País surpreendeu ao pedir que as companhias aéreas não aceitem novas reservas até o fim de dezembro. Governo voltou atrás na decisão, mas a insegurança permanece

 

 

 

Texto: Ana Paula Ramos/Record TV Japan
Foto: AdobeStock

 

 

 

 

Viviane Fogaça (40), vive em Echizen, na província de Fukui, e estava animada para levar os dois filhos adolescentes, de 14 e 16 anos, para passar o fim de ano no Brasil. A viagem, organizada com três meses de antecedência e marcada para o dia 9 de dezembro, acabou cancelada pelo medo de não conseguir retornar.

 

“Os vistos dos meus filhos vencem em fevereiro. Se estivermos lá e as fronteiras fecharem, eles vão perder. Eu tentei conversar na Imigração para tentar renovar o visto antes, mas eles falaram que não podia”, contou, assustada. “Vi muitos relatos de pessoas que foram ano passado para passar 20 dias no Brasil e acabaram ficando 6 meses e isto me deixou com medo”, disse.

 

Quando as fronteiras foram fechadas no início da pandemia em 2020, o Japão chegou a impedir o retorno de residentes estrangeiros, mesmo com autorização de reentrada e visto válido. A medida acabou causando transtornos e foi retirada, mas o cancelamento de voos, vencimento de vistos e outras circunstâncias deixaram cidadãos com residência no Japão por meses sem conseguir retornar.

 

Desta vez, a variante ômicron, descoberta em novembro na África, assustou pela possibilidade de ser ainda mais contagiosa do que a Delta e mais resistente aos imunizantes. O Japão agiu rápido na tentativa de impedir o desembarque da variante no país: proibiu novas entradas de estrangeiros que se tornariam residentes e chegou a solicitar que as companhias aéreas parassem de vender passagens para o mês de dezembro.

 

A medida acabou indo longe demais, gerou críticas e o governo japonês voltou atrás na decisão um dia depois de anunciar. No momento, o país segue fechado para novas entradas, mas aceita o retorno de japoneses e residentes estrangeiros, mediante as condições de quarentena em hotéis designados pelo governo e em casa.

 

Entretanto, a implementação de medidas rigorosas e repentinas, que entram em vigor da noite para o dia, acabaram assustando aqueles que precisam viajar, estão de malas prontas para vir ao Brasil, mas seguem inseguros quanto ao retorno ao Japão na data prevista.

 

Incertezas nas fronteiras

 

Luisa Yamada (nome fictício), tem 25 anos e mora na província de Fukui. Ela está com a viagem marcada ao Brasil este mês e decidiu ir mesmo com as incertezas da situação atual. Um dos motivos é que a viagem não é de lazer, mas para ver os pais que não estão em boas condições de saúde.

 

“Vou visitar a minha mãe que tem Alzheimer e está muito debilitada. O meu pai tem idade avançada e preciso vê-lo também. Estou com a passagem de volta para janeiro e apesar do medo, tenho fé de que vai dar tudo certo”, disse.

 

A brasileira não acredita que o Japão tomará medidas que afetem os residentes, como aconteceu no início da pandemia. 

 

“Para nós que temos o visto e autorização de reentrada, estamos ainda com o certificado de vacina, acredito que não vamos ser impedidos de voltar. Eu estou indo sem o meu esposo e tenho que voltar, tenho meus compromissos no Japão”, contou.

 

A brasileira Sara (nome fictício), de 25 anos e que vive na região de Nagoia (província de Aichi), também está com medo de viajar. Ela está com as passagens compradas para passar o Natal no Brasil com o filho de 1 ano e 7 meses e se tudo correr bem, deve voltar ao Japão em fevereiro.

 

“Estamos com um pouco de medo de fechar e não conseguirmos voltar. Mas estou indo fazer uma surpresa para os meus pais, que não sabem que vamos passar o fim de ano com eles no Brasil”, contou.

 

Sara acredita que não terá problemas, mas fica preocupada com a possibilidade de o governo japonês tomar decisões repentinas que afetem o retorno, como já aconteceu no início da pandemia ou mais recentemente com a variante ômicron.

 

“Estamos nos preparando para o caso de ter que adiar o retorno. Guardamos um pouco mais de dinheiro para não faltar caso precise ficar lá. Temos amigos e parentes no Brasil para nos ajudar, meu marido é soldador e acho que consegue algum serviço para nos manter se precisar”, revelou.

 

Ômicron no Japão

 

Em um mês desde que foi descoberta em Botsuana, no sul da África, a variante ômicron já se espalhou para pelo menos 50 países e chegou também ao Japão. 

 

Até a sexta-feira (10), as autoridades japonesas já haviam confirmado doze casos: um diplomata da Namíbia que chegou ao país no dia 28 de novembro foi o primeiro caso, seguido por viajantes do Peru, Itália e Nigéria. Depois, outras oito pessoas foram diagnosticadas com o vírus.

 

Os casos foram identificados logo na chegada ao país e tratados diretamente na quarentena. Nenhum dos infectados apresentou sintomas graves da doença. 

 

As autoridades japonesas consideraram todos os viajantes e a tripulação do mesmo voo como casos suspeitos da variante e passaram a verificar as condições de saúde com mais atenção durante o período de quarentena.

 

Atualmente, os japoneses ou estrangeiros residentes que chegam ao Japão devem apresentar um teste PCR negativo, realizado até 72 horas antes do embarque. O cidadão deve passar de três a 10 dias em um hotel designado pelas autoridades do setor de quarentena até realizar um novo teste e receber uma liberação para finalizar o período de isolamento, que tem 14 dias de duração, em casa ou outro local.

 

Neste período, não é permitido pegar transporte público ou sair pela cidade. O viajante deve enviar relatórios de saúde através do smartphone, ter a localização controlada e se manter comunicável caso seja contatado. É preciso ainda assinar um termo de comprometimento com as condições e, se ocorrerem violações, o estrangeiro ficará sujeito a perda do visto.