Episódio provocado por erupção vulcânica perto de Tonga acabou sem maiores danos no país, mas serviu para reforçar a necessidade de tomar medidas preventivas
Texto: Ana Paula Ramos/Record TV Japan
Foto: ©Nasa
A madrugada do último domingo (16) foi tensa para quem reside no Japão. No sábado, o vulcão submarino Hunga-Tonga-Hunga-Ha’apai, localizado a 30 quilômetros da ilha Fonuafo’ou de Tonga, sofreu uma forte erupção. O fenômeno pode ter sido o maior já registrado no mundo nos últimos 30 anos.
O evento natural afetou alguns países, como o Japão, EUA, Canadá, Peru e Nova Zelândia. No Japão, as autoridades meteorológicas identificaram o deslocamento de um tsunami pela costa do Pacífico. A ameaça vinha de norte a sul, com possibilidade de ondas de até 3 metros nas Ilhas Amami em Kagoshima e em Iwate, na região nordeste.
As ondas vieram e causaram danos pequenos, mas o susto foi grande. Quem estava acordado na madrugada acompanhou uma intensa cobertura na mídia japonesa, avisos pelos alto-falantes dos bairros e notificações enviadas aos telefones. Em contrapartida, houve pessoas que não acompanharam nada, se perderam nos avisos e notícias ou pior: não foram notificadas sobre o tsunami, mesmo morando perto do mar.
Nos grupos de brasileiros no Japão, pipocaram dúvidas de quem ouviu alertas e não entendeu nada e comentários de pessoas preocupadas com o fato de não terem recebido notificações do governo no celular. Sem nenhum aviso, alguns brasileiros só souberam do tsunami na manhã seguinte. Se fosse uma emergência que exigisse uma ação rápida, a situação poderia ter colocado a vida em risco.
O perigo da falta de notificação perturbou Eliete Yamachita Hozaki, de 34 anos e que vive com o marido e o filho em Hamamatsu (Shizuoka). Apesar de ter três celulares em casa, o dela, o do marido e o do filho que está no primário, ninguém recebeu avisos oficiais do governo.
“Nós ficamos sabendo do ocorrido só na manhã de domingo. Eu fiquei bem preocupada por nenhum de nós ter sido notificado. E se fosse algo grave, o que teria acontecido com a gente?”, questionou.
Eliete procurou entender o que aconteceu, se não recebeu por estar em uma zona fora de risco ou se houve alguma falha do sistema. Ela fez perguntas em grupos online, conversou com pessoas que moram na mesma região e acabou ficando ainda mais preocupada.
“Algumas pessoas disseram que moram perto do mar e não receberam também. Outros disseram que não estamos na área de risco, mas não foi isso. Tenho uma colega que mora a menos de dois minutos de casa e recebeu o alerta. Eu acho que foi uma falha no sistema”, diz.
Falta de notificação
Outro caso que gerou preocupação foi o da brasileira Luisa Yamashita (nome fictício), que tem 45 anos e vive perto da praia em Iwata (Shizuoka). Luisa contou para a Record TV Japan que apesar de estar a 5 minutos do mar, não recebeu nenhuma notificação oficial do governo na madrugada do tsunami.
“Eu não recebi nenhum aviso oficial, mas acordei de madrugada com uma notificação do aplicativo do Yahoo, falando que havia um alerta crítico de tsunami e era para tomar cuidado. Depois disso ouvi as sirenes do alto-falante”, contou.
No caso de Luisa, também pareceu uma falha do sistema, pois ela conta que o marido recebeu os alertas do governo no celular, mas ela não.
“Eu liguei a tevê japonesa e consegui entender. Antes disso uma amiga mandou mensagem perguntando do tsunami e eu estava dormindo. Acordei desorientada, não sabia se era terremoto, onde tinha tremido. Foi confuso por um momento pelo fato de não receber o alerta do governo”, relatou.
Ter outros aplicativos que notificam sobre desastres naturais é uma forma de reforçar a segurança, caso os alertas oficiais não cheguem em um momento de emergência. No caso de Luisa, o fato de entender o idioma japonês facilitou na hora de verificar a situação, o que é mais complicado para quem não tem compreensão da língua.
Operadoras
Há várias possibilidades quando o alerta oficial não chega no aparelho do cidadão. Segundo as informações da Softbank, uma das maiores operadoras de telefonia do Japão, a notificação pode não chegar se houver problema no sinal da operadora ou se o usuário estiver com as notificações de emergência do aparelho desligadas. Além disso, o aviso não será exibido se o celular estiver no modo avião, desligado ou fora da área de serviço.
O problema também pode acontecer se o usuário estiver em uma vídeo chamada, em uma ligação, transferindo dados para outro aparelho ou utilizando o serviço internacional de roaming de dados. Para checar se o recebimento de alertas está ativado, verifique as configurações do seu aparelho da Apple ou Android. Na aba de notificações, há a opção de ativar os avisos oficiais.
Sirenes
Quando houver um perigo muito grande e sério, as sirenes começam a soar sem parar por toda a região e são feitos anúncios falados pelos alto falantes da cidade pedindo para evacuarem a área.
Boas relações com os vizinhos
Manter boas relações com a vizinhança também é importante. Os vizinhos podem te ajudar a alertar em casos urgentes e também facilita o pedido de ajuda ou orientação em momentos como do sábado passado, quando não se sabe direito o que fazer.
Avisos em português ou inglês
O episódio do tsunami serviu para reforçar a necessidade de se manter atento aos alertas sobre desastres naturais e preparado para o caso de ter que se deslocar para um abrigo com urgência. O Japão é um país que vive sob a constante ameaça de terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas e outros fenômenos da natureza.
O país é preparado para lidar com desastres naturais, mas não consegue garantir a proteção de cada cidadão se não houver consciência dos riscos e o que fazer em uma emergência. Enquanto a prevenção é natural para os japoneses, que crescem com essa cultura, os estrangeiros que vieram de países com menos ameaças de desastres, como é o caso do Brasil, podem ter dificuldade.
Para garantir o recebimento das notificações necessárias, é possível contar com o auxílio de alguns aplicativos gratuitos. Para quem vive na província de Shizuoka, que abriga uma boa parcela da comunidade brasileira, é interessante instalar o “Shizuoka Bousai” (静岡防災) no smartphone. O aplicativo tem versão em português e informa sobre as principais notícias, localização de abrigos locais e treinamentos.
Outra possibilidade é o aplicativo do Yahoo, chamado de “Bousai Sokuho” (防災速報). A plataforma é completa, exibe notícias sobre situações de desastres e envia notificações sempre que há uma emergência. Embora o aplicativo seja em japonês, é possível configurar para verificar as notícias em inglês.
Há ainda o aplicativo *Safety tips*, recomendado pelo governo do Japão e que oferece informações gerais sobre desastres naturais e alertas em todo o país. A plataforma pode ser utilizada em português e tem um menu interativo, em que o usuário pode navegar para saber informações como a situação atual de vulcões e registro diário de terremotos.
Prevenção de desastres
Acesse a página de Prevenção de desastres da Record TV Japan e verifique através do MAPA DE SIMULAÇÃO DE DESASTRES (em japonês – instruções em português aqui), os perigos que podem ocorrer em sua região.
O governo japonês tem se esforçado para acolher as comunidades estrangeiras no sistema de prevenção, fornecendo alertas e informações em vários idiomas. Na página oficial sobre prevenção de desastres, é possível acessar um guia em português com todas as orientações. O governo recomenda que o guia seja impresso para facilitar a consulta no dia a dia.
No guia, há informações sobre como se preparar para um desastre natural. O cidadão deve ter um estoque de água e alimentos com prazo de validade longo. É imprescindível verificar a localização do abrigo mais próximo com antecedência e ficar atento aos avisos oficiais, da mídia e pelos aplicativos.
Verifique o guia em PDF para saber mais. O arquivo é em japonês, mas basta acessar o código QR no fim da página com o celular para carregar a versão em português ou em outro idioma. Veja aqui. (http://www.bousai.go.jp/kyoiku/gensai/pdf/poster_A3.pdf)
Procure sempre estar informado sobre prevenção de desastres e participe de treinamentos para que saiba como agir corretamente e estar preparado.