Brasileiros ganham a vida como instrutores desse esporte, que é apoiado no país por membros das famílias reais
Texto: Vitor Abdala/Agência Brasil
Rafael Haubert (direita) chegou ao país em 2009 para dar aulas a estudantes – Foto: Divulgação
Nas areias do deserto….Ou melhor, sob os arranha-céus dos Emirados Árabes Unidos um esporte aprimorado no Brasil virou febre. E não é de hoje. A relação da monarquia árabe com o jiu-jítsu brasileiro, o BJJ, tem mais de duas décadas. O Jiu-jítsu é uma arte marcial japonesa.
Hoje, vários brasileiros ganham a vida nos Emirados como instrutores do esporte, que é apoiado no país por membros das famílias reais. É possível até encontrar filiais de academias brasileiras, como a Royce Gracie Jiu-jítsu Academy Dubai e a Team Nogueira Dubai.
A paixão dos Emirados pelo esporte brasileiro começou na década de 90, quando o jovem Tahnoon entrou na academia Gracie Barra San Diego, nos Estados Unidos, e ficou fascinado pela luta. Ele logo se inscreveu nas aulas e se tornou um competidor anos mais tarde.
O jovem árabe era ninguém menos que xeique Tahnoon bin Zayed Al-Nahyan, filho do fundador dos Emirados Árabes, xeique Zayed bin Sultan, e irmão do atual emir da capital, Abu Dhabi, Khalifa bin Zayed, que acumula o cargo de presidente do país.
Ao retornar ao seu país, ainda na década de 90, Tahnoon levou consigo o BJJ e criou sua própria academia – a Abu Dhabi Combat Club (ADCC) – para ensinar não apenas o jiu-jítsu, mas outras artes marciais como judô e luta livre.
A academia de Tahnoon focou na criação de uma luta própria, a Submission Fighting, mas serviu também para popularizar o jiu-jítsu, que passou a ser ensinado nas escolas e nas forças armadas. A partir daí, o caminho foi aberto para vários lutadores brasileiros fazerem dos Emirados Árabes o seu lugar.
Brasileiros são contratados
Segundo a agência de notícias estatal dos Emirados Árabes, WAM, mais de 700 brasileiros já foram contratados para dar aulas de jiu-jítsu naquele país.
“A família real é a responsável pelo desenvolvimento do jiu-jítsu por aqui e por tantos brasileiros trabalhando hoje nas escolas, forças armadas e academias”, explica Rafael Haubert, gaúcho de 44 anos que chegou ao país em 2009 para dar aulas a estudantes.
“Xeique Tahnoon é o que a gente chama de godfather [padrinho] do jiu-jítsu nos Emirados Árabes. Seu irmão, o crown prince [príncipe herdeiro de Abu Dhabi], xeique Mohammed, deu todo o suporte [ao esporte] e ama ou jiu-jítsu, assim como seus filhos”, explicou.
E a paixão não atingiu apenas os príncipes de Abu Dhabi, como também outras casas reais do país, composto por sete emirados, cada um com seu próprio monarca.
A princesa Maithan bint Mohammed al-Maktoum, filha do emir de Dubai, xeique Mohammed (que também é primeiro-ministro do país), é outra praticante do esporte, assim como xeique Tarik bin Faisal Al-Qasimi, príncipe integrante da família real de Sharjah.
O brasileiro Rafael conheceu Tarik ainda em 2009. Foi o príncipe quem convidou o gaúcho para abrir a primeira academia dedicada ao jiu-jítsu em Dubai, em 2010.
Apresentado por Rafael aos irmãos Nogueira, Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro, o príncipe decidiu abrir uma franquia da Team Nogueira na cidade, em 2013.
“Hoje, está em pleno andamento a expansão da academia, que vai ser a maior do Oriente Médio, com mais de dois mil metros quadrados. Só o tatame vai ter 500 metros”, disse Rafael, responsável técnico pela Team Nogueira Dubai.
Muito calor
Rafael tem sua própria academia em Barcelona, na Espanha, mas foi em Dubai que decidiu fincar raízes com sua família. “Eu amo esse país. Em Dubai me sinto em casa. Claro que como em todo lugar há coisas boas e ruins. Aqui, por exemplo, faz muito calor. Mas me sinto um privilegiado por viver aqui e fazer parte da história do esporte”, destacou.
A paixão dos Emirados Árabes pelo esporte atraiu não apenas professores brasileiros para o calor do Oriente Médio, como também pessoas de outros países que treinaram e aprimoraram suas técnicas no Brasil, e depois resolveram tentar a sorte no emirado.
Gustavo Muñoz é um colombiano de 39 anos que morou cinco anos na cidade mineira de Poços de Caldas. Há dois anos, mudou-se para Dubai para montar sua própria academia, a Atrixion, que conta com instrutores brasileiros.
“Após pegar minha faixa preta, decidi me mudar para Dubai, porque a cidade fica em um país que apoia o jiu-jítsu. Tem muito apoio por parte do governo. E é um lugar onde as pessoas têm condições financeiras para treinar jiu-jítsu. Os Emirados Árabes é um lugar onde o jiu-jítsu é muito bem pago”, disse Muñoz.
Durante a Expo 2020 Dubai, que começou no dia 1o de outubro, a Federação de Jiu-jítsu dos Emirados Árabes pretende realizar a maior sessão mundial de treinamento do esporte, em parceria com a Embaixada do Brasil.
A ideia é que o evento, a ser realizado no dia 15 de novembro, dia da proclamação da República brasileira, supere o recorde atual, registrado no Guinness Book [livro dos recordes], em que uma aula em Abu Dhabi reuniu 2.481 pessoas.