Tempo de espera mais longo para o visto e dificuldade de embarcar com a família tem gerado preocupações em quem pretende recomeçar no país oriental

 

 

 

Texto: Ana Paula Ramos/Record TV Japan
Foto: AdobeStock

 

 

 

 

Quando a situação no Brasil não está favorável e a ascendência japonesa permite migrar ao país dos antepassados com facilidade, tentar a vida no Japão se torna uma opção a se considerar.

 

A mudança de famílias brasileiras ao país oriental é algo comum, mas, no último ano, as medidas para conter a pandemia colocaram obstáculos aos casais, com ou sem filhos, que se preparavam para vir do Brasil.

 

Muitos brasileiros que planejavam vir com a família foram pegos de surpresa por mudanças nas regras e tiveram que se separar temporariamente. No geral, o marido ou a esposa precisa vir na frente e então pede a junção familiar, para que o parceiro (a) e os filhos possam embarcar algum tempo depois.

 

Publicações em grupos das redes sociais têm mostrado famílias receosas com o processo de mudança. Há preocupações com o a possibilidade de não conseguir a junção familiar ou de acabar tendo que esperar muito tempo até a reunião.

 

Para muitas famílias, este pesadelo começou pouco antes da pandemia, quando um membro foi na frente, mas a parte que ficou no Brasil não conseguiu embarcar por causa do fechamento de fronteiras.

 

 

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Celma Nobori Kawaguchi, de 29 anos, passou pelo drama de ficar longe das filhas. Ela chegou no Japão em janeiro de 2019 com o marido e o filho de então 4 anos, mas teve que deixar as duas filhas no Brasil, planejando buscá-las logo depois de organizar a vida.

 

“Nossa situação financeira estava complicada no Brasil e não conseguimos custear todas as passagens. As meninas ficaram com a minha mãe e combinamos de buscá-las no ano seguinte. Só que então começou a pandemia e não conseguimos trazê-las”, relatou.

 

Celma, que vive atualmente em Toyohashi (Aichi), diz que chegou a cogitar o retorno ao Brasil por causa das filhas, que tem 7 e 11 anos. “Foi bem complicado. Eu e o meu marido chegamos ao nosso limite e conversamos que se o visto não saísse nós iríamos voltar para o Brasil”, contou.

 

Os vistos voltaram a ser emitidos e o casal deu entrada na elegibilidade em janeiro deste ano. O documento saiu em junho e o visto no mês passado. Agora, um ano e meio depois do planejado, a situação está a ponto de se resolver. “Estou indo ao Brasil buscar as minhas filhas finalmente neste mês. Estou muito feliz e aliviada”, comentou.

 

Atraso nos planos

 

Os planos da brasileira Luciana Wihelm, de 42 anos e o marido, Marcos Antonio Kimura, de 52 anos, tiveram um longo atraso por causa da pandemia. O casal pretendia embarcar com o filho Henrique, de 15 anos, ao Japão no ano passado. Eles deram entrada nos documentos em outubro de 2020 e o plano era que a família não precisasse se separar.

Luciana Wihelm, o marido Marcos Antonio Kimura e o filho Henrique / Foto: Arquivo pessoal/Cedida

“Na época nós poderíamos ir os três juntos e fizemos a elegibilidade. Demos entrada em outubro do ano passado e os certificados saíram 42 dias depois. Isto foi em janeiro e o Japão estava com todas as fronteiras fechadas. A gente não podia mais ir”, lamentou.

 

Eles entraram no processo de aguardar a liberação, já que tinham as elegibilidades e não podiam viajar. No mês de abril, as entradas foram liberadas, mas as regras mudaram. “Quando reabriu, eles vieram com regras novas e nós já não poderíamos ir os três juntos. Meu marido, que é nissei (2ª geração), teria que ir na frente para depois pedir a junção familiar”, explicou.

 

O casal decidiu esperar para tentar viajar junto, mas nada mudou nos meses seguintes. Em junho, Marcos deu entrada no visto e logo embarcou. Depois dos 14 dias de quarentena, conseguiu os documentos necessários e pediu a junção familiar. Luciana e o filho se preparam para viajar em outubro.

 

“No meu caso, até ficamos pouco tempo separados. Mas todo este processo foi preocupante e desgastante por causa da pandemia. Não sabíamos se iam aprovar a junção familiar rápido ou não. As informações que recebíamos nem sempre eram precisas e se não fossem os impedimentos estaríamos lá desde o início deste ano”, comentou.

 

Neste meio tempo, Luciana conta que passou a participar de grupos online e conheceu várias pessoas em situação parecida, em que alguém da família precisou ir na frente.

 

“Tem mulheres e mães que ficaram muito mais tempo do que eu longe dos esposos. Algumas ficaram um ou dois anos longe porque o marido foi antes da pandemia e não conseguiu chamar a família. É ruim a gente estar separados agora, não era o nosso objetivo. Mas estamos felizes porque logo vamos embarcar”, disse.

 

Elegibilidade e visto

 

O processo do visto envolve a documentação do descendente e os certificados de elegibilidade, emitidos pela Imigração do Japão e necessários na hora do desembarque. Antes da pandemia, muitas famílias conseguiam embarcar juntas com os filhos, mas em muitos casos, a separação temporária é uma decisão do próprio casal.

 

Vanessa Kimura, consultora de vistos da empresa World Evolve em Mie / Foto: Arquivo pessoal/Cedida

Vanessa Kimura, que presta assessoria de visto na empresa World Evolve, na província de Mie, contou para a Record TV Japan que ambos os casos são comuns, pois há famílias com condições de virem juntas, enquanto outras não conseguem arcar com todas as despesas da viagem e os custos até se estruturar no Japão.

 

“Algumas pessoas optam por vir na frente. Tem os casos que querem vir a família toda, mas não conseguem por causa da pandemia e têm as pessoas que preferem que o marido ou a esposa venha primeiro, defina o local de moradia, comece a trabalhar e traga a família com a vida organizada”, explicou.

 

O período de separação se tornou mais extenso para aqueles que começaram a mudança antes da pandemia e foram interrompidos pelo fechamento de fronteiras. No entanto, Vanessa garante que há muitos casos em que a demora é resultado da falta de informação e preparo para acelerar a burocracia.

 

“A maioria quando chega ao Japão espera juntar três holerites para fazer a elegibilidade da família. Este é o caminho mais fácil para quem faz o processo e não tem muito conhecimento. Dá para encaminhar sem esperar estes três meses. Nós orientamos sobre os documentos a serem providenciados e então é possível dar entrada na primeira semana no Japão”, diz.

 

Quando o indivíduo pede a elegibilidade, o prazo para a emissão é de 90 dias. Antes da pandemia, os certificados tinham validade de 3 meses, agora estão sendo emitidos com o prazo de 6 meses, considerando possíveis restrições para embarcar e mais tempo de espera.

 

Se não houver problemas com os documentos e se o brasileiro conseguir encaminhar a junção familiar logo na chegada ao país, é possível encurtar o período de distância para menos de seis meses.

 

“Nesta fase em que a pessoa está esperando a elegibilidade sair, existe muito atrito entre o casal. A pessoa que está no Brasil às vezes não sabe a realidade do Japão, não entende que você trabalha em um serviço braçal que não estava acostumado. Tem o cansaço, a rotina e o fuso que atrapalham o contato e o relacionamento”, contou.