Testemunhas relataram que as chamas causaram prejuízos estimados em dezenas de milhões de yuans

Foto: Reprodução/China Labour Bulletin

Um operário de 27 anos ateou fogo a uma fábrica têxtil na província de Sichuan, no sudoeste da China, supostamente por estar frustrado com o não pagamento de 800 yuans (cerca de R$ 630) em salários atrasados. O incêndio ocorreu na Sichuan Jinyu Textile Company, localizada no Parque Industrial Wangchang, no condado de Pingshan, e durou cerca de 37 horas.

Segundo relatos publicados nas redes sociais e informações apuradas pela Rádio Free Asia, o trabalhador, identificado apenas como Wen, discutiu com seus superiores pouco antes de incendiar o local na última terça-feira (20). Imagens do fogo circularam na internet chinesa, e testemunhas relataram que as chamas causaram prejuízos estimados em dezenas de milhões de yuans.

A polícia do condado de Pingshan confirmou que o incêndio foi criminoso e informou que Wen foi detido no local. Na sexta-feira (23), as autoridades divulgaram que o caso segue sob investigação, com foco na apuração dos danos materiais.

Em nota, a polícia negou que Wen estivesse cobrando apenas 800 yuans e afirmou que a empresa estava em processo de liberação de um pagamento de 5.370 yuans (cerca de R$ 4,2 mil). Ainda segundo os investigadores, o ato teria sido motivado por pensamentos suicidas. A polícia também advertiu que irá punir quem divulgar “informações falsas” sobre o caso.

A explicação oficial, no entanto, contrasta com dados sobre a realidade do trabalho na China.

Atrasos salariais são um problema crônico no país. Segundo o China Labour Bulletin, desde 2011, 76% dos incidentes registrados no mapa de greves estão ligados a salários não pagos. Em 2024, esse número ultrapassou os 88%.

Além disso, a justificativa das autoridades ignora o que prevê a legislação trabalhista chinesa. De acordo com o Artigo 9 do Regulamento Provisório sobre Pagamento de Salários, empregadores são obrigados a quitar imediatamente os vencimentos devidos no momento da demissão ou rescisão do contrato. Ou seja, qualquer valor pendente deveria ter sido pago integralmente a Wen no ato de sua saída da empresa.

O episódio gerou forte repercussão online. O operário passou a ser apelidado de “Irmão 800”, em referência ao valor inicialmente divulgado. Usuários das redes sociais afirmaram que a família de Wen vive em situação de extrema pobreza e que sua mãe está doente. “Eles precisavam desesperadamente do dinheiro”, disse Wang Shudong, morador da cidade de Yibin, à RFA.

“Quando os trabalhadores foram cobrar seus direitos por vias legais, ninguém apareceu. Mas quando ele colocou fogo na fábrica, polícia e Justiça chegaram na hora”, completou Wang.