Existem muitas dicas para quem sofre do problema, como comer natto, fazer massagem nos dedos ou simplesmente tomar remédios

 

 

 

Texto: Gilberto Yoshinaga/Record TV Japan
Foto: AdobeStock

 

 

Irritação nos olhos e nariz, crises de espirros, escorrimento nasal e, para os mais sensíveis, até mesmo dores de cabeça e falta de ar, entre outros sintomas. Para muitas pessoas, a chegada da primavera japonesa, iniciada oficialmente no dia 21 de março, traz as inconveniências da polinose (alergia a pólen), conhecida no arquipélago como “kafunsho”.

 

Estudos indicam que, no Japão, a polinose seja causada por cerca de 60 tipos de pólen – as vegetações mais “vilãs” são o cedro (sugi) e o cipreste (hinoki). Estima-se que um em cada quatro habitantes do Japão desenvolva a alergia de alguma forma – ou seja, cerca de 30 milhões de pessoas. 

 

Mas como partículas tão minúsculas, praticamente invisíveis, podem transformar uma estação do ano tão bonita, sobretudo no país das flores de cerejeiras (sakura), em meses de pura irritação? Existe alguma maneira de as vítimas dessa desagradável alergia se precaverem ou amenizarem o sofrimento causado por ela?

 

Presidente da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), o médico Renato Roithmann define a polinose como um tipo de rinite alérgica provocada por gramíneas de alguns tipos de pólen. “Muitas pessoas têm alterações anatômicas intranasais que coexistem com a rinite alérgica e complicam as coisas. Uma pessoa com rinite alérgica ao pólen das gramíneas apresenta uma reação exagerada do organismo quando inala o mesmo pelo nariz”, esclarece. 

 

De acordo com Roithmann, o pólen é chamado de antígeno, que provoca em pessoas sensíveis a reação de anticorpos específicos. “Dessa ‘briga’ surgem os sintomas clássicos que observamos: espirros em repetição, coceira no nariz e nos olhos, escorrimento de água transparente pelas duas narinas e congestão nasal”, enumera.

 

Massagem ‘milagrosa’

 

Fabio Iwase conseguiu se livrar da alergia com massagem e comendo natto – Foto: Arquivo pessoal/Cedida

Morador de Tsu (Mie), Fábio Renato Iwase Pedro, 43 anos, está no Japão há 26, dos quais pelo menos 10 representaram muito sofrimento sempre que a primavera chegava. “Procurei ajuda médica, mas não resolveu. Apenas aliviava os sintomas com medicamentos antialérgicos”, lembra. Certa vez, conta ele, encontrou em um vídeo a recomendação de fazer massagens nos dedos, em pontos próximos das unhas, para resolver o problema. A técnica funcionou e ele garante que não sofre mais com o kafunsho há quatro anos – sem precisar recorrer a médicos ou remédios.

 

Além da massagem milagrosa, Pedro também associa seu êxito contra a polinose ao consumo constante de “natto” (soja fermentada). “Apliquei a massagem e comi natto regularmente, durante dois anos, praticamente todos os dias. Desde então, não tive mais problemas, resolveu completamente”, garante. “Este é o quarto ano consecutivo em que não preciso de medicamentos para aliviar os sintomas da alergia ao pólen. É claro que isso se associa com uma alimentação boa e exercícios físicos, como vi em alguns artigos sobre o assunto.” 

 

Vacina

 

“Eu tenho a alergia em grau agudo, então desenvolvo todos os sintomas: crises de espirros, irritação e coceira no nariz e nos olhos e falta de ar”, conta Diego Cipriano, 36 anos, morador de Inazawa (Aichi), que vive no Japão há 15 anos e começou a sofrer com o kafunsho em 2013. “Eu costumava sentir mais entre janeiro e maio, mas a fase mais crítica era entre março e abril. Nos períodos mais agudos, chegava a ter de faltar ao trabalho por conta desses efeitos”, lembra.

 

Diego não sofre mais do problema depois que descobriu que há uma vacina – Foto: Arquivo pessoal/Cedida

Depois de muito sofrer com medicamentos e tratamentos médicos que não surtiam o efeito desejado, Cipriano encontrou uma solução somente no ano passado, quando descobriu a existência de uma vacina contra a polinose. “Sofri muito por sete anos. Passei por todo tipo de médico, vários medicamentos prescritos por profissionais ou disponíveis em farmácia, e nada resolvia”, conta. “No ano passado, consegui encontrar uma rara clínica que aplica essa vacina e isso me devolveu a vida. Em apenas 30 minutos após ela ser aplicada, a alergia começa a sumir, tudo começa a melhorar e a rotina volta ao normal.” 

 

Com o “milagre” da vacina, o fotógrafo, que também pratica ciclismo, não apenas viu cessar o sofrimento que a polinose lhe acarretava, como também pôde voltar a pedalar. “Fui atleta no Brasil e não conseguia voltar a praticar por conta da alergia. Graças à vacina, voltei à ativa e, hoje, faço parte de um grupo de atletas amadores”, comemora. “Infelizmente, são raríssimas as clínicas que a aplicam a vacina, que custa 3.300 ienes e tem duração de um ano. Mas ela resolve de forma quase milagrosa.”

 

Dicas médicas

 

Roithmann, especialista em otorrinolaringologia, explica que realizar um exame intranasal é muito importante em qualquer caso e existem três formas importantes de tratamento contra a polinose. “O primeiro, e mais importante, é o controle do ambiente onde se vive. Ou seja, quanto mais a pessoa impedir o contato com o pólen das gramíneas, menores serão os sintomas. Manter as janelas da casa fechadas, por exemplo, é uma excelente medida. O uso de máscaras também ajuda muito quando o contato for inevitável. Também é indicado lavar as roupas com água quente”, recomenda, ao comentar que, durante a primavera, muitos japoneses sensíveis ao kafunsho optam por secar as roupas dentro de suas residências.

 

O médico Renato Roithmann conta que há três formas de tratamento da polinose – Foto: Divulgação

A segunda forma de tratamento, diz ele, é o medicamentoso. “Existem medicamentos tanto para os olhos como para o nariz que podem ser utilizados e ajudam muito. Seu uso pode ser diariamente na primavera, de forma contínua, mesmo na ausência de sintomas, pois atuam também preventivamente”, orienta o médico, ao citar sprays nasais à base de anti-histamínicos e corticoides tópicos. “Além disso, existem medicamentos de uso oral, como os anti-histamínicos mais modernos, que não resultam em sono como efeito secundário e também podem ser usados de forma preventiva ou como tratamento de sintomas. Todos esses medicamentos devem ser receitados por um médico após avaliação e exame do paciente.”

 

A terceira forma de tratamento indicada pelo presidente da ABORL-CCF é a imunoterapia. “São vacinas que podem ser indicadas após exames específicos feitos pelo médico especialista, no sentido de formar anticorpos protetores e que também ajudam muito os pacientes”, explica. “É importante frisar que a dessensibilização por vacinas é um processo que deve ter indicação e supervisão de um médico especialista”, finaliza.   

 

Assista a Record TV no Japão ao vivo