Profissional certificado, Roberto Maxwell dá dicas de uma boa degustação da bebida através de aulas online; confira algumas delas para não errar na compra de uma boa garrafa
Texto: Ewerthon Tobace/Record TV Japan
Foto: ©Carlos Kato/Divulgação
O saquê está para o Japão assim como a cachaça está para o Brasil. Ambas são as bebidas tradicionais mais conhecidas dos dois países e vivem um momento único de resgate de suas culturas e tradições e expansão internacional. As semelhanças, no entanto, param por aí. Feito de arroz, o saquê é uma bebida fermentada. Pouca gente imagina, mas seu processo de produção tem certas semelhanças com o da cerveja. Ainda assim, o saquê tem diversas particularidades.
Bastante conhecido do público brasileiro, ele aparece com frequência numa rodada de sushi ou numa versão mais suave da caipirinha. Mas, ao contrário do vinho ou da cerveja, que sempre tem um “especialista” para falar sobre castas, estilos e marcas, dificilmente encontramos quem tenha tanta intimidade assim com a bebida japonesa.
Radicado no Japão desde 2005, Roberto Maxwell é um destes amantes da bebida que acabou se especializando. Profissional de saquê certificado pelo The Sake Education Council, o brasileiro tem uma formação e interesses diversos, e se dedica à pesquisa e à difusão da cultura japonesa, com foco especial em cultura gastronômica e identidades. Ele é também Comrade of Cheese pela Cheese Professional Association e membro da Guilde Internationale des Fromagers.
Maxwell conta que o interesse pelo saquê surgiu por etapas. “A primeira vez que eu bebi conscientemente foi antes de uma balada. Eu sou forte para bebida alcoólica, mas não costumo beber muito porque faz mal ao meu estômago. Mas o saquê não só desceu bem como não me fez sentir mal. E, melhor, não tive ressaca no dia seguinte”, conta. “Com o tempo, eu entendi que o saquê era a bebida mais adequada para mim”, resume.
Anos depois, já trabalhando como guia e focado no trabalho de jornalismo de viagem, Roberto começou a visitar fábricas de saquê e acabou se apaixonando pelas histórias. “Daí, comecei a fazer cursos para me especializar.”
Para o brasileiro, o saquê é ainda um completo desconhecido, mesmo dos estrangeiros que moram no Japão e até para muitos japoneses! E isso tem uma explicação: a bebida alcoólica mais consumida no país é a cerveja. E aqui até aquelas mais baratas e populares são de boa qualidade. “Então, é muito mais fácil para um estrangeiro consumir uma cerveja do que escolher entre as centenas de rótulos de saquê, quase todos em japonês, que existem por aqui.”
Diversidade
Roberto explica que existe um universo de aromas, sabores e nuances no mundo do saquê – ele pode ser bem seco ou adocicado, ter corpo leve ou licoroso, aveludado, de sabor complexo. Embora pareça complicado desvendar esses segredos, há padrões que podem guiar suas próximas degustações. “Tem as categorias que têm a ver com os ingredientes e o nível de polimento do arroz, o que já dá um universo em si. Além disso, tem os estilos, que têm a ver com o método de produção e armazenamento. Por isso, uma mesma fábrica produz muitos rótulos”, detalha.
Sem contar os produtos derivados, como o umeshu, um licor de ameixa japonesa. “Justamente por ter tanta diversidade que uma mesma fábrica tem vários rótulos no mercado. É impressionante o quanto um produtor pode extrair de sabores diferentes de uma mesma mescla de água e arroz”, salienta.
Mas, como escolher o melhor saquê? Segundo Roberto, o principal meio de saber se um saquê é bom ou não é o paladar de cada um. “Pode parecer ser uma saída pela tangente, mas a verdade é que, mesmo saquês com indicadores menos nobres (como arroz pouco polido) podem ser deliciosos no paladar. Depende de quem toma”, afirma o especialista. “E isso é uma regra de ouro no universo do saquê: não existe um rótulo que seja bom somente pelos seus requisitos. Ele só é bom se for aprovado pelo paladar de quem bebe”, ensina.
Justamente por causa desta diversidade de rótulos e sabores, Roberto criou uma aula online com degustação. Isso mesmo! Apesar de ser feita de forma virtual, o interessado pode pedir antecipadamente um trio de saquês e receber em casa antes de participar da aula. Para isso, precisa morar no Japão. Roberto também faz um apanhado geral da bebida, que tem uma longa história e fala muito sobre o modo japonês de ver e viver a vida. Confira os detalhes do curso aqui.
“O que eu procuro oferecer para quem está no começo é uma chave para entrar neste universo gigante que é o do saquê. São informações que vão fazer as pessoas olharem os rótulos não mais como agulhas num palheiro”, diz.
Em seus cursos, Roberto ensina justamente aquelas informações básicas que ajudam as pessoas a identificar os saquês que estão tomando além, claro, de passar histórias que costumam ser muito úteis quando você se senta num bar ou convida os amigos para beber na sua casa. “Não quero que ninguém pense que o mundo do saquê é inacessível ou sisudo. Pelo contrário, quem gosta de saquê é aquele tipo de pessoa que aprende a apreciar as coisas de forma simples”, diz. “Ninguém vai sair especialista em saquê, mas, certamente, vai ficar mais curioso e perder o medo de apreciar essa bebida.”