A menos de 100 dias para a Olimpíada de Tóquio, governo amplia medidas de controle da pandemia e ignora pedidos para que o evento seja adiado novamente ou cancelado

 

 

Texto: Redação/Record TV Japan

Comitê organizador está firme no propósito de realizar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio – Foto: AdobeStock

 

 

O número de mortes causadas pela SARS-CoV-2 no mundo chegou a impressionantes 3 milhões de pessoas neste sábado (17). O número de vidas perdidas, conforme compilado pela Universidade Johns Hopkins, é quase igual à população de Kiev, na Ucrânia; Caracas, na Venezuela; ou Lisboa, em Portugal. É maior que Chicago (2,7 milhões) e equivalente a Filadélfia e Dallas juntas. As campanhas de vacinação continuam em mais de 190 países, mas a passos lentos. E para piorar o cenário, alguns países veem o número de casos crescer e aprofundar a crise, como Brasil, Índia, França e mesmo os Estados Unidos, onde as imunizações estão a todo vapor. 

 

No Japão, a vacinação de mais de 36 milhões de idosos com mais de 65 anos começou nesta semana. O Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Social do Japão estima que, se tudo correr conforme o planejado, será capaz de distribuir lotes em quantidade suficiente para a aplicação de duas doses cada em todos os idosos do país até o fim de junho. Mas o aumento de casos no país traz preocupação a especialistas e autoridades. O governo da província de Osaka confirmou hoje (17) um total de 1.161 novos casos. O total diário ultrapassa a marca de mil pelo quinto dia consecutivo.

 

Já o governo metropolitano de Tóquio diz ter registrado 759 novos casos, segundo dados de até 15 horas deste sábado (17). O número na capital é o maior desde o fim do segundo estado de emergência, em 21 de março. No total, o número de pessoas que testaram positivo para o vírus na metrópole chega agora a 129.540. Os principais especialistas de saúde japoneses reconheceram que a pandemia de covid-19 entrou em uma quarta onda.

 

Outras províncias também observam um aumento de casos, como Hyogo, Kanagawa e Aichi. A província de Okinawa, no sul do país, registrou 167 novos casos no sábado, sendo também um total diário sem precedentes para a região. Por isso, o governo japonês considera um novo estado de emergência, que deve começar por Osaka, que não viu os números caírem apesar das medidas mais rígidas instauradas na região. “Com relação a Osaka, ainda não se passaram duas semanas desde que as medidas quase emergenciais foram iniciadas. Tomaremos uma decisão depois de examinar as condições depois disso”, afirmou o primeiro-ministro Yoshihide Suga, durante sua visita oficial à capital dos EUA. Ele explicou que o governo estava trabalhando com o governo municipal para garantir mais leitos hospitalares. “Há pressão sobre o número de leitos hospitalares, então instruí o governo nacional a dar tudo de si para fornecer mais públicos”, disse.

 

Esta semana, o governo japonês acrescentou Aichi, Kanagawa, Saitama e Chiba às seis regiões já sujeitas a controles de contágio, entre elas as cidades de Tóquio e Osaka. As ações incluem pedir que restaurantes e bares fechem às 20h, com multas por descumprimento, e limite de 5 mil pessoas em grandes eventos. As autoridades seguem pedindo para que as pessoas evitem ao máximo sair de casa, mas com o aumento da temperatura, o que mais se vê nas ruas são pessoas passeando, fazendo compras e se divertindo.

 

Olimpíada

 

Em meio a esse caos no mundo, a chefe da Olimpíada de Tóquio, Seiko Hashimoto, disse nesta sexta-feira (16) que o Japão está comprometido a realizar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de forma segura, apesar dos novos pedidos para que o evento seja adiado novamente ou cancelado. Esta semana, o comitê organizador marcou os 100 dias para a abertura, que será dia 23 de julho.

 

“Não estamos pensando em cancelar a Olimpíada”, garantiu a presidente da Tóquio-2020, Seiko Hashimoto, falando em nome do comitê organizador. “Continuaremos a fazer o que pudermos para implantar um regime de segurança minucioso que fará as pessoas se sentirem completamente seguras”, disse. No entanto, quase dois terços dos japoneses disseram que a Olimpíada deveria ser adiada ou cancelada, mostrou uma pesquisa da Jiji News nesta sexta-feira.

 

Mundo

 

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, disse que o número de novos casos de covid-19 por semana, em nível mundial, quase duplicou nos últimos dois meses e está próximo do valor mais elevado registrado até agora. A situação na Índia é uma das mais preocupantes atualmente, pois o país registrou, no último mês, o maior número de casos da doença no mundo. “Os casos de infecção e as mortes continuam a aumentar a uma velocidade preocupante”, alertou Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva nesta sexta-feira (16).

 

Tedros Adhanom: número de novos casos está próximo do valor mais elevado registrado até agora – Foto: ©OMS/Divulgação

 

 

No último relatório, divulgado no dia 13 de abril, a OMS informou que o número de casos de covid-19 no mundo aumentou pela sétima semana consecutiva, com mais de 4,5 milhões de novos registros na última semana. O número de óbitos também aumentou pela quarta semana consecutiva, alta de 7% em relação à semana anterior, com mais de 76 mil mortes notificadas.

 

Os maiores aumentos de novos casos ocorreram na Índia (873.296 novos casos, alta de 70%), Estados Unidos (468.395, aumento de 5%), no Brasil (com 463.092 novos casos, redução de 8%), na Turquia (353.281, avanço de 33%) e na França (265.444, alta de 9%). Toda semana surgem, em território europeu, mais de 1,6 milhão de novos infectados, apesar das restrições impostas pelos vários países e da campanha de vacinação em curso.

 

Índia 

 

A situação na Índia é uma das mais preocupantes atualmente, já que o país teve o maior número de casos de covid-19 no mundo no último mês. A Índia voltou a registrar, nesta sexta-feira (16), um recorde de novas infecções por covid-19, impulsionado pelas aglomerações em eventos religiosos e comícios eleitorais.

 

O país notificou 217.353 novos casos somente ontem, o que marca o oitavo dia consecutivo de aumento diário recorde. A Índia é o segundo país, em nível mundial, com o maior número de casos, cerca de 14,3 milhões. Registra ainda um total de 174.308 mortes desde o início da pandemia.

 

Enquanto luta contra uma segunda onda da pandemia de covid-19, com novas restrições impostas em Mumbai, Nova Delhi e outras cidades, aumentam os apelos para que as autoridades acelerem o programa de vacinação, já que os hospitais estão superlotados.

 

A Índia notificou 217.353 novos casos somente nesta sexta-feira – Foto: AdobeStock

 

 

Até agora, a Índia já administrou 115 milhões de doses de vacinas, o terceiro maior número no mundo, depois dos Estados Unidos e da China. No entanto, esse número de doses administradas cobre apenas uma pequena fração dos seus 1,35 bilhão de habitantes. A desaceleração na vacinação justifica-se pela falta de vacinas no país, que até agora foi um grande exportador.

 

Jovens

 

Especialistas vêm alertando que o número de casos entre jovens vem crescendo no mundo. Porém, segundo estudo publicado esta semana na revista científica The Lancet Respiratory Medicine, o contágio do coronavírus oferece alguma proteção à população jovem, mas não garante completa imunidade contra uma reinfeção.

 

A pesquisa, com base em dados de mais de 3 mil elementos saudáveis dos Marines norte-americanos, a maioria homens entre 18 e os 20 anos, concluiu que, ainda que se desenvolvam anticorpos após a recuperação da covid-19, é conveniente receber a vacina de modo a estimular a resposta imunitária e evitar reinfeções.

 

Para o estudo, desenvolvido entre maio e novembro de 2020, os recrutas fizeram uma quarentena de quatro semanas antes de regressar aos treinos, realizaram testes para detectar anticorpos e contágios e preencheram um questionário sobre sintomas de covid-19, entre outros dados médicos.

 

De acordo com a pesquisa, de tipo ‘observacional’, 19 jovens, (10%) de 189 que já tinham superado a covid-19, ficaram novamente infectados, enquanto no grupo dos que não tinham contraído o vírus, com 2.247 recrutas, contagiaram-se posteriormente 1.079, quase metade.

 

Os autores da pesquisa constataram que os jovens que nunca tinham estado infectadas com o coronavírus tinham cinco vezes mais risco de se contagiarem, do que aqueles que já tinham contraído a doença, ainda que os últimos não fossem completamente imunes.

 

Os pesquisadores mostram que os jovens reinfectados tinham menos anticorpos do que aqueles que não voltaram a contrair o vírus, e a sua carga viral era dez vezes mais baixa do que a dos recrutas que tinham ficado infectados pela primeira vez.

 

Segundo eles, isso significa que algumas pessoas reinfectadas podem transmitir o vírus, ainda que seja uma conclusão que, advertem, requer mais investigação para ser confirmada. “À medida que as campanhas de vacinação vão ganhando impulso, é importante lembrar que, apesar de uma infecção prévia por covid-19, os jovens podem contrair o vírus novamente e transmiti-lo a outras pessoas”, afirma, em nota um dos autores do estudo, Stuart Sealfon, da Escola de Medicina Icah, de Monte Sinai, nos Estados Unidos. (com informações da Agência Brasil, Reuters, Kyodo e NHK)