Declaração do estado de emergência na capital trouxe preocupação de que o evento possa ser cancelado de vez; grande parte da população japonesa é contra a realização
Texto: Ewerthon Tobace/Record TV Japan
Foto: ©Tokyo2020
O ano acaba de começar e promete ser tão ou mais desafiador que o anterior para o esporte. Ainda sob o impacto da pandemia de coronavírus, 2021 tem na agenda a realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio e é também o começo do ciclo para os jogos de Paris em 2024. Ou seja, em uma mesma temporada, comissões técnicas, atletas e dirigente precisam pensar e planejar, simultaneamente, a reta final de preparação para o evento do Japão e os primeiros passos para o projeto de quatro anos até a França.
Não bastasse isso, os eventos esportivos que antecedem a Olimpíada japonesa estão na berlinda. Podem ser cancelados a qualquer momento por conta do aumento dos casos de infeções por Sars-Cov-2. Tudo isto impacta diretamente na preparação dos atletas, que têm menos oportunidade de fazer treinos intensos e focados na preparação física, técnica e psicológica para o maior evento esportivo.
Nesta semana, quando Tóquio deu início ao segundo estado de emergência, um dos enfoques da mídia japonesa foi ouvir a população para saber o que acham sobre a realização dos jogos. Muitas pessoas dizem que será difícil, talvez impossível, sediar os Jogos Olímpicos com segurança. Afinal, espera-se que mais de 15.000 atletas de todo o mundo se desloquem à capital japonesa, motivando preocupações de que possam levar novas mutações do vírus ao Japão.
Adiamento
O governo japonês e o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiram em março do ano passado adiar as Olimpíadas por um ano devido à pandemia de coronavírus. O evento esportivo global está programado para começar no dia 23 de julho e terminar dia 8 de agosto.
O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, reiterou sua intenção de realizar os Jogos. No entanto, uma pesquisa de dezembro da emissora pública NHK mostrou que um terço dos habitantes do Japão quer que os Jogos sejam cancelados devido ao temor de que um fluxo de chegadas de estrangeiros possa causar novo aumento nos casos do novo coronavírus (covid-19). Na mesma pesquisa, 31% dos entrevistados se declararam a favor de outro adiamento, enquanto apenas 27% disseram que a Olimpíada deve acontecer conforme o programado.
“Eu não posso ter certeza porque o elefante contínuo na sala seriam os surtos do vírus”, disse Dick Pound, um antigo membro do Comitê Olímpico Internacional do Canadá, à BBC esta semana. Para ele, todos os atletas devem ser vacinados com prioridade. Em novembro passado, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, incentivou os atletas a se vacinarem antes das Olimpíadas de Tóquio, mas insistiu que isso não seria um requisito de entrada para os jogos.
Nesta semana, após o anúncio do estado de emergência para Tóquio e províncias vizinhas, o comitê reiterou o compromisso da organização com as Olimpíadas agendadas para este verão. “O COI tem total confiança nas autoridades japonesas e nas medidas que estão tomando”, disse em um comunicado divulgado pela mídia. “Junto com nossos parceiros japoneses, continuamos totalmente concentrados e comprometidos com a realização segura e bem-sucedida dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Tóquio 2020 neste verão.”
Em sua mensagem de vídeo de Ano-Novo, Bach chamou Tóquio de “ainda a cidade olímpica mais bem preparada de todos os tempos” e agradeceu ao Japão por seu compromisso e determinação em organizar os jogos “de uma maneira segura e protegida para todos os participantes”.
O estudante brasileiro Leonardo Konasukawa, 29, que mora em Saitama, está desanimado com o evento esportivo. “O estado de emergência é um sinal de que a coisa está feia” diz o rapaz, que não teme que o vírus se espalhe durante os jogos. “Os japoneses, a qualquer suspeita de coronavírus, não irão aos eventos”, diz acreditar.
“Acho que é difícil ou quase impossível realizar a Olimpíada”, lamenta Tatsuhiko Akamasu, de 75 anos. “Faltam apenas dois meses e meio para o revezamento da tocha. Não acho que possamos controlar o vírus durante este período.”
O revezamento da tocha de 121 dias, que normalmente marca a contagem regressiva para os Jogos Olímpicos, começará em Fukushima no dia 25 de março. A chama olímpica visitará todas as 47 prefeituras do Japão, mantendo o plano existente antes do adiamento evento.
Para marcar os 100 dias até o início do revezamento, a Tokyo Skytree, a torre mais alta do mundo e uma parte icônica da capital japonesa, foi iluminada no tom de ouro rosado da tocha olímpica de Tóquio. Os organizadores disseram que a rota completa do revezamento será anunciada em fevereiro.
Patrocinadores
Outra grande preocupação era com o orçamento. Mas os organizadores dos Jogos de Tóquio disseram que todos os 68 patrocinadores domésticos do evento concordaram, inicialmente, em estender os contratos. “As empresas parceiras me falaram sobre a situação difícil em que se encontram por causa da pandemia”, disse o presidente da Tóquio 2020, Yoshiro Mori, em entrevista coletiva. “Mas eles também me disseram que, definitivamente, querem que os Jogos sejam realizados e que estão dispostos a oferecer o máximo de apoio possível”, emendou.
Os organizadores dos Jogos de Tóquio preveem mais de 22 bilhões de ienes (US$ 212 milhões) em contribuições adicionais. Entre os patrocinadores domésticos estão empresas duramente atingidas por uma queda acentuada na demanda por viagens em meio à pandemia, como a Japan Airlines, a All Nippon Airways e a agência de viagens JTB Corp.
Os organizadores repetiram a projeção de que o custo total do adiamento, incluindo as ações de combate à covid-19, será de cerca de US$ 2,8 bilhões, elevando o custo total da realização dos Jogos para cerca de US$ 15,4 bilhões. “Queremos construir o melhor sistema possível, interagindo com as organizações relevantes de médicos e enfermeiros”, disse o presidente executivo da Olimpíada de Tóquio, Toshiro Muto, a repórteres. “Ainda é um grande problema para nós garantir o máximo de equipe médica que esperamos quando nos deparamos com uma situação em que instituições médicas privadas estão em dificuldades de gerenciamento por causa do coronavírus”, afirmou o dirigente.
Bolsonaro no Japão?
Se a Olimpíada será realizada ou não, ainda é uma incógnita. Governo e organizadores dizem que sim. População diz que não. Tudo vai depender das comitivas dos países. Se muitos não comparecerem, o evento corre o risco de ser cancelado de vez.
Enquanto isto, o governo japonês segue o plano e já começou a convidar líderes de estado para o evento. O presidente Jair Bolsonaro recebeu na sexta-feira (8), do ministro de Negócios Estrangeiros do Japão, Toshimitsu Motegi, o convite para assistir à abertura das Olimpíadas de Tóquio. Bolsonaro fez o anúncio do convite em sua conta no Twitter. “Encontro com Toshimitsu Motegi, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão, nosso parceiro mais tradicional na Ásia com fortes laços culturais”, disse Bolsonaro . “Fui convidado para a abertura das Olimpíadas de Tóquio em julho”.
– Encontro com Motegi Toshimitsu, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão, nosso parceiro mais tradicional na Ásia com fortes laços culturais.
– Fui convidado para a abertura das Olimpíadas de Tokio em julho.
. @ItamaratyGovBr @ernestofaraujo
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— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) January 8, 2021
Você é a favor ou contra a realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio?
“Sou a favor do evento caso esteja comprovado a eficácia das vacinas já utilizadas. E que todos os estrangeiros que entrarem no Japão próximo a data de abertura da Olimpíada comprovem que já tenham tomado a vacina. Como acredito que isso talvez não seja possível nesse curto espaço de tempo até os jogos, acredito que o evento não teria a grandiosidade que tem e o nível dos atletas também seria muito abaixo de um nível olímpico. Além disso, acredito que a entrada de tantos visitantes seria um erro num momento em que o Japão está tentando controlar a pandemia nacionalmente. Isso com certeza aumentaria ainda muito os casos. Minha opinião então seria que o evento deveria acontecer caso a vacina seja eficaz e que não deveria acontecer caso não comprovem a eficácia da vacina, pelo risco que causaria ao país.”
“É com muita dor no coração, pois sou atleta, mas eu não sou a favor! A vacina ainda não se sabe se realmente vai ser eficaz, pois o tempo é muito curto. Nós sabemos que uma eficácia de uma vacina leva mais ou menos uns 10 anos para se comprovar. Enquanto houver pessoas, mesmo que sejam poucas, tendo reações alérgicas à vacina, é difícil acreditar em alguma coisa no momento. A Olimpíada é um sonho de todos os atletas, equipes, países, mas a segurança com a saúde, sempre em primeiro lugar. Se a Olimpíada fosse realizada o ano que vem, depois de 1 ano que todos fossem vacinados, acho que não teria problema, estariam imunes e não correriam riscos de ficarem expostos a tanta multidão. Na minha opinião, o Comitê Olímpico deveria deixar as Olimpíada para 2024.”
“Sim, sou a favor. Ainda estamos vivendo uma pandemia, mas diferente do ano anterior, começamos a ver uma luz no fim do túnel, com várias vacinas surgindo. A nossa mente controla todos os nossos atos, não podemos deixar que ela seja confundida como aconteceu com as épocas festivas de final de ano, quando as notícias da criação de uma vacina deixaram as pessoas com uma falsa impressão de que o vírus já estava controlado e não oferecia nenhum perigo, mesmo sem ter tomado a vacina ainda. O espírito da Olimpíada vem das 5 argolas, que representam a união dos 5 continentes. Muitas vezes precisamos de um objetivo ou motivação para nos movermos e correr atrás dos objetivos. O espírito olímpico reforça que temos muitas barreiras e obstáculos para nos prepararmos. Exige disciplina, foco, concentração, motivação, e muito esforço e determinação. O Japão fará de tudo para assegurar a segurança, basta que todas as pessoas façam a sua parte, tomando as vacinas e se esforçando com o máximo de empenho para assegurar, com atitudes corretas, que esta Oolimpíada seja a da superação e para ficar na história.”