Nas formas presencial e por transmissão on-line, objetivo é informar vítimas de situações abusivas sobre as formas de prevenção e sobre como recorrer em caso de violência consumada

 

 

Texto: Gilberto Yoshinaga/Record TV Japan

 

 

Quando chegou ao Japão, há nove anos, Ana (nome fictício) ainda achava viver o casamento dos sonhos. Mas o marido a impediu de trabalhar, começou a exagerar no consumo de bebida alcoólica e a usar o fato de ser o provedor financeiro da casa como pretexto para exercer pressão psicológica. Em poucos meses, começaram as agressões verbais – que, logo, descambariam também para as agressões físicas.

 

“Por mais alguns meses, eu ainda me culpei por aquela situação. Achava que merecia aquilo porque não estava sendo uma boa esposa ou boa mãe”, lembra ela. “Foi uma amiga quem teve de abrir meus olhos, me fazer perceber que eu não podia admitir aquilo e que precisava de ajuda. Mesmo assim, eu ainda tinha vergonha de expor aquela situação ou de como as pessoas julgariam tudo aquilo, além do medo de não conseguir sustentar nossa filha, que estava com quatro anos.”

 

Orientada e assistida por uma assistente social, certo dia Ana decidiu acabar com o pesadelo que vivia: fugiu com a filha para uma província mais de 500 quilômetros distante e denunciou o marido às autoridades. Hoje, com a autoestima recuperada e em um novo – e feliz – casamento, sempre que pode ela acolhe e orienta outras pessoas que vivam o mesmo tipo de situação. “Muitas aceitam esse tipo de relacionamento abusivo por não saberem o que fazer ou a quem recorrer. Elas precisam saber que é preciso dizer ’basta!’ à violência e que existem pessoas e entidades dispostas a ajudá-las a superar essa situação”, diz. 

 

‘Elas não estão sós’

 

Com foco neste problema “silencioso” dentro da comunidade brasileira, o projeto Violência Doméstica no Japão, capitaneado pelo Conselho de Cidadãos do Consulado-Geral do Brasil em Hamamatsu (CCH), realiza neste domingo (28) uma palestra sobre formas de prevenção e sobre como funciona a legislação japonesa em casos de violência doméstica. A explanação será feita pelo advogado Etsuo Ishikawa, consultor jurídico dos três consulados-gerais do Brasil (Hamamatsu, Tóquio e Nagoia).

 

Também transmitido pela internet, o evento será realizado às 15 horas, de forma presencial, no Zaza City Hamamatsu. A participação é gratuita – a organização apenas pede a doação de alimentos não-perecíveis ou artigos de higiene, que serão encaminhados para órgãos de assistência social.

 

“Esta palestra é a continuidade de um ciclo de informações sobre esse problema tão delicado, um trabalho voluntário que começamos a realizar, com outras lives e entrevistas, em março do ano passado”, explica Laura Takeda, integrante do CCH e uma das idealizadoras do projeto, juntamente com Mayumi Okada. “Essa questão nos sensibiliza há muito tempo e, muitas vezes, há mulheres que se tornam reféns dessas situações abusivas por falta de informação, ou porque não sabem que podem ser acolhidas. Elas precisam saber que não estão sós.”

 

Assuntos abordados

 

“Seja contra uma mulher, uma criança, um idoso ou uma pessoa com deficiência, ofensas, ameaças e agressões se enquadram no conceito de violência doméstica, cada qual sob uma legislação específica. Nesta palestra, vamos nos ater mais à questão da violência doméstica contra a mulher”, explica o advogado Ishikawa. “A proposta é levar informações à comunidade brasileira residente no Japão no que diz respeito à legislação, aos procedimentos, à prevenção e aos processos que envolvem em caso de violência consumada. Vou me focar nessas questões de forma objetiva, sem fazer comparações sobre as legislações do Brasil e do Japão.”

 

Ishikawa lembra que, assim como ‘Ana’, muitas pessoas que passam por situações abusivas precisam, primeiro, detectar que estão sendo vítimas de algum tipo de violência – verbal, psicológica ou física. “Muitas vezes, a pessoa não percebe e acha que essa situação é normal, ou que o problema vai acabar sozinho. Ela precisa entender, por si própria, que está sofrendo violência e que é preciso tomar providências”, diz.

 

O advogado acrescenta que, antes da violência ser consumada, também há formas de preveni-la. “No Brasil costuma-se tratar só da punição, depois de o pior acontecer. O Japão trabalha muito na questão preventiva. Estamos no Japão, então temos de tratar a questão da violência doméstica no âmbito do território e das leis japonesas”, explica. “Na palestra, vou explicar sobre os órgãos que acompanham e que podem ser consultados, inclusive os próprios consulados, por meio dos setores de assistência consular. O objetivo é conscientizar a pessoa que está em situação de abuso, ou que conhece alguém nessa condição, sobre as formas de prevenção e sobre o que fazer em caso de violência consumada.” 

 

Palestra sobre violência doméstica com o advogado Etsuo Ishikawa:

 

Quando: 28/5, às 15h (haverá transmissão pela internet – link na página do Conselho de Cidadãos de Hamamatsu)

Local: Zaza City Hamamatsu – Kodomokan 5F, galeria 2

Participação: gratuita – a confirmação pode ser feita com o preenchimento de um formulário 

Mais informações: 053-458-8917 ou 080-3074-8824

 

 

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