Dos pacientes que já estão em estado avançado de uma doença terminal, 95% deles morrem antes de um ano

 

 

Texto e foto: Neide Hayama/CCBJ

 

 

Entre os dias 4 e 14 de agosto, o médico pneumologista Olavo Ribeiro Rodrigues (foto) esteve na sua vigésima quarta viagem ao Japão ao longo dos últimos 16 anos. O objetivo foi levar pacientes brasileiros em estado grave de saúde para o Brasil a fim de continuar o tratamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

 

Nesse período de 16 anos, segundo o médico, foram transportados 42 pacientes para diferentes regiões do Brasil. Desse total, apenas cinco estão vivos. A maioria tinha as seguintes doenças: câncer do intestino (que é mais comum entre mulheres japonesas e descendentes por causas genéticas), câncer do pulmão e enfisema (causado principalmente pelo fumo), câncer de pâncreas, câncer do estômago (mais comum nos homens), cirrose no fígado (causado pelo excesso de consumo de bebida alcoólica), insuficiência renal causada por diabetes, derrame cerebral causado por hipertensão não controlada (pressão alta) e necessidade de transplantes de órgãos como coração, medula e intestino. O médico explica que como os pacientes já estão em estado avançado de uma doença terminal, 95% deles morrem antes de um ano no Brasil.

 

Dr. Olavo, como é mais conhecido, alerta que é preciso fazer uma campanha para conscientizar a comunidade brasileira no Japão sobre as doenças da terceira idade (após os 60 anos) tendo em vista que a maioria vive há muito tempo no arquipélago. “Muitos dos brasileiros que me procuram não contribuíram continuamente e não recebem aposentadoria ou não têm seguro de saúde obrigatório no Japão, vivendo de `seikatsu hogo`”, salienta o médico. O `seikatsu hogo` é um auxílio do governo japonês para quem não tem condições de trabalhar ou não possui renda para sobreviver. “O governo japonês economizaria mais se ajudasse financeiramente para pagar a passagem aérea para os brasileiros com doença grave a voltarem ao Brasil do que pagar o “seikatsu hogo”, que tem o valor médio de ¥100 mil por mês”, assinala ele.

 

Avião

 

Desta vez, Dr. Olavo transportou uma paciente com tumor no cérebro e morava em Gunma com a família. Ela descobriu a doença porque sentiu diminuição da força na mão e perna de um lado do corpo. Por último, conforme o médico, a família notou que ela alterou o equilíbrio e a fala. “Ela fez radioterapia no Japão e será feita quimioterapia no Brasil”, diz. 

 

Com a pandemia, o visto de múltiplas entradas do Dr. Olavo foi cancelado pelo governo japonês. Assim, nota ele, que ficou mais complicado sair o visto para atender pedidos de pacientes brasileiros que querem voltar ao Brasil. Entre fevereiro e julho deste ano, ele estava atendendo a cinco pacientes que moravam no Japão, com consultas online e examinando-os por videochamadas. “Mas com a demora do visto, os cinco pacientes acabaram falecendo antes de serem repatriados”, lamenta. Esses pacientes tinham câncer de intestino, câncer no pulmão, falência de rins com hemodiálise, enfisema pulmonar e um deles precisava de transplante do coração. “O paciente com enfisema pulmonar dependia de oxigênio e teve morte súbita. Foi encontrado morto por vizinho”, relata.

 

Com a pandemia, Dr. Olavo observou que os pacientes brasileiros que vivem no Japão ficaram com medo de sair de casa por causa do coronavírus. “Isso agravou o estado de saúde de alguns pacientes”, comenta. Ele cita o caso de um homem com gangrena nos dois pés e foi aconselhado a amputar as duas pernas. A irmã dele veio do Brasil e o paciente conseguiu recuperar parte da lesão do pé. “Por isso é importante o apoio da família, que diminui o estresse e a ansiedade para o controle da doença”, afirma.

 

Nos últimos anos, geralmente a família não tem condição financeira para custear o valor de uma passagem. Nesse caso, a NPO Sabja vem auxiliando para bancar parte dos custos. Dr. Olavo atua voluntariamente durante todos esses anos.

 

Idioma

 

Dr. Olavo nota que os pacientes brasileiros têm dificuldades para entender a consulta médica mesmo com o auxílio de um tradutor. “Falta orientação de que diabetes, pressão alta ou reumatismo não tratados adequadamente vai afetar os rins. Assim, a pessoa precisará passar por hemodiálise (filtrar o sangue em máquina) três vezes por semana, sem condição de trabalhar e nem viajar”, esclarece.

 

No Brasil, conforme o médico, o SUS faz diferentes tipos de transplante de órgãos gratuitamente. 

 

Por fim, ele aconselha que os brasileiros devem pesquisar sobre as doenças que os familiares e antepassados tiveram. Assim, podem levantar as possibilidades de doenças que surgirão. Além disso, ele recomenda fazer periodicamente check-up médico geral.  

 

“Para os trabalhadores com essas doenças da terceira idade em tratamento no Japão, e que pretendem voltar para o Brasil, que voltem quando a doença se encontra em estádio 1 ou 2, enquanto não estão muito fracos e conseguem viajar sentados. Evitem a doença atingir os estádios 3 e 4. É difícil e caríssimo as empresas aéreas aceitarem passageiros quando já estão utilizando oxigênio por cateter nasal, sondas de alimentação, soros na veia e hemodiálise”, finaliza Dr. Olavo.

 

CUIDADO COM ESSAS DOENÇAS DA TERCEIRA IDADE QUE PODEM EVOLUIR E LEVAR O PACIENTE PARA A MORTE MAIS CEDO.

 

1- hipertensão (pressão alta) 

2- cirrose no fígado por hepatite ou alcoolismo

3- câncer em diferentes órgãos humanos

4- insuficiência renal

5- derrame cerebral

6- Infarto do coração

7- diabetes

8- enfisema do fumante pesado

Observação: Fumante pesado é aquele que fuma 20 ou mais cigarros por dia (um maço /cada 24 horas).

 

VALORES PARA TRANSPORTAR UM PASSAGEIRO NO AVIÃO

 

Para transportar um paciente com doença grave, Dr. Olavo explica que a empresa aérea divide nas seguintes categorias:

 

1- passageiro regular, ou seja, aquele que consegue fazer tudo sozinho como fechar o cinto de segurança e se alimentar. O valor de uma passagem na categoria econômica é de R$ 6 mil.

 

2- passageiro precisa de acompanhamento médico ou paramédico. Caso contrário, a empresa aérea não emite o bilhete de viagem. É o passageiro que não consegue viajar em poltrona reclinável e vai para a classe executiva. Esse passageiro é incapaz de fechar o cinto de segurança numa turbulência por exemplo. O valor de uma passagem na categoria executiva é de aproximadamente R$ 40 mil.

 

3- passageiro precisa de oxigênio suplementar e o médico leva uma máquina portátil de oxigênio na viagem. Esse passageiro não consegue se alimentar e tem sonda nasal ou no estômago. Em alguns casos, esse tipo de passageiro tem incontinências urinária e fecal e recebe medicação por cateter. Nesse caso, o passageiro viaja de maca e coloca-se uma cortina para manter a privacidade dele. O valor da passagem custa, em média, R$ 130 mil.

 

(a entrevista foi feita no dia 13 de agosto, um dia antes da volta de Dr. Olavo ao Brasil)

 

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