A ideia surgiu nas caminhadas que a jornalista Ana Paula fazia; hoje o grupo ganhou muitos adeptos que realizam ações voluntárias periodicamente

 

 

Texto: Redação/Record TV Japan

Ana Paula começou recolhendo sozinha o lixo e hoje o grupo de voluntários é grande – Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

 

 

Escrita em português e japonês, a pergunta “Por que você também não faz?” estampa os coletes azuis de um grupo de brasileiros que, há 10 meses, tem percorrido praias, rios e parques pelo Japão. Em ações voluntárias, eles realizam mutirões periódicos com um único objetivo: recolher o lixo abandonado nesses locais.

 

“Por que você também não faz?”

 

Tudo começou em julho do ano passado, a partir da indignação na jornalista Ana Paula Ramos, 29 anos – que, na época, residia em Hamamatsu (Shizuoka). “A questão do lixo na praia sempre me incomodou e acredito que apenas fazer a minha parte não bastava. Pensei que precisava mobilizar mais pessoas”, lembra. Ela, então, teve a ideia de fazer um experimento: imprimiu o questionamento acima em um papel, colou-o nas costas e, durante duas semanas, começou a recolher o lixo que encontrava nas praias da região. “Eu pensava apenas em escrever um artigo sobre essa experiência, para motivar outras pessoas a pensarem a respeito.”

 

Jornalista escreveu uma frase para instigar as pessoas – Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

A iniciativa de Ana Paula surtiu efeito rapidamente. A partir de sua postagem em um site e nas redes sociais, ela começou a receber mensagens de diversas pessoas que queriam se unir à causa. “Algumas moravam em cidades mais distantes, então tive a ideia de criar um grupo no Facebook, propondo que todos carregassem sacolas extras na praia e recolhessem, por conta própria, o lixo abandonado”, conta Ana Paula. 

 

O grupo rapidamente ganhou a adesão diversas de pessoas, de diferentes partes do Japão, que passaram a fazer o mesmo e publicar fotos de suas ações. “Foi fantástico! Nas primeiras duas semanas de agosto, cerca de 35 pessoas fizeram isso não apenas em Shizuoka, mas também nas províncias de Aichi, Yamanashi, Gunma e Shiga. Até hoje, temos membros postando fotos das sacolas que recolheram sozinhos em parques, rios e praias”, felicita-se a jornalista. No Facebook, o grupo segue crescendo e já chega a quase mil membros.

 

Em fevereiro deste ano, Ana Paula deixou de morar no Japão – atualmente no Brasil, está providenciando visto para ir morar na Suécia. Ainda assim, por ser fluente em japonês, ela continua a contribuir com o grupo “Por que você também não faz?”, contatando as prefeituras das cidades onde o coletivo passou a organizar mutirões – a fim de que todo o lixo recolhido seja devidamente encaminhado aos centros de coleta e reciclagem.

 

 

O grupo já realizou oito mutirões – que só tiveram uma pausa durante o inverno japonês, entre dezembro do ano passado e março deste ano. “Cada mutirão conta com entre 10 e 15 participantes, recolhendo uma média de 25 a 30 sacos grandes de lixo”, explica Mone Nishiyama, 41 anos. Moradora de Toyota (Aichi) e uma das mais ativas participantes do projeto, ela se tornou uma das moderadoras do grupo no Facebook. “Damos prioridade ao recolhimento de plástico, que demora anos para se decompor e prejudica a vida marinha. Mas também recolhemos latas, sprays e até vidro”, acrescenta. Entre objetos inusitados, até mesmo um televisor e duas bonecas infláveis já foram encontrados pelo grupo.

 

Massao Matsumoto Braga – Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

“Até um tempo atrás, como a maioria das pessoas, eu via lixo no chão e pensava: ‘Não é meu, deixa aí… Alguém vai limpar’. Mas isso começou a me incomodar”, reflete Mone. A partir do envolvimento com o grupo, ela conta ter mudado sua maneira de pensar – e de agir. “Hoje, penso diferente. O lixo não é meu, mas o mundo é. Talvez pareça pouco, mas, se cada um fizer esse ‘pouco’, isso já fará uma grande diferença. Se algumas pessoas se conscientizarem vendo o que estamos fazendo, já vai ter valido a pena.”

 

Outro voluntário que se envolveu bastante e também assumiu uma função no projeto é Massao Matsumoto Braga, 40 anos, de Toyohashi (Aichi). “Pratico surfe e vim de uma região turística da Bahia. Por isso, sempre tive essa preocupação de recolher o lixo encontrado em praias e outros ambientes de natureza”, afirma. “Quando soube do projeto por causa da postagem da Ana Paula, fiquei feliz de saber que não estou sozinho. Então, me voluntariei a ajudar e, quando menos percebi, estava totalmente envolvido com o grupo.”

Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação

Apesar do grande volume de lixo recolhido em cada mutirão e do dia a dia bastante atribulado – em função do trabalho -, Braga não se incomoda com o fato de, muitas vezes, ter de levar o lixo para sua casa. “Nem todos os centros de coleta ficam abertos até o final da tarde dos domingos, quando costumamos encerrar os mutirões. Então, coloco 25 ou 30 sacos no meu carro e os levo comigo para, só no dia seguinte, poder fazer o encaminhamento correto”, conta.

 

Japoneses costumam ser bastante rigorosos no cuidado com o lixo e essa é uma questão que, às vezes, incorre em desentendimentos com alguns estrangeiros. “Além do benefício que fazemos para a natureza e a vida marinha, também é gratificante perceber o reconhecimento dos japoneses ao que fazemos”, acrescenta Braga. “Acho importante fazer eles perceberem que também existem estrangeiros preocupados em fazer o bem ao próximo e ao planeta.”

 

O próximo mutirão do grupo está agendado para o dia 23 de maio, na praia de Maisaka, em Hamamatsu.