Pesquisadores explicam obra do multiartista pernambucano, que trabalhou nas redações de revistas como O Cruzeiro e Manchete, e jornais como Última Hora, O Globo, Diário Carioca e O Jornal

 

 

Texto: Luiz Claudio Ferreira/Agência Brasil
Foto: ©Coleção José Ramos Tinhorão/IMS

 

“Ô ô ô saudade/ Saudade tão grande/ Saudade que eu sinto/ Do Clube das Pás, dos Vassouras/ Passistas traçando tesouras/nas ruas repletas de lá”. Os versos do Frevo nº 1 do Recife (1951) anunciam o sentimento de um multiartista que vivia, segundo pesquisadores de sua obra, de forma intensa. 

 

Antônio Maria na redação da revista Manchete (um dos locais em que trabalhou), na década de 1960. ©Coleção José Ramos Tinhorão/IMS

O pernambucano Antônio Maria ficou tão conhecido por clássicos da música brasileira, entre frevos, inspirações de amor, amarguras e samba-canção (repletas também de dor, inclusive), como por sua habilidade em prosa em crônicas diferenciadas. O Frevo nº 2 do Recife (1953) também é dele, tanto letra quanto música: “Mas tem que ser depressa/Tem que ser pra já/Eu quero sem demora/O que ficou por lá”. Antônio Maria viveu intensamente e queria mesmo era falar de amor, como explica o biógrafo Joaquim Ferreira dos Santos, autor de Um homem chamado Maria, em entrevista à Agência Brasil.

 

 

Ouça abaixo os dois frevos compostos por Antônio Maria, veiculados em programa especial da Rádio Batuta (programa especial realizado pelo Instituto Moreira Salles), que tem apresentação de Joaquim Ferreira dos Santos:

 

 

 

 

 

 

Outro pesquisador da obra de Antônio Maria, o escritor Guilherme Tauil, que promete uma antologia composta por 200 crônicas neste ano do centenário de Maria, concorda que a temática que envolvia as obras do pernambucano eram aquelas do coração. “O que ele perseguia era falar sobre amor”. Antônio Maria nasceu em 17 de março de 1921, em Pernambuco, e começou a carreira em 1938, como locutor na Rádio Clube. Trabalhou e morou em Salvador e Fortaleza. Outras marcas importantes de sua história são a derrocada financeira da família fazendeira e a busca de nova vida no Rio de Janeiro, quando ocorrem as maiores mudanças de sua jornada.

 

“Ele começou pelo mundo do rádio, da palavra falada e depois transitou para literatura”, afirma Guilherme Tauil.

 

Diferente de outros autores “puro-sangue” do mundo literário, Maria carregava outras experiências. O primeiro assunto dele é a rádio, onde tratava de assuntos como o futebol, ao lado de Ary Barroso. Foi na Cidade Maravilhosa que se encontrou como cronista e compositor, de forma intensa, trabalhando demais e dormindo de menos, como assinalam pesquisadores. Ele morreu em 1964, aos 43 anos, vítima de um infarto fulminante.

 

Tradutor do Brasil

 

©Coleção José Ramos Tinhorão/IMS

Para o biógrafo Joaquim Ferreira dos Santos, que publicou pela primeira vez um livro-perfil (Noites de Copacabana) sobre Antônio Maria no ano de 1996, o artista centenário foi um dos grandes tradutores do Brasil em meados do século 20. Ferreira dos Santos recorda-se dos primeiros contatos com a obra de Antônio Maria, quando ouvia suas canções pela Rádio Nacional, interpretadas por cantoras como Elizeth Cardoso e Nora Ney. A primeira obra escrita por Ferreira dos Santos abriu espaço para o artista pernambucano passar a ser cultuado ao lado de outros autores consagrados da literatura e da música.

 

Em redações, Antônio Maria experimentou as máquinas de escrever de revistas como O Cruzeiro e Manchete, e jornais como Última Hora, O Globo, Diário Carioca e O Jornal, seu último local de trabalho. 

 

“A vida de Antônio Maria é o centro de sua obra”, analisa Joaquim Ferreira dos Santos, que enxerga o autor e compositor como um homem que “sofria as consequências do abandono e das questões do jogo amoroso”: “Parecia que ele sarava estas dores escrevendo. Era uma terapia, a maneira que ele botava esse coração para a fora”.

Nascido no Nordeste e consagrado no Sudeste, Antônio Maria junta realidades diferentes em sua trajetória: “Ele é um dos tradutores do Brasil”, diz Ferreira dos Santos.