Vanessa Handa, consultora de previdência e empreendedorismo, conta que muitos trabalhadores informais correram contra o tempo para registrar o negócio e receber os subsídios
Texto: Ana Paula Ramos/Record TV Japan
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A pandemia do novo coronavírus desestabilizou a economia mundial e trouxe prejuízos aos trabalhadores locais. No Japão, muitas pessoas que tiravam a renda de pequenos empreendimentos ou do trabalho autônomo sofreram o impacto nas finanças.
O primeiro sinal de crise começou em abril do ano passado, quando o governo japonês declarou estado de emergência em Tóquio e outras regiões. Desde então, o estado de emergência vai e vem nas províncias mais populosas. Enquanto os governos locais tentam conter os casos de coronavírus, o comércio sofre com a necessidade de fechar mais cedo e com a baixa clientela.
O governo tem oferecido ajudas referentes aos meses de prejuízo (getsuji shienkin) aos empreendedores que tiveram o negócio afetado. O plano de apoio ligado ao terceiro estado de emergência abre as inscrições no dia 16 de junho. Os valores dos meses de abril e maio devem ser pagos até 15 de agosto e a ajuda do mês de junho será transferida entre julho e o fim de agosto.
Estes valores são de até 200 mil para pequenas e médias empresas e de até 100 mil para os autônomos por três meses, em referência aos meses de abril, maio e junho e exclusivo para as localidades afetadas pelas medidas preventivas do governo.
A ajuda referente ao segundo estado de emergência de janeiro deste ano (ichiji shienkin) ainda está a caminho. O prazo de inscrição foi prorrogado de 31 de maio até 15 de junho. De acordo com os dados do governo japonês, até o fim de maio, houve 500 mil pedidos para receber o benefício, que foi pago para pelo menos 260 mil inscritos até o início de junho.
Na comunidade brasileira, muitos empreendedores que trabalhavam com negócios informais tiveram que correr atrás do registro no ano passado para poder receber as ajudas emergenciais. A consultora de previdência e empreendedorismo, Vanessa Handa, que atua no Espaço do Empreendedor Brasileiro (EEB) no Consulado-Geral do Brasil em Hamamatsu (Shizuoka), conta que a situação mostrou a importância de formalizar o negócio.
“Os empreendedores que não tinham formalizado a sua atividade comercial e não tinham a documentação pronta, o controle mensal de entrada e saída, não conseguiram ter acesso aos subsídios. Alguns tiveram que providenciar a documentação às pressas”, comentou.
Os trabalhadores que tinham interesse nos empréstimos sem juros por três anos, oferecidos pela Corporação de Finanças do Japão às empresas impactadas pela pandemia, também passaram por uma situação parecida.
“O Ministério da Economia, Comércio e Indústria tem implementado uma série de medidas, incluindo pacotes de empréstimos e subsídios para mitigar os impactos do novo coronavírus nas pequenas e médias empresas e autônomos. Alguns são bastantes criteriosos, mas outros basta ter a documentação básica, a declaração de imposto de renda e o planejamento para a manutenção do negócio”, explicou.
Em tempos emergenciais, os subsídios podem ser cruciais para a sobrevivência de um negócio que precisa esperar a pandemia acabar para se reerguer. Quem cuidou do registro antes mesmo do surgimento do coronavírus, acabou em um cenário menos preocupante.
Salva pelos subsídios
Simone Onuma, que vive em Konan (na província de Shiga), transformou a atividade de faxina em residências em um negócio lucrativo. Em agosto de 2019, a empresa Smile Cleaning Services foi formalizada através do registro. O que a empreendedora não podia imaginar era que uma pandemia estava por vir e o fato de ter registrado o negócio foi crucial para a sobrevivência. Os temores da contaminação fizeram a brasileira perder a maioria dos clientes logo no início da pandemia.
“Passamos por um momento bem difícil, pois o serviço parou. Uma coisa que antes a gente fazia de segunda a sábado e de repente tudo mudou. Se tinham dois clientes na semana eram muitos”, contou à Record TV Japan.
Simone conseguiu se habilitar para receber três subsídios. O primeiro foi no início da pandemia, quando o governo forneceu ¥1 milhão para as empresas que estavam sofrendo com a queda da demanda. A brasileira também conseguiu dar entrada em um projeto do governo que garante um recurso de ¥1,5 milhão para investir em publicidade.
“Esta segunda ajuda já existia antes da pandemia. Eu me associei ao shoukoukai (Câmara do Comércio e Indústria) e recebi os formulários para dar entrada e mandar o projeto. É muito interessante se associar na sua região, pois eles informam sobre qualquer ajuda ou projeto que o governo esteja executando”, aconselha.
Neste ano, as dificuldades continuam e Simone conseguiu se habilitar a ajuda temporária de ¥100 mil por três meses para as empresas que sofreram queda de renda nos meses de abril e maio. Antes da pandemia, ela conta que tirou uma licença para limpar cenas de crime e por causa desta habilitação, conseguiu adaptar o negócio.
“A desinfecção do ambiente mata todos os vírus. É muito usada para limpar cena de crime onde ocorreu um assassinato, por exemplo. Este trabalho veio a calhar com o coronavírus e passamos a fazer. No momento é praticamente o único serviço com demanda”, relatou.
Ajuda para famílias
O governo japonês vem auxiliando também as famílias de baixa renda, pais, mães solteiras ou casais com crianças, que estão passando dificuldades por causa dos impactos da pandemia.
Em maio, o governo passou a estudar um plano de até ¥300 mil para socorrer os lares em dificuldade. O projeto deve ser executado no mês de julho, com um envio de ¥100 mil por três meses para os domicílios com mais de três pessoas, ¥80 mil no caso dos casais sem filhos e ¥60 mil para quem vive sozinho e se enquadra nas condições.
Outra ajuda que começou a ser paga este mês foi de ¥50 mil por criança para cada família de baixa renda. Este auxílio engloba casais, pais e mães solteiras e foi o terceiro subsídio do tipo já fornecido pelo governo desde o início da pandemia. Enquanto os outros eram focados nas mães solteiras, este benefício passou a incluir também os casais.