Invasão de mafiosos chineses no país começou de forma silenciosa e, agora, se tornou sangrenta

Foto: Reprodução/Poliziadistato

Um assassinato está chamando a atenção das autoridades italianas por indícios de participação da máfia chinesa. Na noite de segunda-feira (14), no bairro Pigneto, em Roma, o casal Zhang Dayong, de 53 anos, e Gong Xiaoqing, de 38, foi alvejado com pelo menos seis tiros na cabeça e no peito. O ataque foi executado por criminosos em uma motocicleta, enquanto o casal retornava para casa de bicicleta.

Zhang Dayong é acusado de atuar como mafioso a serviço de Zhang Naizhong, empresário local do setor de transporte, e também é investigado por envolvimento com a máfia e lavagem de dinheiro.

Na noite do crime, o assassino, armado com uma pistola 9mm, aguardava a chegada das vítimas no saguão do prédio onde eles moravam. O criminoso saiu na rua, disparou contra o casal e fugiu a pé, sem deixar rastros.

Segundo um dos investigadores, que preferiu não se identificar, o crime não foi cometido por amadores, o que elevou as suspeitas para o crime organizado da região.

Zhang levava uma vida reservada e incomodava seus vizinhos apenas com ligações telefônicas em horários inadequados. O chinês mudou para a capital em 2022 e, segundo os vizinhos, não levantava suspeitas de seu possível envolvimento com a máfia.

Por que a máfia está envolvida?


Segundo o jornal inglês The Times, há uma disputa pelo controle de oficinas clandestinas na cidade toscana de Prato, conhecida por abrigar uma grande comunidade chinesa envolvida com o setor têxtil. O domínio dessas oficinas se espalhou para a capital italiana, onde o suposto mafioso e sua parceira foram mortos a tiros.

Segundo o promotor de justiça de Prato, Luca Tescaroli, a invasão da máfia chinesa no país começou de forma silenciosa e, agora, se tornou sangrenta, à medida que grupos rivais disputam o controle do mercado. “Tem um crescimento na atividade criminosa, mas estamos enfrentando um muro de silêncio”, afirmou.

O promotor entende que a província de Prato se tornou um ponto-chave para os negócios da máfia. Isso porque a cidade recebe inúmeros tecidos importados da China, o que permite burlar o imposto sobre importação (IVA) do país. Com isso, os tecidos abastecem as lojas da região.

‘Dinheiro voador’


Além do comércio de roupas, a máfia chinesa está envolvida com transação de dinheiro ao redor do mundo.

O especialista em máfia, Antonio Nicaso, afirmou que a maioria das transações financeiras não oficiais no mundo passa pela máfia chinesa.

“Hoje, cerca de 90% das transferências de dinheiro não oficiais no mundo são gerenciadas pela máfia chinesa e, na Itália, o centro dessas operações é Prato e, cada vez mais, Roma”, disse.

“A máfia italiana ‘Ndrangheta utiliza os chineses para enviar pagamentos aos colombianos para pagar por carregamentos de drogas”, acrescentou.

A prática da máfia chinesa é conhecida como fei ch’ien, ou “dinheiro voador”, e consiste em entregar dinheiro a uma pessoa em um país, que então informa a um parceiro em outro país para liberar a mesma quantia ao destinatário, sem deixar rastros financeiros.

“Às vezes, a pessoa que recebe o dinheiro entrega a você metade de uma nota rasgada. Para sacar o valor do outro lado, é preciso apresentar a outra metade. Eles também utilizam códigos QR”, explica.

Guerra entre mafiosos


Desde o ano passado, o promotor vem registrando novos conflitos em Prato. “Registramos uma série de ataques incendiários e duas tentativas de homicídio”, disse.

Os investigadores acreditam que os grupos entraram em guerra pelo controle da logística de transporte da operação, na tentativa de dominar um setor que movimenta milhões de euros todos os anos.

A Itália já sofria com os conflitos relacionados à máfia local, e agora o duplo assassinato deixou o país em estado de alerta com a organização criminosa estrangeira, que vem se espalhando pelo território italiano.

Segundo Tescaroli, a comunidade chinesa da região evita denunciar outros membros às autoridades por temer as consequências impostas pela máfia. Como não podem participar do programa de proteção do governo italiano, muitos vivem com medo pela própria vida.