Doença não é nova, mas agora surtos estão aparecendo em vários países. Devemos nos preocupar?
Texto: Redação/Record TV Japan
Foto: AdobeStock
Casos da varíola dos macacos, um vírus que infecta animais e raramente os humanos, estão surgindo em vários países e trazem preocupações às autoridades de saúde e também aos cidadãos. É preciso tomar cuidados? Essa doença é realmente perigosa? Podemos ter uma nova pandemia? Entenda o que é a varíola do macaco, quais os sintomas, tratamentos e o risco real dessa doença que se espalhou pelas manchetes dos jornais.
A varíola dos macacos (Monkeypox, em inglês) é uma zoonose silvestre que ocorre geralmente em regiões de floresta da África Central e Ocidental. Mas os casos relatados na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália parecem não ter relação com as regiões africanas, o que pode indicar uma possível transmissão comunitária do vírus.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que espera identificar cada vez mais casos de varíola dos macacos na medida em que expande a vigilância em países onde a doença normalmente não é encontrada.
O Ministério da Saúde do Japão pediu para que os municípios intensifiquem a vigilância e relatem casos suspeitos diante dos mais de 400 casos confirmados até agora pelo mundo. Até o momento o país não registrou nenhum caso.
A diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS) de Preparação Global para Riscos Infecciosos, Sylvie Briand, disse que é prioridade conter a varíola dos macacos em países não endêmicos, o que pode ser alcançado por meio de ações rápidas.
“Acreditamos que, se adotarmos as medidas corretas agora, podemos contê-la facilmente”, disse Sylvie, em reunião técnica com representantes dos Estados-membros, na assembleia anual da agência de saúde da Organização das Nações Unidas (ONU).
Ela afirmou que há uma janela de oportunidade para evitar maior disseminação e pediu à população em geral que não se preocupe, pois a transmissão é muito mais lenta do que a de outros vírus, como o novo coronavírus.
Autoridades da OMS disseram que não há necessidade de vacinação em massa no momento, mas a vacinação direcionada, quando disponível, para contatos próximos de pessoas infectadas.
O que é a varíola?
Conhecida desde a antiguidade, a varíola matou, só no século 20, mais de 300 milhões de pessoas. As que não morriam, ficavam desfiguradas, cheias de sequelas, inclusive cegueira. Graças à ciência e a um esforço mundial, a varíola se tornou a primeira doença a ser erradicada, em 1977. O que vemos agora é um vírus parecido, com características semelhantes àquela que foi combatida.
A doença ganhou esse nome quando foi identificada em 1958 entre macacos africanos usados em um laboratório na Dinamarca. Eles são portadores transitórios, já que os principais hospedeiros são roedores. O contágio pode ser via mordidas, contato com fluidos corporais ou consumo de carne malcozida.
Desde que foi identificado o primeiro caso humano no Congo em 1970, a doença é endêmica em 12 países africanos. Mas os casos atuais são de pessoas sem histórico de viagens para esses países.
Existem dois tipos de vírus da varíola dos macacos: o da África Ocidental e o da Bacia do Congo (África Central). Embora a infecção pelo vírus da varíola dos macacos na África Ocidental às vezes leve a doenças graves em alguns indivíduos, a doença geralmente é autolimitada (que não exige tratamento).
A taxa de mortalidade de casos para o vírus da África Ocidental é de 1%, enquanto para o vírus da Bacia do Congo pode chegar a 10%. As crianças também estão em maior risco, e a varíola durante a gravidez pode levar a complicações, varíola congênita ou morte do bebê, aponta a OMS.
A varíola dos macacos ressurgiu na Nigéria em 2017, após mais de 40 anos sem casos relatados. Desde então, houve mais de 450 casos relatados no país africano e pelo menos oito casos exportados internacionalmente.
Quais os sintomas?
Os sintomas são erupção cutânea aguda, febre, dor de cabeça, inchaço dos gânglios linfáticos e dores musculares. A incubação é de seis a 13 dias, podendo chegar a 21 dias. A erupção surge de um a três dias após a febre, em geral primeiramente no rosto e depois se espalham para outras partes do corpo, incluindo os genitais. As lesões na pele parecem as da catapora ou da sífilis até formarem uma crosta, que depois cai.
Os sintomas da varíola dos macacos podem ser leves ou graves, e as lesões na pele podem ser pruriginosas ou dolorosas. Casos mais leves de varíola podem passar despercebidos e representar um risco de transmissão de pessoa para pessoa. É provável que haja pouca imunidade à infecção naqueles que viajam ou são expostos de outra forma, pois a doença endêmica geralmente é limitada a partes da África Ocidental e Central.
Como ocorre o contágio?
A fonte de infecção nos casos relatados ainda não foi confirmada pela OMS. No geral, a varíola dos macacos pode ser transmitida pelo contato com gotículas exaladas por alguém infectado (humano ou animal) ou pelo contato com as lesões na pele causadas pela doença ou por materiais contaminados, como roupas e lençóis.
O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias. Por isso pessoas infectadas precisam ficar isoladas e em observação por 21 dias.
Existe tratamento?
O tratamento dura de duas a quatro semanas, mas crianças, pessoas com imunidade baixa e mulheres grávidas estão sujeitas a sintomas graves.
A taxa de mortalidade é de 11%, mas nenhuma morte foi relatada nos países ocidentais até agora, de acordo com o Instituto Nacional de Doenças Infecciosas. A causa do surto nos países fora da África não é conhecida.
Historicamente, a vacinação contra a varíola comum mostrou ser protetora contra a varíola dos macacos. Embora uma vacina, do laboratório dinamarquês Bavarian Nordic (o MVA-BN), e um tratamento específico (tecovirimat) tenham sido aprovados para a varíola, em 2019 e 2022, respectivamente, essas contramedidas ainda não estão amplamente disponíveis e populações em todo o mundo com idade inferior a 40 ou 50 anos não tomam mais a vacina, cuja proteção era oferecida por programas anteriores de vacinação contra a varíola, porque estas campanhas foram descontinuadas. No Reino Unido, a vacina contra varíola está sendo oferecida às pessoas de maior risco.
O Japão tem estoque de uma vacina própria, assim como outros países, mas as doses estão previstas para um ataque terrorista biológico.
Como se prevenir
Residentes e viajantes de países endêmicos devem evitar o contato com animais doentes (vivos ou mortos) que possam abrigar o vírus da varíola dos macacos (roedores, marsupiais e primatas) e devem abster-se de comer ou manusear caça selvagem. Higienizar as mãos com água e sabão ou álcool gel são importantes para evitar a exposição ao vírus, além de evitar contato com pessoas infectadas e usar objetos de pessoas contaminadas e com lesões na pele.