Abe foi o político que ficou mais tempo no cargo de primeiro-ministro do Japão. Ele enfrentou diversos escândalos
Do R7
Shinzo Abe, que morreu nesta nesta sexta-feira (8) depois de ser vítima de um ataque a tiros durante um comício, bateu recorde como o primeiro-ministro mais longevo do Japão, resistindo a vários escândalos político-financeiros.
Quase dois anos depois de ter sido obrigado a deixar o posto de chefe de Governo por problemas de saúde, Abe, 67 anos, faleceu após ser atingido por tiros em um comício para as eleições do Senado do próximo domingo (10), apesar das rígidas leis no país contra a posse de armas.
Abe tinha 52 anos quando assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2006 e se tornou a pessoa mais jovem a ocupar a posição.
Ele era considerado um símbolo de mudança e juventude, mas também apresentava o pedigree de um político de terceira geração, preparado desde cedo para exercer o poder dentro de uma família conservadora de elite.
Seu primeiro mandato foi turbulento, marcado por escândalos e disputas, e terminou com sua renúncia abrupta após um ano.
Inicialmente ele declarou que renunciou por motivos políticos, mas depois admitiu que tinha um problema de saúde, que mais tarde foi diagnosticado como colite ulcerativa.
A ERA “ABENOMICS”
A condição exigiu meses de tratamento, superado graças a um novo medicamento, segundo Abe.
Ele voltou a ser candidato e retornou ao cargo de primeiro-ministro como um salvador do país em dezembro de 2012.
Sua vitória encerrou um período turbulento em que os primeiros-ministros se sucediam ao ritmo de um por ano.
Afetado pelos efeitos do tsunami em 2011 e pelo desastre nuclear de Fukushima, o Japão encontrou em Abe uma mão confiável.
Abe ficou famoso no exterior por sua estratégia de recuperação econômica, conhecida como “abenomics”, iniciada em 2012, na qual misturou flexibilização monetária, grande recuperação orçamentária e reformas estruturais.
Alguns avanços foram registrados, como o aumento da taxa de emprego das mulheres e dos idosos. O país também passou a recorrer de maneira mais intensa à imigração para enfrentar a escassez de mão de obra.
Porém, sem reformas realmente ambiciosas, o programa teve sucesso apenas parcial, hoje ofuscados pela crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus.
TEMPESTADES POLÍTICAS
Abe foi preparado desde muito jovem para exercer o poder, marcado pela história familiar de duas gerações de líderes políticos antes dele.
A grande ambição de Abe era revisar a Constituição pacifista do Japão de 1947, redigida durante a ocupação por parte dos Estados Unidos e nunca alterada.
No cenário internacional, Abe adotou uma linha dura com a Coreia do Norte, mas assumiu um papel de pacificador entre Estados Unidos e Irã.
Ele priorizou um relacionamento próximo com o ex-presidente americano Donald Trump para proteger a ligação entre os dois países do nacionalismo de Trump, ao mesmo tempo que tentou ajustar os vínculos com Rússia e China.
Mas os resultados foram mistos: Trump insistiu em forçar o Japão a pagar mais pelos soldados americanos presentes no país, não conseguiu concretizar um acordo com a Rússia sobre ilhas em disputa e o mesmo aconteceu com seu plano de convidar o presidente chinês Xi Jinping para uma visita de Estado.
Abe, muitas vezes atingido por escândalos que afetaram pessoas próximas, soube aproveitar os acontecimentos externos – lançamentos de mísseis norte-coreanos, desastres naturais – para desviar a atenção e se apresentar como um líder indispensável diante das adversidades.
Também foi beneficiado pela falta de um rival do mesmo porte dentro de seu partido, o PLD (Partido Liberal Democrata), e pela fragilidade da oposição, que ainda não se recuperou de sua passagem desastrosa pelo governo entre 2009 e 2012.
Mas sua popularidade caiu a partir do início da pandemia de Covid: as ações do governo Abe foram consideradas lentas e confusas.
Durante muito tempo ele se agarrou à esperança de manter os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, que seriam o grande momento de seu mandato.