. Descobriu que estava com burnout depois de passar por cinco especialistas para tratar 25 sintomas. Quando voltou da licença médica, foi demitida. Hoje ela dá palestras de prevenção ao estresse no trabalho e tem uma vida mais equilibrada.

 

Em 2022, por determinação da Organização Mundial da Saúde, o burnout passa a fazer parte da nova Classificação Internacional de Doenças. O que, de acordo com Ana Maria Rossi, psicóloga e presidente do ISMA Brasil, trará muitos benefícios. “Em primeiro lugar, para o empregado, para o trabalhador, que poderá subsidiar essa queixa de burnout, que hoje em dia ainda é muito superficial, ela não tem um embasamento legal”, explica Ana Maria.

 

Pandemia

 

A pandemia aumentou o número de pessoas no limite do estresse. Um levantamento do portal de saúde Pebmed mostrou que 83% dos médicos da linha de frente sofreram de burnout. O teletrabalho também piorou a situação de outros trabalhadores. As vidas pessoal e profissional acabaram se fundindo, o que levou muitas pessoas a fazerem jornadas mais extensas.

 

Segundo a coordenadora nacional de Igualdade, do Ministério Público do Trabalho, Adriane Reis, essa nova realidade atingiu ainda mais as mulheres. “Como no Brasil nós temos uma sociedade patriarcal em que a mulher ainda é vista como a responsável pelos cuidados familiares e, nesse momento pandêmico, houve fechamento de escolas, ficou muito mais complicado para as mulheres conseguirem compatibilizar a jornada profissional e a jornada familiar.”, ressalta.

 

O diagnóstico da síndrome ainda é um desafio, já que muitos sintomas são similares aos da ansiedade e da depressão. Medicamentos para as duas doenças são, inclusive, usados no tratamento. Mas pesquisadores avaliam o efeito do canabidiol para os casos de burnout.

 

Quem já passou por isso diz que medicamentos e terapias não são suficientes sozinhos. “Não adianta você tomar remédio, fazer terapia e continuar no ambiente estressor. Ou não adianta o ambiente mudar e você continuar com comportamentos nocivos para a sua saúde. Não tem problema nenhum você vestir a camisa da sua empresa, desde que você também vista o seu pijama, desde que você também vista uma roupa para fazer uma atividade física, desde que você também vista para uma atividade de lazer.”, resume Izabella Camargo.