Pandemia se agravou no país desde o mês passado e o ritmo de vacinação continua abaixo das expectativas

 

 

 

Texto: Ana Paula Ramos/Record TV Japan
Foto: AdobeStock

 

 

 

Uma correspondência é enviada para as residências no Japão quando chega o momento de tomar a vacina do coronavírus. A carta, no entanto, não tem sido garantia de receber as doses do imunizante.

 

Desde julho, a mídia japonesa vem noticiando problemas no fornecimento das vacinas, que tem afetado váras prefeituras. De acordo com a Agência de Notícias Jiji, cidades em regiões diferentes do Japão estão suspendendo ou limitando o agendamento, por não terem doses suficiente e o fornecimento do governo segue abaixo do esperado.

 

A cidade de Yamagata chegou a suspender por completo a vacinação da primeira dose em julho. O prefeito, Takahiro Sato, disse em entrevista que a vacinação estava acelerada, mas o governo não reabastecia o estoque. Problemas parecidos também foram registrados em muitas outras províncias, na região central do Japão, em Kansai e Kanto, províncias próximas a Tóquio.

 

Seja pela falta de vacinas ou pela falta de vagas, o fato é que muitos brasileiros estão tentando agendar há semanas – ou meses – e não conseguem definir uma data. A espera tem sido angustiante e mais um indicativo do ritmo lento de vacinação no país.

 

Tatiana Mizuno, de 41 anos, vive na cidade de Iwata (Shizuoka) e está enfrentando um desafio para se vacinar. Ela conta que recebeu a correspondência do agendamento há mais de um mês, mas segue sem conseguir tomar a primeira dose.

 

“Está muito difícil agendar. Eles falam para ligar tal dia, mas você fica ligando e nada. Aí quando consegue falar, eles dizem que não tem mais vaga. A situação está ficando cada vez pior e a gente entra em desespero, ainda mais quando se tem filhos”, desabafou.

 

Mãe de um casal de gêmeos, Giulia e Lucca, de 13 anos, a brasileira está ansiosa pela vacina e conta com o imunizante para proteger a família contra o vírus.

 

“Eu tenho pressa também porque o meu filho tem bronquite asmática. Agora temos que esperar até o dia 3 de setembro para tentar de novo. Espero que eu consiga logo porque está muito preocupante”, disse.

 

Tatiana Mizuno e os filhos, Giulia e Lucca – Foto: Arquivo pessoal/Cedida

Em Joso (Ibaraki), um cenário parecido vem se desenhando. Larissa Hirose, de 25 anos e o marido Hissao, de 42 anos, estão há mais de 2 meses esperando a oportunidade de tomar a vacina, desde que a correspondência do agendamento chegou em casa.

 

“Todas as vezes que ligamos a resposta é de que acabaram as vagas. Eles pedem para ligar de 15 a 20 dias depois. Eles liberam a ligação às 9h da manhã e meu marido liga às 9h20 e então já vem a resposta de que não tem mais vaga”, relatou.

 

A brasileira também tem enfrentado dificuldades com a comunicação na hora de pedir informações sobre o agendamento.

 

“O atendimento para estrangeiros é ruim. O meu marido sabe japonês, mas a atendente fala palavras difíceis para não entender mesmo. Meu esposo ligou na prefeitura e reclamou e eles disseram que iam dar um jeito. Agora, quando liga, a pessoa tem mais paciência e fala devagar”, explicou.

 

O casal trabalha atendendo ao público e Larissa tem uma viagem marcada para o Brasil em outubro. As circunstâncias geraram ainda mais ansiedade pela vacina. “Está muito difícil para a gente porque temos empresa e trabalhamos com muitas pessoas. E ainda estou prestes e ir ao Brasil e o meu desejo era ir vacinada”, diz.

 

A dificuldade com a vacina também está provocando desânimo e ansiedade em Shiga. Priscila Knbr, de 31 anos, mora em Higashiomi e foi informada de que não tem vacinas no momento e a previsão é para outubro.

 

“Tem dois meses que recebi a correspondência do agendamento. Eu fui direto no local onde estão aplicando as doses para me informar e disseram que era melhor eu ir na prefeitura por ser estrangeira. Eu fui e a funcionária disse que no momento não tem vacinas e que talvez comece de novo em outubro”, contou.

 

Priscila foi orientada a fazer o registro pelo aplicativo de mensagens LINE e aguardar o aviso para poder agendar. “Eles mandaram mensagem avisando que o agendamento vai ficar para outubro e estou feliz porque pelo menos consegui marcar”, comemorou.

 

Os dados do governo japonês mostram que até a sexta-feira (27), 54,5% da população geral tomou apenas a primeira dose e 43,5% foi vacinada com as duas doses. Entre a população idosa, a média é mais alta: 89,3% dos cidadãos acima de 65 anos tomaram a primeira dose da vacina e 86,9% já se imunizaram com as duas doses.

 

Na última semana, um incidente culminou em uma previsão de atraso ainda maior na imunização no país. Fragmentos de um metal que está em análise se misturaram com os componentes da vacina do laboratório da Moderna, durante a fabricação na Espanha. 

 

O governo japonês cobrou medidas preventivas da Farmacêutica Takeda, responsável pela distribuição das doses no país. Para evitar possíveis problemas de saúde, o Ministério da Saúde do Japão suspendeu a aplicação de 1,6 milhão de doses fabricadas no mesmo local e no mesmo período.

 

Vacinados com sucesso

 

Apesar das dificuldades atuais para conseguir se vacinar, mais da metade da população já tomou pelo menos a primeira dose e muitas famílias brasileiras já estão com as duas doses completas.

 

Este é caso de Germania Akaishi (45), que vive com o marido Masao (46) e os três filhos, Yuta (17), Kento (14) e Takeshi (10) em Tóquio. Ela conta que recebeu a correspondência em maio para marcar o dia da vacina.

 

“O agendamento foi rápido. Eu, o meu marido e o meu filho mais velho tomamos entre julho e agosto. O meu filho do meio vai ser em setembro, porque ele é estudante ginasial e precisa esperar a idade. Fora isso, foi tudo muito rápido”, comentou.

 

Em Kikugawa (Shizuoka), a família de Solângela Kushiyama Nakaya (56), também se vacinou sem atrasos. O marido Edson (56) e as filhas Tamilyn (24) e Emilyn (19) tomaram as duas doses da Pfizer. Por entrar na lista de comorbidades, eles conseguiram realizar a inscrição mais cedo pela internet e receberam uma correspondência confirmando as datas.

 

“Em casa todos temos um pouco de bronquite e o meu marido tem pressão alta e diabete. Minha filha entrou no site e fez a inscrição para todos. Alguns dias depois ligaram perguntando as datas e locais de preferência e depois recebemos a correspondência confirmando”, contou.

 

As doses foram entre julho e agosto e não houve contratempos e nem reações. “Meu marido e minha filha mais velha tomaram a primeira dose no dia 17 de julho e a segunda três semanas depois. Eu e a caçula tomamos a primeira dose no dia 31 de julho e a segunda em 21 de agosto. Além de um pouco de dor no braço, não tivemos reações”, disse.

 

O cenário da pandemia no Japão

 

A pandemia tem se agravado no Japão desde o mês passado. Enquanto Tóquio tem registrado mais de 4 mil novos casos diários de coronavírus, outras províncias populosas, como Osaka e Kanagawa, estão chegando aos 3 mil novos casos em um período de 24 horas. Na sexta-feira (27), foram mais de 24 mil novos casos em todo o Japão, com 57 óbitos, de acordo com o levantamento da emissora NHK.

 

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Já são mais de 1,4 milhão de casos no Japão desde que a pandemia começou no início de 2020 e cerca de 15.800 mortes em decorrência das complicações do coronavírus. 

 

A situação tem pressionado também os hospitais com um maior número de casos graves, principalmente em Tóquio. Na semana passada, a mídia japonesa relatou o caso de um homem de 45 anos que pegou o coronavírus do filho, que é estudante universitário.

 

Ele vive com a esposa, dois filhos e a mãe idosa e estava se tratando em casa até que os sintomas pioraram, com febre alta e dificuldade de respirar. O homem precisava de internação e a esposa chamou a ambulância. O veículo de emergência ficou parado perto da casa do paciente e houve uma recusa de 100 hospitais para a internação.

 

Esta situação tem provocado a morte de pacientes em estado grave, que estão sendo obrigados a se tratar em casa por não tem vagas disponíveis em hospitais. Tóquio deu início aos Jogos Paralímpicos ao mesmo tempo em que a luta contra o coronavírus se tornou ainda mais árdua. 

 

No dia 23 de agosto, o levantamento da NHK apontou que o número de internações na província passou de 4 mil pela primeira vez e cerca de 25 mil pacientes estavam se tratando dentro de casa.

 

Quando o governo de Tóquio dava conta de levar os casos leves e medianos para hotéis, ainda havia a possibilidade de proteger os membros da família durante o tratamento. Agora, famílias de pacientes enfrentam o desafio de prestar assistência ao doente e evitar a contaminação ao mesmo tempo.