As roupas, que pertencem a civis, são destinadas a áreas estratégicas, como postos de guarda na fronteira da Coreia do Norte

Foto: Reprodução/KBS

A ditadura da Coreia do Norte iniciou uma campanha para confiscar casacos de inverno forrados com pele de cachorro, alegando que esses itens luxuosos devem ser destinados aos soldados que enfrentam o frio intenso sem suprimentos adequados. A medida, em vigência desde o mês passado, também busca impedir que civis usem roupas semelhantes aos uniformes militares.

Moradores da província de Pyongan do Sul relataram à Rádio Free Asia que agentes da ditadura de Kim Jong-un têm abordado homens vestindo os casacos e os confiscado imediatamente. “É a primeira vez que vemos algo assim acontecer. Eles afirmam que civis não podem se vestir como militares”, disse um morador sob condição de anonimato.

Oficialmente, os itens confiscados são destinados a militares posicionados em áreas estratégicas, como postos de guarda na fronteira com a Coreia do Sul.

Ainda não está claro se o confisco também está relacionado com as severas baixas que o exército norte-coreano enfrenta na Rússia, onde luta contra as forças armadas ucranianas desde novembro do ano passado.

Símbolo de status


Além da funcionalidade térmica, os casacos são populares entre a elite norte-coreana por simbolizarem autoridade. No entanto, são extremamente caros e inacessíveis para a maioria da população. Um casaco de alta qualidade pode custar cerca de 1 milhão de won (aproximadamente R$ 290), valor superior ao salário anual da maioria dos trabalhadores do país.

“Esses casacos são as melhores roupas de inverno porque toda a camada interna é forrada com pele de cachorro. São artigos de luxo e só podem ser adquiridos de fabricantes especializados”, explicou um morador.

Militares enfrentam crise de suprimentos


As Forças Armadas da Coreia do Norte, com quase 1 milhão de soldados, sofrem há décadas com a falta de equipamentos adequados. Desde o colapso da União Soviética, em 1991, o fornecimento de insumos ao exército tem sido insuficiente.

Os soldados deveriam receber uniformes de inverno a cada dois anos, mas as entregas são incertas. Em 2023, o governo chegou a exigir que militares dispensados devolvessem seus uniformes para serem reutilizados por novos recrutas.

Diante desse cenário, as autoridades consideram inaceitável que civis abastados ostentem casacos de pele de cachorro enquanto soldados enfrentam o frio rigoroso com vestimentas de segunda mão. “Na cidade de Unsan, apenas um em cada 50 homens usa esses casacos. Geralmente, são comerciantes ou maridos de mulheres ricas, que podem pagar pelo luxo”, disse um morador.

Destino dos casacos confiscados


Na província de Pyongan do Norte, os casacos estão se tornando raros após o aumento das apreensões. Segundo relatos, as autoridades argumentam que é moralmente errado que civis desfrutem de um item tão luxuoso enquanto soldados nas linhas de frente enfrentam temperaturas congelantes sem proteção adequada.

“Aqueles que resistem à apreensão dos casacos acabam se calando por medo de represálias”, revelou um morador.

O governo norte-coreano não se pronunciou oficialmente sobre a campanha, mas a medida reforça a crise de abastecimento enfrentada pelo país e a prioridade dada ao exército, mesmo que às custas da população civil.