Muitas famílias se depararam com cobranças exorbitantes de luz e de gás entre dezembro e janeiro. As tarifas aumentaram, mas os valores estão muito acima do esperado

 

 

 

Texto: Ana Paula Ramos/Record TV Japan
Foto: AdobeStock

 

 

 

É comum que as contas de luz e gás aumentem durante o inverno, com o uso do ar-condicionado por mais tempo e também de aquecedores. Mesmo assim, o boleto surpreendeu muita gente e o valor é o dobro ou mais do que de costume.

 

Muitas famílias brasileiras no Japão tiveram esta surpresa entre os meses de dezembro e janeiro. Quem costumava pagar menos de ¥ 10 mil viu a conta de luz subir para ¥ 20 mil ou mais.

 

Karina Lima Oguino, que tem 34 anos e mora na província de Nagano, levou um susto quando abriu a correspondência da empresa de luz para checar a conta referente ao mês de dezembro do ano passado. A brasileira que mora com o marido e quatro filhos costumava pagar de ¥ 15 mil a ¥ 20 mil todos os meses, mas, de repente, foi surpreendida pela cobrança de ¥ 40 mil.

 

“Eu não sei o porquê de ter vindo tão cara se eu só liguei o ar-condicionado e dois aquecedores, mas só de noite. Os aquecedores eu só deixo ligado quando todos estão em casa e à noite”, explicou.

 

A conta de gás também foi uma surpresa. Karina esperava uma cobrança de até ¥ 18 mil, dentro do que costuma pagar, mas desta vez, o valor ficou em ¥ 28 mil. “O frio em Nagano começou em outubro e as contas estavam vindo com os valores de sempre. Aí foi anunciado que iria aumentar o gás e a luz e veio esta facada que nem acreditei”, diz.

 

De fato, as tarifas aumentaram. No fim de outubro do ano passado, as empresas de energia e gás anunciaram que os preços iam subir. Companhias de energia como a Tóquio Denryoku (TEPCO), Kansai Denryoku e Kyushu Denryoku divulgaram a mudança a partir do mês de dezembro. 

 

De acordo com as informações divulgadas pela TEPCO, o aumento previsto era de ¥ 114 considerando o mesmo consumo de uma família comum, em comparação com a tarifa do mês de novembro. Ou seja, se a conta da família veio ¥ 7.371 em novembro, viria ¥ 7.485 em dezembro, com um consumo de 260kWh no mês.

 

Soma-se a isso o fato de que o inverno é a estação mais cara, por causa das baixas temperaturas que exigem o uso prolongado do ar-condicionado e aquecedores elétricos ou a gás, que impactam nas contas no fim do mês.

 

Em 2020, o Ministério dos Negócios Internos e Comunicações divulgou uma média do gasto de luz de uma família no Japão. A tarifa era de ¥ 9.515 para um casal sem filhos e ¥ 11.788 para um casal com dois filhos. O valor mais exorbitante era de ¥ 16.003, para uma família de até 6 pessoas.

 

O aumento na tarifa não justifica contas de ¥ 40 mil, ainda que a família seja de seis membros. Outros fatores podem encarecer a cobrança, como a temperatura do ar-condicionado, o tempo em que fica ligado em consideração a temperatura na rua e até mesmo se o filtro está limpo e se não há obstruções no equipamento externo.

 

O problema pode estar nos hábitos de uso e na eficiência reduzida dos aparelhos. Mas Karina não foi a única a sofrer um impacto na economia doméstica. Muitas outras famílias brasileiras relataram contas que passaram do dobro do valor esperado para um mês comum do inverno japonês.

 

Cobranças elevadas

 

Em Iwata (Shizuoka), a brasileira Jaqueline Morino, de 46 anos, também levou um susto quando a correspondência chegou. A conta de luz subiu para ¥20 mil, sendo que costumava vir entre ¥ 6 mil e ¥ 8 mil. O gás quase dobrou: de ¥ 5 mil passou para ¥ 9.553 no último mês.

 

Karina Oguino se assustou com a conta de luz de ¥40 mil – Foto: Arquivo pessoal/Cedida

“Eu só uso o gás na torneira e banho, pois o meu fogão é a energia. Trabalhamos à noite de segunda a sexta-feira e saímos de casa às 17h e chegamos às 7h da manhã. Tomamos banho e vamos dormir. Eu acordo às 15h para fazer o almoço”, contou para a Record TV Japan.

 

A brasileira não faz ideia do que provocou o aumento exorbitante e diz que não tem muito o que fazer para economizar. “Dizem que a cobrança foi por causa de um feriado que teve, mas eu trabalhei normalmente. Não abro mão do ar-condicionado porque está frio e fora isso, mal gasto energia”, justificou.

 

Em Okazaki, na província vizinha de Aichi, Rossana Cristaldo, de 30 anos, também se surpreendeu com a cobrança do mês. Ela conta que costumava pagar ¥ 7 mil por mês com a luz, mas de repente, a conta veio ¥ 19 mil.

 

“Mês passado eu levei um susto quando abri a conta e vi os ¥ 19 mil. A gente não fica em casa quase, trabalhamos fora e não estávamos usando o ar para dormir, pois eu estava grávida e sentia muito calor. Então foi mesmo uma surpresa”, revelou.

 

Recomendações da Panasonic

 

Quando as contas estão altas e o aumento na tarifa não justifica a cobrança, o problema pode ter outras raízes, como a maneira em que o aparelho de ar-condicionado é utilizado e as decisões sobre o aquecimento da casa.

 

Em dezembro, a empresa Panasonic divulgou os resultados de uma pesquisa sobre os hábitos de uso do ar-condicionado, realizada com 550 pessoas. A pesquisa perguntou se os entrevistados desligavam o aparelho ou não quando saíam de casa por pouco tempo e os resultados foram diversos.

 

Cerca de 33% disseram que deixavam ligado ao sair por 30 minutos e 24% alegaram que sempre desligavam, mesmo se a saída fosse de apenas alguns minutos. Os especialistas da empresa realizaram testes com alguns aparelhos da marca e mostraram que há circunstâncias em que é melhor deixar ligado o tempo todo e outras em que o ideal é desligar.

 

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Geralmente no verão, deixar ligado o dia todo pode ajudar a economizar energia, mas nem sempre esta é a realidade do inverno. Há fatores com o tamanho do ambiente e material de construção, mas no geral, a empresa aponta que vale a regra dos 3°C: se a temperatura na rua for acima de 3°C, é melhor desligar e ligar de acordo com a necessidade. Se for menos do que isso, o recomendado é deixar ligado o tempo todo.

 

Há uma razão para isto. Quando os termômetros estão muito baixos, a temperatura da casa cai e ao desligar, puxa-se mais energia para aquecer novamente. Mas quando a temperatura não está tão baixa na rua, o ambiente doméstico não esfria de forma tão intensa e neste caso, economiza-se mais se não deixar ligado o tempo todo.

 

A Panasonic também faz outras recomendações importantes. O hábito de limpar o filtro pode gerar uma economia de ¥10 mil por ano. Usar cortinas com isolamento térmico e ter um circulador de ar ajudam a manter a casa mais aquecida e evitar que o calor fuja do ambiente.

 

O equipamento externo do ar, que costuma ficar na sacada dos apartamentos, também requer atenção. Objetos ao redor, poeira, folhas, lixo e entupimentos no cabo reduzem a eficiência e, consequentemente, aumentam o gasto de energia.