Militar disse em entrevista a jornal sul-coreano que foi enviado à Rússia para um suposto treinamento e que teme represálias se for repatriado
Foto: Reprodução/X/@ZelenskyyUa
Um dos dois soldados norte-coreanos capturados pelas tropas ucranianas em janeiro deste ano disse que quer buscar asilo na Coreia do Sul, de acordo com o jornal sul-coreano Chosun Ilbo, que publicou uma entrevista com o prisioneiro nesta quarta-feira (19).
O soldado, identificado apenas como Ri, revelou que não esperava participar diretamente dos combates. Ao jornal, disse que foi informado de que viajaria para a Rússia para um suposto treinamento como estudante estrangeiro.
“Eu já decidi 80%. Acima de tudo, vou buscar refúgio e estou pensando em ir para a República da Coreia [como é oficialmente chamada da Coreia do Sul]. Se eu pedir asilo, eles me aceitariam?”, disse o soldado, que tem 26 anos e é natural da capital Pyongyang.
Esta seria a primeira vez que um soldado norte-coreano capturado pela Ucrânia expressou a intenção de desertar para a Coreia do Sul desde que a Coreia do Norte enviou cerca de 12 mil soldados para apoiar a Rússia na guerra, em outubro do ano passado.
Ri e outro soldado norte-coreano foram capturados em Kursk, região russa que faz fronteira com a Ucrânia, no dia 9 de janeiro. Na época, o presidente ucriano, Volodymyr Zelensky, fez anunciou a captura dos prisioneiros por meio de publicações no X.
In addition to the first captured soldiers from North Korea, there will undoubtedly be more. It’s only a matter of time before our troops manage to capture others. There should be no doubt left in the world that the Russian army is dependent on military assistance from North… pic.twitter.com/4RyCfUoHoC
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) January 12, 2025Segundo o jornal Chosun Ilbo, Ri pertence ao Departamento Geral de Reconhecimento norte-coreano e serviu na guerra como atirador de elite. Ele foi capturado com ferimentos graves no maxilar e no braço.
O soldado disse que foi induzido pelas autoridades de Kim Jong-un a acreditar que lutava contra tropas da Coreia do Sul na Ucrânia. “Todos os pilotos de drones militares ucranianos eram soldados sul-coreanos”, teria dito o Ministério da Segurança do Estado norte-coreano, segundo ele.Segundo o jornal Chosun Ilbo, Ri pertence ao Departamento Geral de Reconhecimento norte-coreano e serviu na guerra como atirador de elite. Ele foi capturado com ferimentos graves no maxilar e no braço.
Abertura para deserção
A Coreia do Sul afirma estar aberta para receber soldados norte-coreanos capturados pela Ucrânia que desejem desertar.
“Os soldados norte-coreanos são nossos cidadãos perante a Constituição e respeitar o livre arbítrio dos indivíduos está de acordo com a lei e os costumes internacionais”, diz um comunicado do Ministério das Relações Exteriores sul-coreano publicado nesta quarta-feira.
Por outro lado, a Ucrânia indicou que só pode considerar a devolução dos soldados capturados caso a Coreia do Norte facilite uma troca por combatentes ucranianos mantidos como prisioneiros pela Rússia.
O Serviço Nacional de Inteligência (NIS) da Coreia do Sul, os Estados Unidos e a Ucrânia declararam anteriormente que cerca de 4 mil soldados norte-coreanos teriam sido mortos ou feridos em Kursk.
A transferência de Ri para a Coreia do Sul pode esbarrar em obstáculos legais e diplomáticos, uma vez que a Convenção de Genebra estabelece que prisioneiros de guerra devem ser repatriados após o fim das hostilidades.
No entanto, especialistas apontam que o caso do soldado Ri pode ser uma exceção, já que ele poderia enfrentar graves violações de direitos humanos se fosse enviado de volta à Coreia do Norte — no país, ser mantido como prisioneiro por inimigos é um ato de traição.
O governo sul-coreano disse que continuará dialogando com as autoridades ucranianas para avaliar os próximos passos em relação ao caso.