O Governo de Unidade Nacional (NUG) anunciou uma pausa de duas semanas nas operações ofensivas, enquanto o regime em vigência no país intensifica seus ataques

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A junta militar de Mianmar continua a realizar ataques aéreos em várias regiões do país, mesmo após o terremoto de magnitude 7,7 que deixou mais de 2.000 mortos, segundo estimativas oficiais divulgadas nesta segunda-feira (31). A continuidade dos bombardeios em meio às operações de resgate tem sido amplamente condenada por organizações internacionais e grupos de defesa dos direitos humanos.

A situação reflete o agravamento da guerra civil que assola o país desde o golpe militar de 2021. O regime enfrenta uma forte resistência de grupos rebeldes pró-democracia e exércitos étnicos que já controlam áreas do território de Mianmar.

Os combates se intensificaram nos últimos meses, com a junta sofrendo sucessivas derrotas e apostando cada vez mais em ataques aéreos como estratégia para reprimir a insurgência.

Bombardeios em meio à crise humanitária


Menos de três horas após o terremoto, um ataque aéreo atingiu Naungcho, no estado de Shan, matando pelo menos sete pessoas. No município de Chaung U, na região de Sagaing, também epicentro do terremoto, rebeldes relataram pesados bombardeios e movimentação de comboios militares.

Relatos apontam ainda ataques em áreas próximas à fronteira com a Tailândia, enquanto trabalhadores humanitários enfrentam grande escassez de recursos para socorrer os feridos e desabrigados.

Apesar da catástrofe, a junta não deu sinais de que interromperá suas ofensivas. O Governo de Unidade Nacional (NUG), que representa a administração civil deposta, anunciou uma pausa de duas semanas nas operações ofensivas nas áreas afetadas, limitando-se a ações defensivas.

No entanto, as forças do regime continuam a intensificar seus ataques, complicando ainda mais os esforços de resgate.

Guerra aérea

A junta vem se apoiando fortemente no poder aéreo para manter o controle sobre o país. Sem capacidade de combate no ar, os grupos de resistência tornam-se alvos vulneráveis dos bombardeios indiscriminados, que já destruíram escolas, hospitais, mosteiros e igrejas.

Relatórios de organismos internacionais apontam que a junta tem cometido crimes de guerra e crimes contra a humanidade ao bombardear seu próprio povo. A guerra aérea do regime é sustentada por armamentos fornecidos por Rússia e China, que continuam vendendo jatos de ataque e prestando treinamento militar à junta, apesar dos apelos globais por um embargo de armas. As informações são da BBC. Rússia e China negam as acusações.

Ajuda humanitária como arma de guerra


Além dos ataques aéreos, há grande preocupação com a manipulação da ajuda humanitária pelo regime. A junta tem um histórico de bloquear o acesso à assistência em áreas controladas por forças rebeldes, negando socorro às regiões mais necessitadas. Há relatos de caminhões de suprimentos sendo impedidos de entrar e trabalhadores humanitários sendo presos.

O impacto do terremoto agravou as condições humanitárias, especialmente em Mandalay e Naypyidaw, onde temperaturas acima de 40°C aceleram a decomposição dos corpos sob os escombros. O número de vítimas pode ser muito maior do que o divulgado oficialmente, com algumas estimativas apontando para mais de 10 mil mortos.