Com grande número de artistas locais, gênero musical é um dos preferidos entre os brasileiros que residem e trabalham no Japão 

 

 

Texto: Gilberto Yoshinaga/Record TV Japan
Fotos: Divulgação

 

 

Dançar, divertir-se, amenizar as saudades do Brasil, preservar a identidade e despertar emoções. Diferentes motivações fazem da música sertaneja uma das trilhas sonoras preferidas entre os brasileiros que residem no Japão. Um diferencial que torna este gênero tão especial para os dekasseguis é o grande número de artistas locais – que, na grande maioria dos casos, trabalham em fábrica durante a semana e se tornam artistas aos sábados e domingos. 

 

Campos Novos & Paulista: dupla canta desde o final da década de 90 – Foto: Divulgação

Do sertanejo “raiz” (“modão” de viola, como dizem os amantes do gênero) a vertentes mais contemporâneas, como o sertanejo universitário e a pisadinha, os artistas de final de semana costumam se revezar nos palcos de bailões e outros eventos em cidades com grandes concentrações de brasileiros, sobretudo nas províncias de Aichi, Shizuoka, Mie, Gifu, Shiga, Gunma e Fukui. No repertório, muitos possuem canções próprias, mas covers de grandes sucessos do gênero também são frequentes em suas apresentações.

 

“Acredito que a música sertaneja é forte no Japão porque a maioria dos brasileiros que aqui vivem vem de locais onde ela é muito forte, como cidades do interior de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul”, teoriza Milton Ishiy Junior, 44. Ao lado do irmão Rodrigo Mira Ishiy, 39, ele forma a dupla Campos Novos & Paulista, um dos nomes de destaque na cena dekassegui. 

 

Moradores da província de Shizuoka, os irmãos já cantavam no Brasil desde a adolescência, no final da década de 1990, e estão no Japão desde 2006, pela segunda vez. Criados em Adamantina (SP), escolheram esse nome artístico para homenagear a cidade de Campos Novos Paulista, berço e lar da maior parte de seus familiares – com quem aprenderam a amar o sertanejo desde a infância.

 

Wagner Mattos tem 1,1 milhão de seguidores no Instagram – Foto: Divulgação

Também do interior paulista, Wagner Mattos, 35, natural de Paraguaçu Paulista (SP), está no Japão há sete anos. Já gravou um CD e dois DVDs ao vivo e, quando viaja para o Brasil, costuma participar de programas de TV e eventos de grande porte – o que já incluiu até mesmo o prestigiado Rodeio de Barretos. “Conheço e fui apadrinhado pelo Gian [da dupla com Giovani] e, graças a esse vínculo e outros bons contatos, algumas músicas minhas tocam em rádios brasileiras”, orgulha-se ele, que reside em Toyokawa (Aichi) e possui 1,1 milhão de seguidores no Instagram – entre eles, o cantor Zezé Di Camargo.

 

Confortar corações e desestressar

 

“O sertanejo está muito forte lá no Brasil e acredito que a internet ajuda as pessoas que estão no Japão a se manterem antenadas aos sucessos do momento”, arrisca Mattos, para explicar o sucesso do gênero entre os dekasseguis. “Também acho que o sertanejo ajuda a amenizar as saudades do Brasil. Muita gente frequenta os bailões daqui porque o ambiente, o clima, é igual ao dos bailões de lá.”

 

Cesar Valentim: “a música sertaneja é uma maneira de confortar seus corações” – Foto: Divulgação

A opinião é compartilhada por Cesar Valentim, 42, que chegou ao Japão em 2014 e, já no ano seguinte, começou a subir aos palcos de eventos da comunidade. “Aqui tem muitos brasileiros longe da família e a música sertaneja é uma maneira de confortar seus corações”, afirma ele, morador de Nagoya (Aichi). Nascido em Sorocaba (SP), Valentim lançou, no ano passado, seu primeiro CD, intitulado Última dose”, e já gravou seis videoclipes. “Não vivo da música, mas é muito gratificante poder proporcionar diversão e boas emoções para tantos compatriotas.”

 

“Nós, dekasseguis, trabalhamos muito e acredito que a música sertaneja também seja uma ‘válvula de escape’, uma maneira de liberar o estresse acumulado durante a semana”, arrisca Marcos Hatano, 43, natural de Mogi das Cruzes (SP), outro cantor muito festejado entre os dekasseguis. Em 2007, ele foi o segundo colocado do popular concurso de calouros Latino Nodojiman, da emissora NHK. “Cresci ouvindo música sertaneja e, mesmo morando no Japão desde 1990, nunca deixei de ouvir e cantar. É uma maneira de relembrar muitas coisas do Brasil e, também, de preservar nossa identidade.”

 

Marcos Hatano: “nunca deixei de ouvir música sertaneja” – Foto: Divulgação

Cachê e sonhos

 

Com mais de 25 anos de estrada – desde que começou a cantar com o irmão -, Ishiy Junior, da dupla Campos Novos & Paulista, que abriu esta reportagem, diz que já não almeja mais o sucesso na carreira musical. “Hoje em dia, cantamos por amor. Nossa maior satisfação é ver a felicidade no rosto das pessoas que apreciam nossa música, não tem cachê maior que isso”, declara. “Isso se aplica ‘do mamando ao caducando’, ou seja, das crianças aos idosos.” 

 

Por fim, ele também deixa uma mensagem aos dekasseguis: “Sei que, nas fábricas, há muitos talentos escondidos ou adormecidos, não só na música. Ainda que nosso dia a dia seja tão sofrido e corrido, não devemos viver apenas para trabalhar nem desistir de nossos sonhos, de fazer o que nos traz felicidade. Quando empunho a viola e o microfone, é essa a mensagem que quero transmitir”.

 

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