País conhecido pelos filmes de terror parece fazer jus à fama. Brasileiros relatam experiências traumáticas com aparições repentinas e episódios inexplicáveis

 

 

 

Texto: Ana Paula Ramos/Record TV Japan
Antigo túnel Honzaka em Hamamatsu, um dos locais conhecidos por aparições de fantasmas no Japão – Foto: Ana Paula Ramos/Record TV Japan

 

 

 

 

Dono de uma cultura forte relacionada ao mundo do terror, o Japão é o país da floresta do suicídio, dos túneis abandonados, templos misteriosos e produções cinematográficas horripilantes. Como se não bastasse, caçar fantasmas é quase um hobby no país. 

 

No verão, jovens procuram locais com rumores de assombrações em busca do frio na barriga e de experiências do além. E não é preciso fazer longas viagens para encontrar um lugar conhecido por ser mal-assombrado. Há “pontos de fantasmas” em todo o país, à disposição dos destemidos.

 

O interesse no assunto é tão elevado que a empresa Camping Car K.K, que gerencia um site com dicas de viagens de carro, montou um ranking dos 100 locais de fantasmas mais perigosos do Japão, que foi divulgado em junho deste ano. A lista foi montada com base em pesquisa e na quantidade de relatos de aparições.

 

Em primeiro lugar ficou o antigo túnel Inunaki (Kyu-Inunaki), localizado na cidade de Hisayama (Fukuoka). O túnel abandonado é tão conhecido pelas aparições fantasmagóricas que inspirou o filme de terror Inunaki-mura, dirigido por Takashi Shimizu e lançado em 2019. Uma das razões para a fama é que em 1988 aconteceu um assassinato dentro do túnel.

 

Um operário de 20 anos foi abordado por um grupo de cinco adolescentes enquanto voltava da fábrica para a casa, na cidade de Tagawa. Eles queriam o carro e a vítima recusou a dar. O grupo tomou o automóvel mesmo assim e fez o homem de refém, levando-o para a casa de um dos comparsas. Mais tarde, eles decidiram levar a vítima ao túnel, jogaram gasolina no corpo dele e o queimaram vivo.

 

Essa história aumentou os rumores em volta do túnel, que já era conhecido como um local de fantasmas. O segundo lugar do ranking ficou com outro túnel abandonado, desta vez em Kumamoto. Chamado de “Kyu-Ashikita”, o local foi palco de um acidente fatal com operários que trabalhavam em uma obra. O título de terceiro local mais assustador do país é do Templo Awashima, em Wakayama. 

 

O santuário é conhecido por ser um local de força feminina, onde mulheres oram e pedem por saúde. Mas assusta por empilhar mais de 20 mil bonecas. Reza a lenda de que os cabelos das bonecas crescem.

 

Para quem vive no Japão, nem sempre é preciso fazer uma busca proposital em um desses pontos para se deparar com algo fora do comum. Mesmo na comunidade brasileira, formada por cerca de 208 mil pessoas (segundo os dados mais recentes do Ministério da Justiça), não são raros os relatos de quem já teve uma experiência difícil de explicar.

 

A Record TV Japan conversou com alguns brasileiros que nunca esqueceram episódios horripilantes que passaram em suas vidas cotidianas. Confira as histórias:

 

Carro fantasma em Fukushima

 

Em fevereiro de 2015, Tarcila Borghi (39) voltava para Fukushima (província onde mora) depois de uma viagem de carro até Tóquio para buscar um cachorro que estava disponível para adoção. O marido tinha acabado de tirar a carteira e o casal foi até a capital com o filho pequeno. Eles pegaram o cão e tudo parecia em ordem, mas os problemas começaram no caminho de volta.

 

Tarcila Borghi, no dia em que foi buscar o cão em Tóquio e passou pela experiência do carro fantasma – Foto: Arquivo pessoal/Cedida

“Nós sabíamos mais ou menos o caminho e a hora da chegada. Já estávamos em Fukushima, a cerca de 2 horas de casa, quando o GPS parou de funcionar. A gente passava por uma montanha, em uma estrada rodeada por abismo e pensei que devia ser normal”, contou.

 

Perdidos na montanha, com medo de acabar a gasolina e sem ninguém por perto para perguntar, Tarcila conta que começou a sentir medo. De repente, um carro branco apareceu na estrada em alta velocidade e parecia que ia colidir com o carro da família, mas não foi o que aconteceu.

 

 

“Ele passou por nós, como se tivesse entrado no carro. A gente gritou e quando olhamos, o carro foi passando e virou, como se tivesse seguido a estrada e sumiu. Ficamos naquele desespero. O susto foi muito grande”, relatou.

 

Um pouco depois do episódio, o GPS voltou a funcionar e eles chegaram na cidade. Como estavam com fome e ainda muito assustados, pararam em uma loja de conveniência no caminho para a casa.

 

“Nós perguntamos na loja o que tinha na montanha, estávamos muito impressionados. Aí nos falaram que tem um certo trecho em que um Honda Fit branco com uma família tinha sofrido um acidente. A gente ficou traumatizado e nunca mais voltamos lá. Ainda mais porque nós três, eu o meu marido e o meu filho, vimos ao mesmo tempo”, disse. 

 

Menina atropelada em Mie

 

Cristiane Yamada (35) vive há 19 anos no Japão e conta que já passou por várias situações marcantes, de aparições e assombrações em seu apartamento. Há cerca de um ano, a brasileira teve uma experiência aterrorizante enquanto voltava para a casa.

 

“Eu estava chegando de carro e na esquina do meu prédio tinha uma menina japonesa de camisa preta e shorts azul, cabelo preto até o ombro. Como eu ia virar o carro, diminui a velocidade para esperar ela passar e então ela sumiu. Comecei a procurar por todos os cantos. A pessoa que estava comigo no carro ficou perguntando o que eu estava procurando, porque não viu menina nenhuma”, contou.

 

Outro episódio marcante ocorreu em 2012, na cidade de Yokkaichi. Desta vez, a experiência foi com uma idosa misteriosa.

 

“Todos os dias na hora que eu voltava do trabalho tinha uma velhinha em pé perto do meu estacionamento. Eu sempre tomava cuidado para não atropelar. Ela tinha uma aparência agradável que não causava medo, mas do nada desaparecia”, revelou.

 

Cristiane começou a reparar que a idosa aparecia na mesma hora e no mesmo lugar todos os dias e pensou em abordá-la, mas a mulher desaparecia.

 

“Teve um dia que veio uma mulher pintar o meu cabelo em casa. Já era tarde quando ela foi embora e nos despedimos normalmente. No outro dia ela me ligou e falou que o marido tinha visto uma senhora japonesa caminhando pelo estacionamento, que ela aparecia e desaparecia do nada. Ele disse para a esposa que nunca mais ia voltar lá”, relatou.

 

A boneca amaldiçoada em Aichi

 

Valquiria Murari (55), tem quase 30 anos de Japão e nunca esqueceu uma experiência sobrenatural que vivem por volta de 1998. A brasileira chegou no país em 1993 e na época existia o famoso “lixão” duas vezes ao ano, quando muitos japoneses renovavam os móveis da casa e se desfaziam de itens domésticos em boas condições.

 

Imagem ilustrativa/ Unsplash

Isto atraía muitos brasileiros nos pontos de descarte, para pegar móveis, eletrodomésticos e outros itens para a casa.

 

“A gente se reunia e mais ou menos pelas 23h saíamos rumo aos pontos do lixão, íamos em quase todos. Era aquela turma, cada um com o seu carro. E naquela época a minha filha estava com 7 anos e a febre era uma boneca e os desenhos da Sailor Moon. Minha filha era doida por uma boneca que era caríssima”, explicou.

 

Por sorte ou azar, em uma noite de “lixão”, a brasileira encontrou uma boneca nova, descartada ainda na caixa, de cerca de 1 metro de altura.

 

“A boneca era maior que a minha filha”, disse. “Eu peguei na hora porque a disputa era grande. Muita gente nesse horário. Levei para a casa e como os meus filhos já estavam dormindo quando eu voltei, tirei da caixa e coloquei em pé ao lado do sofá da sala, para fazer uma surpresa para a minha filha quando acordasse de manhã”.

 

A brasileira foi dormir feliz e em paz, empolgada com a ideia de presentear a filha no dia seguinte. No entanto, no meio da madrugada, um barulho a despertou.

 

“Era um barulho terrível, parecia que estavam destruindo a sala. Meu marido trabalhava naquela noite e eu estava sozinha com as crianças. Tive muito medo na hora porque era assustador. Esperei na cama até que parasse e me levantei com cuidado. Nem passou pela minha cabeça que fosse algo a ver com a boneca”, disse.

 

Valquíria passou a caminhar lentamente, olhando para os lados, como a mocinha de um filme de terror. Quando chegou na cozinha e bateu o olho na sala, enxergou a boneca arrebentada.

 

“Era cabeça de um lado, braços e pernas de outro. Ela estava descabelada e as roupas rasgadas. Eu quase enfartei. Fiquei sem reação, tentando entender. A boneca estava intacta, novinha dentro da caixa e de repente a vi toda arrebentada”, contou.

 

Impressionada com a cena, ela tratou de recolher as partes, colocou em um saco de lixo e deixou na varanda. “Eu nunca mais peguei nenhum tipo de lixo, nem móveis e nem eletrodomésticos. Nunca mais. Por fim o lixão acabou extinto, mas essa história ficou”.