Objetivo do projeto é resgatar e manter viva a língua de herança para preservar os vínculos afetivos com o Brasil

 

Texto e foto: Ewerthon Tobace/Record TV Japan

 

Michie Afuso lidera os trabalhos na organização sem fins lucrativos ABC Japan

 

Depois de ouvir muitas vezes os pais brasileiros reclamarem que os filhos estavam se distanciando da cultura brasileira, Michie Afuso, presidente da organização sem fins lucrativos ABC Japan, de Yokohama (Kanagawa), resolveu agir. “Em várias reuniões entre amigos surge esse papo de que os filhos não falam o português e sempre tem alguém também que fica surpreso com a situação”, conta a ativista, que começou a perceber o problema também dentro de casa, com as duas filhas.

 

A NPO que ela dirige conseguiu então uma verba do governo japonês para começar um curso direcionado aos jovens estrangeiros que moram no Japão. “Queremos resgatar as raízes”, resume. Os participantes têm aulas de conversação, workshop de cultura brasileira e atividades de convivência entre filhos de imigrantes brasileiros. “Também vamos explorar pontos em comum e diferenças entre as duas culturas e língua”, conta. O curso é totalmente gratuito e, por causa da pandemia, está sendo feito por enquanto de forma virtual. Apesar de ter começado em setembro passado, interessados ainda podem se inscrever.

 

A responsável pelas aulas é a jornalista e professora de português Fátima Kamata, que foi repórter da Folha de S.Paulo, editora do jornal International Press e da IPCTV. A brasileira trabalhou também na seção de português da rádio NHK World e lecionou para voluntários da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA). Atualmente, ela escreve para a revista Alternativa e para a BBC News Brasil, e dá aulas em colégio público japonês e na NPO ABC Japan. 

 

Identidade

 

O formato adotado pela organização é parecido com o das escolas de japonês no Brasil, voltadas para descendentes de imigrantes japoneses. Na história da imigração, o ensino do idioma japonês era visto como o elo preponderante, o valor essencial na preservação da identidade nipônica. Por isso, quando chegaram ao Brasil, a primeira coisa que fizeram foi abrir escolas e ensinar a língua para os filhos, pois pensavam em voltar um dia para a terra natal.

 

Em abril de 1932, a Associação de Pais de Alunos de Escolas Primárias Japonesas contava com 187 estabelecimentos reconhecidos. Em 1939, existiam 486 escolas, com cerca de 30 mil alunos. O chamado “nihon gakko” era não só uma escola, mas um lugar para transmitir os valores culturais dos antepassados. “Eu participei do ‘nihon gakko’ e ali aprendi muito sobre a cultura japonesa e também a respeitar mais as diferenças da cultura dos nossos pais com o país em que vivemos”, pondera Michie.

 

O idioma japonês era tão preservado que a imprensa em língua japonesa, até a Segunda Guerra Mundial, tinha grande volume de títulos. Uma pesquisa na região da Estrada de Ferro Noroeste, em 1939, mostrava que 87,7% dos imigrantes declaravam ser assinantes de algum jornal em língua japonesa, cifra considerada altíssima para padrões brasileiros.

 

Além da imersão na cultura e idioma do Brasil, os jovens que frequentam a ABC Japan podem participar de outras atividades gratuitas, como o curso preparatório para o teste de proficiência japonesa N3 e N2, com aulas presenciais e online; workshop com universitários e colegiais para estimular o prosseguimento nos estudos; e aconselhamento vocacional com psicóloga licenciada no Brasil e no Japão.

 

Curso para adultos

 

A ABC Japan também oferece atividades para jovens e também adultos. Uma vez por semana, brasileiros e outros estrangeiros do Japão e de outros países participam gratuitamente do “Curso Preparatório para a Avaliação de Proficiência na Língua Japonesa (JLPT) N3 e N2”, promovido com apoio da Diverse Roots Inclusive Society (外国ルーツ青少年未来創造事業) e do Consulado-Geral do Brasil em Tóquio.

 

“Como as aulas estão sendo online, temos muitos alunos do Brasil”, conta Michie. O curso, na verdade, foi criado para amenizar o impacto socioeconômico da crise econômica gerada pela pandemia de Sars-Cov-2. Aprendendo o idioma, segundo os idealizadores, o indivíduo ganha habilidades que o valoriza no mercado de trabalho.

 

Michie explica que as aulas são gratuitas e têm duração de 2 horas semanais quem vai prestar o teste de Avaliação de Proficiência na Língua Japonesa (JLPT) nos níveis N3 ou N2 em julho de 2021. As aulas da turma do N3 serão ministradas às quartas-feiras, das 18h30 às 20h30, e da turma do N2 às sextas-feiras, das 18h30 às 20h30.

 

Apesar das aulas serem gratuitas, é preciso adquirir um livro didático que custa ¥ 3.500.  Mais informações podem ser obtidas na ABC Japan pelo site, pelo Facebook  ou por e-mail: educar@abcjapan.or.