Ainda lento, o processo de imunização da população adulta com mais de 16 anos está programado para o período de julho a setembro; enquanto isso, quatro províncias entram novamente em estado de emergência
Texto: Ewerthon Tobace/Record TV Japan
Foto: AdobeStock
Como numa reprise de filme, vivemos mais uma primavera no Japão com aumento diário e preocupante de casos de covid-19, o que levou o governo a declarar, novamente, “estado de emergência”, desta vez em quatro províncias: Tóquio, Osaka, Hyogo e Quioto. Em 2020, nesta mesma época, os japoneses corriam aos supermercados para garantir estoque de comida suficiente para ficar trancado em casa durante o Golden Week, ou Semana Dourada, feriado prolongado que engloba quatro datas – 29/04 é aniversário do ex-imperador Showa, 3/05 é o Dia da Constituição, 4/05 é o Dia do Verde e 5/05 é o Dia das Crianças.
Mas a situação está tão ruim assim? Na verdade, o Japão, com cerca de 550.000 casos e menos de 10.000 mortes, tem um cenário melhor do que a maior parte do mundo, embora não esteja tão bem quando comparado com outros lugares na Ásia. Temos de lembrar ainda que o governo local nunca impôs nenhum bloqueio rígido. Entretanto, o fato é que, a cerca de três meses da abertura oficial dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, o país quer mostrar ao mundo que consegue lidar com a pandemia e realizar um evento seguro para os mais de 11 mil atletas que virão competir.
Em março houve uma queda nas infecções, mas desde então os casos só aumentaram e, nesta semana, passaram dos 5 mil em um único dia. A responsável é uma nova variante do SARS-CoV-2, que se espalha mais rapidamente e tem infectado muitos jovens. As autoridades vêm pedindo a colaboração das pessoas, mas após mais de um ano, muitos já não seguem protocolos rígidos de proteção.
A vacina é uma esperança e muitos países avançam rapidamente na imunização da população, como Estados Unidos e Israel. No Japão, no entanto, a campanha caminha a passos lentos. Até agora, menos de 1% de toda a população foi vacinada. “Seremos capazes de realizar os Jogos mesmo sem vacinação”, afirmou Toshiro Muto, dirigente da Tokyo 2020, a repórteres esta semana. “Claro, se as vacinas forem disponibilizadas, isso seria uma vantagem… Mas, no que diz respeito a nós, independentemente da vacina, tomaremos contramedidas completas da covid-19 para poder realizar os Jogos”, garantiu.
De acordo com o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar, aproximadamente 1,93 milhão de imunizantes foram administrados até 18 de abril. Embora as vacinas estejam disponíveis atualmente apenas para trabalhadores médicos e idosos com 65 anos ou mais, o procedimento para a vacinação já está disponível e foi traduzido para 17 idiomas (incluindo o português). Veja aqui as informações oficiais. Um novo recurso no Yahoo Maps (somente em japonês) permite que se encontre as instalações médicas mais próximas de casa.
Marcas
O governo japonês tem acordos com a AstraZeneca, Pfizer e Moderna para doses suficientes para cobrir todos os 125 milhões de residentes, mas só aprovou a injeção da Pfizer até agora. Os testes clínicos locais começaram para a vacina Moderna em janeiro deste ano. A Pfizer também enviou os dados dos testes clínicos no final daquele mês. Parte do motivo pelo qual o Japão demora mais para aprovar as vacinas é porque ele exige mais testes clínicos do que outros países para que o imunizante seja considerado seguro.
Especialistas dizem que tanta cautela é baseada em parte por controvérsias anteriores sobre vacinas. Regras rígidas incluem a exigência de que as vacinas sejam testadas localmente além de testes internacionais. Segundo reportagem da AFP publicada nesta semana, também tem havido preocupações sobre as restrições às exportações que afetam a oferta, e o Japão já estocou doses significativas.
O país recebeu mais de 17 milhões de doses da Europa até agora – mas apenas cerca de 1,5 milhão de pessoas receberam a primeira injeção. Mas o governo garante que terá medicamento suficiente para toda a população até setembro, só não está claro quando essas doses serão administradas. As aprovações das fórmulas da Moderna e da AstraZeneca não são esperadas antes de maio, no mínimo, e há outros desafios, incluindo regras que permitem que apenas médicos e enfermeiras administrem as seringas.
O ritmo lento torna provável que a população do Japão, incluindo milhares de voluntários e equipes de apoio, não será vacinada quando os atletas começarem a chegar ao país. Segundo divulgou a NHK, os atletas japoneses devem receber a vacina no final de junho, embora o governo tenha dito que as vacinas não serão um requisito para participar e que os esportistas não furarão a fila.
Em março, a farmacêutica japonesa Daiichi Sankyo Co. iniciou a produção da vacina AstraZeneca. De acordo com os responsáveis pela empresa, o imunizante será distribuído imediatamente após ser aprovado pelo governo. Além disto, a Pfizer deve enviar mais 100 milhões de doses entre maio e junho. A meta é receber cerca de 10 milhões de doses a cada semana no próximo mês.
Preocupado com o lento andamento das vacinações, o primeiro-ministro Yoshihide Suga fez uma ligação esta semana com o CEO da Pfizer, Albert Bourla, e pediu agilidade na entrega das vacinas contra a covid-19. Por isso, o país deve receber em breve mais 50 milhões de doses adicionais. Ao todo, serão 144 milhões de doses da vacina da empresa farmacêutica. O Japão tem ainda contrato com a Moderna Inc., de quem deve receber 50 milhões de doses.
Primeira dose
Um estudo britânico divulgado esta semana mostrou que a probabilidade de ser infectado pelo novo coronavírus diminui drasticamente após a inoculação da primeira dose da vacina da Pfizer/BioNTech ou da AstraZeneca/Oxford. O levantamento concluiu, também, que a primeira aplicação dessas vacinas protege tanto pessoas mais velhas e mais vulneráveis quanto os mais jovens e saudáveis.
O trabalho conjunto do Office for National Statistics (ONS) e da Universidade de Oxford descobriu que há forte resposta imunitária em todas as faixas etárias depois da primeira dose de uma dessas vacinas. Segundo o estudo, divulgado em pré-publicação nesta sexta-feira (23), as inoculações tanto com a vacina da Pfizer quanto com a da AstraZeneca foram tão eficazes em indivíduos com mais de 75 anos e/ou em pessoas com problemas de saúde latentes, quanto em pessoas mais novas e/ou mais saudáveis.
O estudo, incluído em dois artigos que ainda não foram revistos, é baseado em testes realizados em cerca de 370 mil pessoas da população do Reino Unido e já é um dos maiores feitos até hoje, uma vez que fornece mais evidências em um cenário real sobre as vacinas usadas em território britânico e sua eficácia contra a infecção pelo SARS-CoV-2.
Os pesquisadores indicam que, ao reduzir as taxas de infeção, as vacinas não vão apenas prevenir as internações hospitalares e as mortes por covid-19, mas também permitir a quebra das cadeias de transmissão e, assim, reduzir o risco de um potencial ressurgimento da doença à medida que o Reino Unido vai aliviando as restrições.
A equipe de pesquisadores afirmou ao The Guardian que essas conclusões foram fundamentais para a decisão do governo britânico de priorizar a vacinação de uma primeira dose às pessoas mais velhas e aos grupos mais vulneráveis. “Não houve evidência de que as vacinas fossem menos eficazes entre os adultos mais velhos ou aqueles com problemas de saúde de longo prazo”, explicou Koen Pouwels, um dos autores do estudo.
Ao serem analisados os resultados dos testes de covid-19 da população em estudo, entre dezembro de 2020 e abril de 2021, concluiu-se que 21 dias após a primeira aplicação – o tempo que o sistema imunitário demora para criar uma resposta – as novas infecções pelo novo coronavírus diminuíram cerca de 65%. Isso significa que as pessoas que foram vacinadas com uma única dose das vacinas Oxford/AstraZeneca ou Pfizer/BioNTech tiveram 65% menos probabilidade de contrair nova infecção.
Contudo, as primeiras vacinas foram mais eficazes contra infecções sintomáticas do que assintomáticas, em comparação com a taxa de infeção na população não vacinada. Ao fim de três semanas após a aplicação da primeira dose, os casos de doença com sintomas diminuíram 74% e dos assintomáticos, 57%.
A investigação foi mais além: uma segunda dose da Pfizer pode proteger até 90% contra a infecção pelo vírus. A aplicação das duas doses, ou seja, a imunização completa com a vacina da Pfizer aumentou mais a proteção, reduzindo as infecções sintomáticas em 90% e as assintomáticas em 70%. Essa análise não foi feita com pessoas que receberam as duas doses da AstraZeneca, já que ela foi aprovada mais tarde e ainda não é possível avaliar o impacto da segunda dose na imunização da população. (com informações da Agência Brasil)