Segundo pesquisador, ser dependente de álcool para a mulher é mais “desonroso” do que para o homem
Texto: Bruno Bocchini/Agência Brasil
Foto: ©Marcelo Camargo/Arquivo/Agência Brasil
Uma pesquisa sobre o alcoolismo feminino nos grupos de Alcoólicos Anônimos (AA) mostra que o tratamento das mulheres pode ser mais eficiente quando os encontros dos participantes são realizados apenas com pessoas do sexo feminino. O estudo, conduzido por pesquisadores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), foi publicado na revista Drug and Alcohol Review .
Segundo o autor da pesquisa, o professor Edemilson de Campos, as mulheres relataram sentirem-se menos acolhidas e mais expostas nos grupos mistos. O programa terapêutico do AA se baseia no compartilhamento de experiências e de vivências.
“Nas reuniões onde elas participam com os homens, muitas vezes elas têm dificuldade para expor questões íntimas, questões mais pessoais, que envolve, por exemplo, a questão da sexualidade ou questões afetivas. Elas se sentem intimidadas pelos homens e também, em alguns casos, se referem a assédio, a brincadeiras sexistas, que os homens fazem”.
“Pelo que eu constatei, em entrevistas e também na observação dessas reuniões, algumas mulheres conseguem participar de reuniões mistas, mas a maioria ou a maior parte não consegue, elas acabam muitas vezes abandonando o tratamento por conta disso”, acrescentou.
O pesquisador ressalta que o alcoolismo feminino enfrenta preconceito maior na sociedade do que o masculino. Segundo ele, a mulher alcoólatra é muito mais estigmatizada, ou seja, mesmo que sofra da mesma doença, ser dependente de álcool para a mulher é mais “desonroso” do que para o homem.
“O uso de bebidas alcoólicas por homens e mulheres a sociedade vê de forma diferenciada. Para a sociedade, a mulher assumir que ela tem o alcoolismo é uma questão difícil, existe um preconceito muito forte da mulher alcoolista, e da mulher que bebe também. Isso dificulta para que ela assuma que está realmente dependente do álcool. É um problema da sociedade como um todo, que reflete no próprio AA”.