Há mais de 60 anos, ação fornece suporte às escolas japonesas na aquisição de equipamentos escolares e material didático
Texto: Ewerthon Tobace/Record TV Japan
Minoru Kaneda, Eduardo Saboia e Ricardo Okino no lançamento da campanha – Foto: Divulgação
Para sair da crise econômica e social que se instalou no Japão pós-guerra, o país passou a fazer um grande investimento na educação. Por isso, em 1960 surgiu um movimento de apoio educacional, que tinha como objetivo arrecadar recursos para equipar as escolas japonesas. Começava aí a campanha Bellmark. Empresas passaram a imprimir em seus produtos um selo em forma de sino (daí o nome, que vem do inglês, “marca de sino”) que se tornou muito popular e continua até os dias de hoje. A novidade é que as escolas brasileiras também passaram a fazer parte do projeto e, ao juntar os selos, elas podem receber ajuda financeira.
Estas estampas têm valores diferentes de acordo com a cor. Elas são coletadas e depositadas em caixas espalhadas por todo o país. É como se fosse uma espécie de “programa de pontos”. Então, qualquer pessoa, ao comprar um produto – encontrado em supermercados e lojas de conveniência – com o selo Bellmark deve recortá-lo da embalagem e depositá-lo em recipientes de coleta. Para facilitar a visualização destas caixinhas, a Mauricio de Sousa Produções entrou na campanha e criou material visual com a personagem Mônica. Depois de juntar os selos, a escola os envia à Fundação Bellmark e eles são convertidos em material e equipamento escolar para as crianças das escolas beneficiadas.
É uma campanha de sucesso no Japão. As empresas participantes – cerca de 50 em todo o país – aumentam as vendas dos produtos, a Fundação Bellmark se ocupa de gerenciar a coleta de selos, recebendo uma pequena porcentagem das doações para custear suas atividades, e por fim as escolas recebem doações das empresas participantes, proporcionais aos selos recolhidos.
A Aioi Nissay Dowa Insurance, coordenadora desta edição, contatou a Embaixada do Brasil em Tóquio e solicitou o apoio ao projeto, que começou de forma experimental com as instituições de ensino brasileiras da província de Shiga (Colégio Sant’Ana, Colégio Sunfamily e Colégio Latino do Japão). Mas ela vai se estender a todas as 36 escolas brasileiras espalhadas pelo arquipélago.
“A nossa empresa busca estabelecer uma relação próxima com a comunidade local, e fazemos isso em colaboração com as administrações públicas, empresas e organizações locais”, conta Minoru Kaneda, diretor executivo da Aioi Nissay Dowa Insurance. Ele explica que a ideia nasceu em abril de 2016, em resposta ao movimento de ‘revitalização regional’ que está se expandindo pelo país. “Atualmente, temos acordos de cooperação com mais de 360 municipalidades por todo o país, nos quais fornecemos suporte para solução de diversos problemas enfrentados pelas administrações públicas locais”, detalha. Dentro deste contexto, a campanha Bellmark voltada às escolas brasileiras no Japão, faz parte das iniciativas de revitalização regional e convivência multicultural.
A coleta dos selos Bellmark se iniciou no Japão em 1960. Atualmente, a atividade faz parte da maioria das escolas primárias do país. Já entre as escolas brasileiras no Japão, a campanha não é muito conhecida. “Nossa intenção é difundir as atividades de recolha coleta dos selos”, diz Kaneda.
O embaixador do Brasil no Japão, Eduardo Paes Saboia, lembra que a integração dos imigrantes brasileiros no Japão com a sociedade japonesa, sem a perda de suas raízes e seus laços com o Brasil, é um dos temas prioritários da Embaixada. “Consideramos esses objetivos harmônicos e interdependentes. Para isso, o apoio à educação é fundamental. Através dos estudos, nossas crianças podem realizar suas verdadeiras vocações, contribuindo tanto para o Japão quanto o Brasil como cidadãos pontes, capazes de fortificar os laços históricos de amizade entre nossas nações”, justifica.
Por isso, o diplomata não esconde a alegria ao saber da inclusão das escolas brasileiras na tradicional campanha da Bellmark. “Que juntos possamos criar um futuro cada vez melhor para nossas crianças”, fala. O cônsul-geral do Brasil em Nagoia (Aichi), Luís Abbot Galvão, concorda. “A iniciativa certamente contribuirá para favorecer a interação e a cooperação entre japoneses e brasileiros, facilitando a inserção dos jovens brasileiros na sociedade local”, comenta.
Já Ricardo Okino, diretor da Mauricio de Sousa Productions Japan, lembra que a Mauricio de Sousa Produções tem como uma de suas filosofias corporativas a realização de atividades de apoio à promoção da convivência multicultural. “Temos realizado, por exemplo, com o apoio de várias partes, um projeto social de apresentação, por meio de gibis (mangás) e animes, dos aspectos sociais, culturais e de costumes de vários destinos do mundo para os que vão residir nesses locais e seus familiares”, revela.
Para Okino, é uma grande honra que a Mônica, que é a personagem principal da obra do quadrinista brasileiro Maurício de Sousa, seja adotada como a personagem símbolo da campanha Bellmark voltada às escolas brasileiras no Japão. “Esperamos que essa iniciativa possa contribuir para melhorar ainda mais a divulgação e a conscientização sobre a campanha Bellmark”, comenta.