Ayrton Mitsuishi, que presta serviços de organização de finanças no Japão, falou sobre a importância de se planejar e evitar surpresas negativas

 

 

 

Texto: Ana Paula Ramos/Record TV Japan
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação

 

 

 

Viver o agora é uma importante filosofia budista que pode servir como norte para muitas questões pessoais, mas não se aplica ao assunto finanças.

 

O hábito de gastar sem planejamento e gerenciar a renda pensando apenas no hoje pode ter consequências desastrosas no futuro. Este é o alerta do planejador e consultor financeiro Ayrton Mitsuishi, que representa a Semear no Japão, uma empresa de organização de finanças com sede em São Paulo.

 

Ele atende brasileiros na comunidade e ajuda a mapear os gastos, calcular as despesas e realizar uma projeção que permita formular um plano de ação com foco nos objetivos. A experiência com os clientes tem mostrado que, na prática, muitas pessoas não possuem uma noção real do que ganham e o que gastam. Não é difícil ver o dinheiro sumindo em parcelas do cartão de crédito ou em despesas extras acumuladas, muitas vezes sem necessidade.

 

Em entrevista para a Record Japan TV, Ayrton falou sobre o perfil da comunidade e os riscos do descontrole financeiro.

 

“O maior problema do brasileiro no Japão é a falsa sensação de riqueza. Muitas pessoas passam por momentos difíceis quando estão no Brasil e, ao chegar no Japão, começam a ter um poder de compra que gera esta falsa sensação. Isto acarreta em gastos maiores, falta de controle e endividamento”, explicou.

 

Imagem Ilustrativa – ©AbodeStock

 

O consultor acredita que o problema também é comum entre os brasileiros que vivem no Brasil e há uma diferença notória com o perfil dos japoneses, que possuem um hábito cultural de poupar dinheiro.

 

“O japonês tem a cultura de poupar e isto ocorre em parte pelas circunstâncias do país. O povo está acostumado com os desastres naturais, as pessoas aprendem que precisam de uma reserva para os momentos de emergência. O brasileiro costuma ser mais tranquilo com relação a isto, há menos preocupações com momentos de aperto no futuro”, diz.

 

As pesquisas fortalecem esta ideia. Um estudo da Empresa Bizhits de fevereiro de 2021, realizado com 500 pessoas no Japão, revelou os principais motivos que levam os japoneses a pedir dinheiro emprestado. A maioria das respostas ficou entre gastos essenciais ou compra de carro, casa ou reforma.

 

Apenas 17 entrevistados falaram que pedem ou já pediram dinheiro emprestado para pagar a fatura do cartão de crédito. No Brasil, a questão do cartão de crédito e o cheque especial são centrais. Em dezembro de 2020, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indicou aumento do endividamento nas famílias que vivem no Brasil.

 

O estudo apontou que cerca de 66% dos consumidores possuem dívidas. O uso do cartão de crédito é rotina em 79,4% dos lares brasileiros e é o vilão do endividamento e a famosa “bola de neve” nas finanças.

 

“O cartão de crédito é uma das maiores armadilhas financeiras e um dos motivos da falsa sensação de poder de compra. O usuário consegue comprar rápido com um dinheiro que ele não tem. Ele está contando que terá no mês seguinte. Quem tem o hábito de parcelar em muitas vezes corre mais riscos de perder o controle das finanças”, diz Ayrton.

 

Vantagens e prejuízos

 

Muitas pessoas vivem por anos sem controle financeiro, fazendo malabarismos a cada mês para pagar as contas, ganhar mais dinheiro com horas extras e cobrir todas as despesas acumuladas. 

 

Ayrton considera este estilo de vida como uma “montanha-russa de emoções”, pois mesmo os gastos obrigatórios, como o imposto anual, se tornam surpresas desagradáveis quando a vida financeira está fora de ordem.

 

“Levar a vida sem controlar os gastos traz dois grandes prejuízos. Um deles é a falta de preparo para um momento de crise. Se não há uma reserva, o trabalhador acaba tendo que retornar ao Brasil, como aconteceu na crise de 2008. Outra questão é a velhice. Quando o trabalho começa a ficar escasso e não há uma poupança, muitos enfrentam miséria na fase em que deveriam usufruir”, alerta.

 

Por outro lado, o planejamento garante benefícios que vão além do bolso, como a redução do estresse e o conforto emocional.

 

“Quando a vida financeira está organizada, você consegue enxergar o seu potencial, criar metas e investir. Há a certeza de um futuro e isto traz tranquilidade e paz de espírito. São muitas as vantagens”, garante.

 

©Divulgação / Arquivo Pessoal

Dicas do planejador financeiro:

 

– Centralize seus gastos em um único cartão ou em dinheiro para manter um melhor controle sobre como o seu dinheiro está sendo utilizado.

 

– Procure se questionar antes de fazer uma compra. Você realmente precisa deste produto ou é um impulso? Qual o motivo de querer realizar esta compra?

 

– Cuidado com o cartão de crédito. Evite parcelar em muitas vezes. Se a compra custou ¥10 mil e você decide pagar ¥1 mil por mês, cabe no seu orçamento. O problema é quando se tornam várias parcelas similares, você vê o dinheiro sumir e perde a noção das despesas.

 

– Atitudes simples podem gerar grandes economias. Se o trabalhador consume dois cafés de ¥100 por dia na fábrica, ele gasta ¥2.000 em 20 dias e ¥24 mil em um ano. Coisas pequenas a longo prazo se tornam caras.

 

– Qualquer pessoa que tenha uma reserva pode e deve investir. Apostar nos investimentos no Brasil é particularmente vantajoso ao brasileiro no Japão, que lida com uma moeda mais valorizada do que o real. Basta saber onde e como aplicar o dinheiro.