Conselho de cidadãos e Consulado-Geral do Brasil em Tóquio organizaram o encontro a pedido do governo da província

 

Texto e fotos: Ewerthon Tobace/Record TV Japan

 

Beijos, abraços, churrascadas, festas e reuniões de confraternização de brasileiros estão no centro das discussões em Gunma. Isto porque o número de casos de pessoas infectadas pelo coronavírus teve um salto na província, a ponto de Oizumi, a cidade com maior concentração de brasileiro no Japão, decretar estado de emergência no dia 18 de setembro. 

 

Segundo as autoridades, somente entre 10 e 16 de setembro, Gunma registrou 90 novos casos de Covid-19 e 70% dos infectados eram estrangeiros, a maioria na região de Oizumi e Ota.

 

“Tivemos várias reclamações de que os brasileiros não estavam cumprindo o distanciamento social e organizavam confraternizações. Então, para que não comecem a sofrer discriminação, digo: vamos combater o coronavírus sem ofender as pessoas”, pediu o prefeito de Oizumi, Toshiaki Maruyama. 

Prefeito de Oizumi, Toshiaki Maruyama, diz estar preocupado o aumento de casos no município / © Ewerthon Tobace/Record TV Japan

 

A situação é tão delicada que o próprio Maruyama saiu às ruas, numa campanha corpo a corpo nas lojas de produtos, igrejas e restaurantes brasileiros, distribuindo panfletos que ensinam as pessoas a se proteger. “Temos um informativo, que fica exposto em estabelecimentos comerciais e públicos, mas ninguém pega. Então, fui eu mesmo explicar para as pessoas na rua a gravidade da doença”, contou o prefeito.

 

Reunião

 

Para discutir medidas de apoio no combate à disseminação do vírus na comunidade brasileira local foi realizada, em Oizumi, uma reunião nesta quinta-feira, 8, organizada pelo Consulado-Geral do Brasil em Tóquio e pelo Conselho de Cidadãos. O encontro contou com a presença de autoridades brasileiras e japonesas, além de empresários e lideranças comunitárias. 

Embaixador João de Mendonça Lima Neto fala com imprensa japonesa sobre medidas para controlar a disseminação do vírus na comunidade / © Ewerthon Tobace/Record TV Japan

 

“Estamos preocupados com a questão e, por isso, estamos aqui”, disse o embaixador João de Mendonça Lima Neto, cônsul-geral do Brasil em Tóquio. “Desde que começou o problema da pandemia, buscamos divulgar para a comunidade informações sobre a doença e sobre os riscos de contaminação, mas precisamos fazer mais”, lembrou.

 

Nelson Saito, presidente da Kowa Corporation, que emprega centenas de brasileiros, disse que é preciso investir na conscientização dos trabalhadores. “Às vezes, o funcionário está doente e não quer faltar para não comprometer a linha de produção e nem o salário”, contou.

 

O empresário Arthur Muranaga, presidente do conselho, também citou as notícias falsas como causa direta do aumento de casos na comunidade. “Os brasileiros não sabem quem fala a verdade e, assim, criam-se situações que facilitam a contaminação pelo vírus”, lamentou.

 

“Estamos preocupados com a questão e, por isso, estamos aqui”, disse o embaixador João de Mendonça Lima Neto, cônsul-geral do Brasil em Tóquio.

 

O embaixador Lima Neto reforçou para as lideranças que é preciso insistir na questão dos cuidados de higiene. “Não podemos ignorar a periculosidade deste vírus”, alertou o diplomata. “Além disso, no Japão, o governo orienta e a grande maioria dos japoneses cumpre as regras. Em outros países, os governos tiveram de obrigar a população a seguir as regras. Então, precisamos unir a comunidade e pressionar os brasileiros a seguir as orientações”, sugeriu.

O encontro seguiu os protocolos de distanciamento e de prevenção / © Ewerthon Tobace/Record TV Japan

Assim como o prefeito Maruyama, o cônsul brasileiro também teme que a comunidade passe a ser alvo de discriminação por causa do jeito extrovertido, afetuoso e social do brasileiro. “Alguns poucos podem ‘contaminar’ a nossa imagem de pessoas trabalhadoras e solidárias”, alertou.

 

Ações do governo

 

No dia 25 de setembro o governador de Gunma, Ichita Yamamoto, havia anunciado que iria trabalhar com as embaixadas de países latino-americanos, como Brasil, Bolívia e Peru, para conter a disseminação do vírus nestas comunidades.

 

O governo de Gunma pretende usar também as redes sociais para orientar os estrangeiros a usar máscara e evitar locais fechados, com pouca ventilação e muita concentração de pessoas.