“A humanidade está brincando com uma arma carregada” à medida que crises com potencial para um desastre nuclear proliferam em todo o mundo, alertou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres

 

 

Texto: Redação/Record TV Japan
Foto: AdobeStock

 

 

“Pensem nas crianças mudas, telepáticas. Pensem nas meninas cegas, inexatas. Pensem nas mulheres rotas, alteradas. Pensem nas feridas como rosas cálidas …”

 

Os versos são do poeta brasileiro Vinícius de Moraes, que também foi diplomata. Anos depois, Gerson Conrad musicou. Você certamente já ouviu essas palavras com a banda Secos e Molhados.

 

A música faz referência a um dos episódios mais incrédulos da humanidade, a bomba atômica que destruiu a cidade que era base militar japonesa, Hiroshima, no dia 6 de agosto de 1945, durante a Segunda Guerra Mundial.

 

Três dias depois, mais um ataque nuclear destruiria outro alvo, a cidade Nagazaki. Mas o Japão só se renderia e daria fim à guerra no dia 2 de setembro de 1945. 

 

Hiroshima marcou hoje o 77º aniversário do bombardeio atômico pelos Estados Unidos, em meio a crescentes preocupações no Japão e em outros lugares sobre as repetidas sugestões da Rússia de que pode recorrer a armas nucleares em sua guerra contra a Ucrânia.

 

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, se tornou o primeiro chefe da Organização das Nações Unidas (ONU) a participar da cerimônia anual no Parque Memorial da Paz, perto do marco zero, desde que seu antecessor Ban Ki Moon o fez em 2010.

 

“A humanidade está brincando com uma arma carregada” à medida que crises com potencial para um desastre nuclear proliferam em todo o mundo, disse Guterres, em Hiroshima. Ele alertou sobre o risco representado pelas crises na Ucrânia, no Oriente Médio e na península coreana ao descrever os horrores sofridos pela cidade japonesa.

 

“Dezenas de milhares de pessoas foram mortas nesta cidade em um piscar de olhos. Mulheres, crianças e homens foram incinerados em um incêndio infernal”, disse ele.

 

Os sobreviventes foram “amaldiçoados com um legado radioativo” de câncer e outros problemas de saúde.

 

Cerimônia

 

Um momento de silêncio foi feito às 8h15, momento exato em que uma bomba de urânio lançada de um bombardeiro americano detonou sobre a cidade em 6 de agosto de 1945, matando cerca de 140.000 pessoas até o final do ano.

 

A cerimônia contou com a presença de representantes de um recorde de 101 nações e da União Europeia, enquanto a Rússia e a Bielorrússia, que está ajudando Moscou na guerra da Ucrânia, não foram convidados.

 

Em um discurso, o prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, citou Leo Tolstoy, o autor russo de “Guerra e Paz”, dizendo: “Nunca construa sua felicidade sobre o infortúnio dos outros, pois somente na felicidade deles você pode encontrar a sua”.

 

A cerimônia deste ano foi em maior escala do que a do ano passado, embora ainda reduzida em termos de número de participantes, pois as restrições para conter a disseminação do COVID-19 foram atenuadas em todo o país.

 

Bomba atômica – Foto: US ARMY/Direitos Reservados

Três dias depois que a bomba apelidada de “Little Boy” dizimou Hiroshima, uma segunda bomba atômica foi lançada sobre Nagasaki. Seguiu-se então a rendição do Japão às forças aliadas seis dias depois, marcando o fim da Segunda Guerra Mundial.

 

O número combinado de sobreviventes oficialmente reconhecidos dos dois ataques nucleares, conhecidos como hibakusha, era de 118.935 em março, uma queda de 8.820 em relação ao ano anterior, disse o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar. A média de idade foi de 84,53 anos.

 

Hiroshima sediará uma reunião de cúpula do Grupo das Sete nações industrializadas em maio próximo, e o Japão pretende enviar uma mensagem de paz após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

 

Reconstrução

 

Hoje, 75 anos depois do bombardeio, Hiroshima está reconstruída. Tornou-se uma das cidades mais modernas e desenvolvidas do Japão.

 

O Memorial da Paz de Hiroshima foi construído para não deixar que o mundo se esqueça do que uma bomba atômica é capaz.

 

A Guerra

 

Aeronave B-29, apelidada de Enola Gay – Foto: Governo dos Estados Unidos da América

A Segunda Guerra Mundial começou quando a Alemanha invadiu a Polônia em 1939 e terminou com a rendição do Japão em 1945.

 

De um lado os Aliados (grupo liderado por Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética) e do outro lado o Eixo (formado principalmente por Alemanha, Itália e Japão).

 

Os Estados Unidos atacaram o Japão no dia 6 de agosto de 1945, às 8h15. Alguns historiadores dizem que foi um revide ao ataque dos japoneses à base militar norte-americana em Pearl Harbor, no Havaí, em 1941.

 

Doma de Hiroshima antes e depois da bomba atômica – Foto: Arquivo

O primeiro avião norte-americano tinha a missão de checar as condições climáticas de Hiroshima.

 

O segundo avião (modelo B-29), pilotado por Paul Tibbets, tinha a missão de jogar a bomba. A aeronave foi batizada pelo piloto como Enola Gay, nome de sua mãe. A bomba recebeu o apelido de Little Boy (pequena criança).

 

O terceiro avião fotografou a explosão da bomba.

 

A bomba explodiu a 600 metros do chão. Causou danos num raio de 5 quilômetros. Apenas a Doma de Hiroshima ficou de pé, onde hoje é o Memorial da Paz de Hiroshima. Cerca de 70 mil pessoas morreram imediatamente depois do ataque por queimadura e envenenamento após a explosão.

 

 

Confira dez filmes sobre a bomba atômica e o Japão na Segunda Guerra

 

1 – Hiroshima mon Amour (Alan Resnais – 1959)

2 – Black Rain – A Coragem de uma Raça (Shôhei Imamura-1989)

3- Gembaku no ko – Filhos de Hiroshima (Kaneto Shindo -1952)

4- Rapsódia em Agosto (Akira Kurosawa – 1991)

5- Início do Fim (Roland Joffé – 1989)

6- Cartas de Iwo Jima (Clint Eastwood – 2006)

7 – A Conquista da Honra (Clint Eastwood – 2006)

8 – Império do Sol (Steven Spielberg – 1987)

9- Túmulo dos Vagalumes (Isao Takahata – 1988)

10 – Furyo, em Nome da Honra (Nagisa Ōshima – 1983)

 

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