Mudanças demográficas, falta de mão de obra especializada e necessidade de fomentar novos negócios impulsionam essa iniciativa 

 

 

 

Texto: Redação/Record TV Japan
Foto: AdobeStock

 

 

 

Há décadas, países desenvolvidos incentivam e promovem programas de imigração. O Japão, país que sofre com a falta de mão de obra e que vê, a cada ano, o número de nascimentos cair e a população diminuir, vem discutindo uma abertura maior para trabalhadores estrangeiros. Outros países desenvolvidos passam pelo mesmo problema. Seja por causa da grande extensão territorial pouco povoada, seja pelo envelhecimento acelerado da população ou pelo efeito colateral da pandemia, diversos países estão abrindo suas portas para a imigração, abrindo oportunidade para quem quer mudar de vida.

 

O clássico dos imigrantes continua sendo os Estados Unidos, que estão interessados no talento, na força de trabalho e na capacidade de investimento de estrangeiros, contanto que atendam às exigências do governo. Mas Canadá, com o segundo maior território do mundo e apenas 37 milhões de habitante, é um dos encabeçam a lista de interessados em receber gente para fixar residência por lá. A ideia do governo é admitir mais de 1,2 milhão de moradores até o ano que vem, 2023. Para isso, há atualmente cerca de 60 programas de auxílio a estrangeiros. 

 

Outro destino é a Finlândia, que criou o Helsinki Business Hub, uma agência de promoção de investimentos destinada a atrair imigrantes. Os interessados passam por um processo seletivo, que inclui um período de experiência de noventa dias na capital. Portugal é outro país que quer atrair mais mão de obra, principalmente especializada em produtos e serviços digitais. Os vistos para empregos tecnológicos concedidos a brasileiros aumentaram 420% desde julho de 2019. Entre os perfis mais procurados estão os programadores e engenheiros de tecnologia da informação (TI).

 

Aliado a isso, nunca se viu tantos brasileiros deixando o país e estabelecendo residência em outro lugar. O número chegou a 4,2 milhões, segundo dados de 2020 do Itamaraty. Em comparação aos dados anteriores, de 2018, houve um aumento de 16%. Em 10 anos, o aumento foi de 36%.

 

Entre os cinco países com mais brasileiros, estão os Estados Unidos, com 1,7 milhão; Portugal, com 276 mil; o Paraguai, com 240 mil; o Reino Unido, com 220 mil; e o Japão, com 211 mil brasileiros. É importante ressaltar, porém, que estes são números oficiais, que não consideram aqueles que estão ilegalmente em outros países.

 

De acordo com levantamento publicado este ano pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, 47% dos brasileiros entre 15 e 29 anos gostaria de deixar o país, se possível. É um recorde histórico. Entre 2005 e 2010, este era o desejo de 26,7% dos jovens; de 2011 a 2014, anseio de 20,1%.

 

Estados Unidos

 

Abrir as portas para os imigrantes está sendo visto como uma alternativa rápida e eficiente para preencher cerca de 11 milhões de vagas que existem nos Estados Unidos para mão de obra qualificada. Dentre as profissões em escassez estão os professores, cujo déficit até 2025 deve ser de mais de 316.000, já que em 2019 40% menos pessoas (se comparado com 2005) optaram por não seguir a carreira acadêmica. 

 

Área de saúde é uma das que mais contrata hoje nos Estados Unidos – Foto: Divulgação

Engenharia é outra profissão com carência de mão de obra e, por isso, a expectativa é que nos próximos dois anos a demanda deva aumentar em cerca de 10%, independente da especialização. Mas, o que mais preocupa é a escassez de profissionais da área de saúde como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, dentistas, cuidadores de idosos etc.

 

Segundo a Associação de Colégios Médicos Americanos, nos próximos sete anos, ou seja, até 2030, o país terá uma carência de 121 mil profissionais de saúde. Por causa disso, muita gente já tem se movimentado para solicitar o famoso “Green Card” com o visto EB2-NIW, usado para profissionais cuja mão de obra especializada é escassa em terras americanas (esse visto é extensivo a família: cônjuge e filhos até 21 anos).  

 

Só para se ter uma ideia da procura, o escritório Piquet Law Firm, um dos maiores e mais conceituados escritórios de imigração em Miami, tem pré-qualificado (pessoas com chances de ter o visto aprovado) cerca de 150 profissionais por mês, só na área de saúde.

 

Segundo o advogado de imigração, Alexandre Piquet, o visto EB-2 NIW (National Interest Waiver) pode ser solicitado estando a pessoa dentro ou fora dos EUA. Ele explica, também, que o fato de ser uma profissão em escassez não libera o profissional de cumprir as exigências de validação do diploma, o que pode ser feito enquanto o visto é solicitado ou, após, a aprovação do Green Card. A vantagem é que este visto não requer que a pessoa faça qualquer tipo de investimento (como é o caso do visto EB-5) ou tenha necessidade de ter um empregador no país.

 

Alexandre Piquet: visto pode ser solicitado a qualquer momento – Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

Durante o andamento do processo, caso a pessoa esteja nos Estados Unidos, é emitida uma permissão temporária de trabalho. “Com essa permissão a pessoa vai poder trabalhar em qualquer emprego e até em alguma função dentro de um serviço de saúde, mas, lembrando que para exercer a atividade original ela precisará da validação do diploma e da licença específica para a sua profissão aqui nos Estados Unidos”, explica Piquet.

 

Ele destaca que o esforço e a paciência valem a pena já que os salários são de encher os olhos. As remunerações variam de estado para estado e levam em consideração vários pontos da carreira de cada profissional, dentre eles a formação acadêmica, os anos de experiência, a especialização etc.

 

Um médico pode ganhar, por mês, cerca de 8 mil dólares na Georgia e quase 18 mil em Connecticut ou na Flórida. Se ele for pediatra, o recebimento anual pode passar de 200 mil dólares por ano. Já um anestesista ou cirurgião geral pode ter ganhos superiores a 250 mil dólares.

  

Na outra ponta, os serviços médicos engrossam a torcida pela chegada de novos profissionais. Há laboratórios de análises clínicas que estão desesperados a procura de biomédicos e não encontram, assim como médicos de família que precisam de assistentes e enfermeiras para consulta e estão tendo dificuldade em preencher as vagas.

 

Para começar o processo de solicitação do visto EB-2 NIW, o profissional de saúde, com diploma universitário, precisa ter 5 anos de experiência comprovada após o bacharelado e 4 cartas de apresentação/recomendação escritas por pessoas da área em que ele atua.  

 

Promoções

 

Outros países apostam em promoções para atrair imigrantes. Na Itália, por exemplo, algumas cidades oferecem pagamento para trabalhadores que fazem home office para que se mudem para lá. Com a intenção de aumentar a população ativa, as comunas de Santa Fiora, na Toscana, e Rieti, em Lazio, oferecem 200 euros mensais de gratificação. Se o casal tiver filhos pequenos, o bônus pode chegar a 1.500 euros. Já para quem investe na área de turismo, o crédito pode chegar a 30 mil euros. 

 

O importante para quem quer vivenciar outros ares é garantir um recurso para os primeiros meses e investir em uma qualificação. Assim, o sonho de imigrante não vai virar um pesadelo.