Governo japonês decidiu dar ¥100 mil para cada criança, mas valor foi repartido e os outros ¥50 mil podem ser entregues em cupons em algumas localidades

 

 

 

 

Texto: Ana Paula Ramos/Record TV Japan
Foto: AdobeStock

 

 

 

É fim de ano, a pandemia continua desfavorecendo os trabalhadores e as despesas não dão folgas, ainda mais para quem tem filhos. Neste contexto econômico ainda fragilizado, o governo japonês decidiu aliviar a barra das famílias com uma ajuda de ¥100 mil para cada criança.

 

A notícia da ajuda veio no início de novembro, surpreendendo positivamente muitas famílias que estavam precisando do recurso. Neste mês, as prefeituras começaram a agendar as datas dos depósitos e para quem recebe o auxílio-infantil (conhecido como ajuda do leite), não será necessário fazer nenhuma inscrição. Quem não recebe o auxílio terá que se inscrever pelo correio ou diretamente no balcão da prefeitura mais próxima da residência.

 

Muitas prefeituras enviaram cartas aos beneficiários do auxílio, informando sobre o depósito. O assunto logo pipocou em grupos de brasileiros no Japão: mulheres pediram ajuda para traduzir a carta, muitas pessoas ligaram para as prefeituras ou foram pessoalmente confirmar o recebimento da ajuda e descobrir a data do depósito.

 

A brasileira Belinha (nome fictício), mora na província de Aichi, é mãe de uma menina de 9 anos e está grávida de um menino, que deve nascer em fevereiro. Ela conta que se informou na prefeitura e descobriu que o filho também terá direito. A ajuda, que será de ¥200 mil para as duas crianças, deve auxiliar nas despesas com os filhos.

 

“Esse dinheiro vai me ajudar a pagar a mensalidade da escola brasileira da minha filha. E a parte do bebê que vai nascer vai ser útil com os primeiros gastos dele. Como não estou trabalhando no momento, só o meu marido, a ajuda está vindo na hora certa”, comemorou.

 

A ajuda destinada aos menores de 18 anos também acolheu os bebês que estão para nascer. Pela regra do governo, as gestantes com o parto previsto para até 31 de março de 2022 também terão direito ao dinheiro destinado ao bebê.

 

A notícia pegou Karyna Ikeda (32), de surpresa. A brasileira que mora em Hekinan (província de Aichi), está no 8° mês de gestação e depois de ler várias publicações sobre o assunto nas redes sociais, decidiu ligar para a prefeitura em busca de informações concretas.

 

“Fui informada de que os bebês que nascem até março receberão a ajuda e não está definido aqui na cidade se será ¥50 mil em dinheiro e ¥50 mil em cupons ou ¥100 mil em dinheiro. Meu parto está previsto para o final de fevereiro e eles falaram que vou receber, mas só depois que o bebê nascer”, explicou.

 

A brasileira não sabia que seria beneficiada e ainda não tem um destino certo para o dinheiro. “Como é um dinheiro que eu nem estava contando, estou apenas feliz que vamos receber. A ideia é guardar para o futuro, porque ainda estou meio perdida com o que comprar para o bebê”, diz.

 

Como o sistema muda de acordo com cada prefeitura, procure a administração local para receber informações sobre os procedimentos corretos.

 

Limite de renda e críticas

 

Quando a ajuda foi anunciada no início de novembro, a ideia do governo era não colocar nenhum limite de renda para receber. Depois de muitas opiniões contraditórias, o governo bateu o martelo: a ajuda será para crianças com pai ou mãe que tenham renda inferior a ¥9,6 milhões por ano.

 

O problema é que o sistema deu margem para injustiças e recebeu novas críticas. Uma delas veio em uma matéria da edição em inglês do Jornal Mainichi, publicada em 15 de dezembro. O artigo ressalta o fato de que o limite de renda é para um genitor, o pai ou a mãe e não para a renda da família.

 

Isto significa que, se o marido ganhar mais do que ¥9,6 milhões ao ano e a esposa não trabalhar, a família não tem direito ao dinheiro dos filhos. No entanto, se o marido ganhar ¥8 milhões de renda anual e a esposa mais ¥8 milhões, somando um total de ¥16 milhões de renda familiar, o dinheiro será fornecido aos filhos.

 

O artigo mostrou o caso de um homem de 41 anos, que é casado, trabalha em Tóquio e tem uma filha de dois anos, mas a renda anual ultrapassa o valor e a família não irá receber a ajuda. Ele levantou a seguinte questão:

 

“Não está claro se a ajuda será dada com o objetivo de dar um suporte para as crianças ou se é uma medida de estímulo econômico por causa do coronavírus. Se o objetivo for assistir as crianças, não é errado que haja restrições para receber?”, questionou.

 

O caso também gerou críticas dentro do governo. Sanae Takaichi, presidente do Conselho de Pesquisa de Políticas do Partido Liberal Democrata (PLD) chegou a comentar que uma “situação extremamente injusta” estava se desenhando. Por fim, o governo central do Japão decidiu deixar para os governos locais decidir por eliminar a restrição de renda em suas localidades.

 

 

 

 

 

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