Cobranças elevadas por danos em árvores, postes ou placas reafirmam a importância do seguro. Mesmo assegurado, o motorista pode ter que arcar com multas caras

 

 

 

Texto: Ana Paula Ramos/Record TV Japan
Foto: AdobeStock

 

 

 

 

Nunca sabemos quando um acidente irá acontecer e mesmo com todo o cuidado, as vezes é difícil evitar. Quando acontece, ver que o motorista e passageiros não sofreram ferimentos ou que o carro não bateu em outros automóveis é motivo de alívio, mesmo que haja danos materiais.

 

No entanto, os prejuízos podem ser preocupantes, ainda mais no Japão. Um acidente que danifique um patrimônio público, como um poste, uma placa ou mesmo uma árvore, pode acabar em cobranças elevadas. Na maioria dos casos, a conta fica nas mãos da seguradora, mas quando o proprietário do veículo não possui o serviço, a cobrança pode resultar em uma dívida alta e duradoura.

 

Foi isto o que aconteceu com Vanessa Wakasugi (35), que mora em Suzuka (província de Mie). Era fevereiro de 2016, quando a brasileira sofreu um dos maiores sustos de sua vida. Ela contou para a Record TV Japan que retornava do trabalho para a casa, em um início de noite de inverno, quando perdeu o controle do carro e acabou colidindo contra um poste.

 

“Eu saí do trabalho 18h30 e, no percurso de volta para a casa, estava frio e os vidros embaçaram ao ligar o ar. Em uma das curvas por volta das 19h, eu achei que estava com o pé no freio e fui regular o desembaçador do carro e, nisso, acelerei por engano”, explicou.

 

O carro era um Mark X 250G da Toyota, que colidiu com tanta força que acabou esfarelando o poste.

 

Os danos no carro e no poste após o acidente em Mie – Foto: Arquivo pessoal/Cedida

“A frente do painel do carro afundou, minhas pernas ficaram enroscadas e a porta do motorista não abria. Eu só gritava e não tinha ninguém, até que um estudante apareceu e abriu a porta do passageiro. Eu me acalmei, saí do carro e liguei para o meu marido e a seguradora, depois fui levada de ambulância”, relatou.

 

Vanessa sentiu o alívio de não ter sofrido ferimentos graves e graças ao poste, o carro não caiu em um barranco. No entanto, os problemas se agravaram quando o funcionário da seguradora informou que o carro não estava mais no seguro e não poderia cobrir os custos.

 

“O meu marido tinha comprado um carro pequeno um mês antes do acidente e a gente tinha uma pessoa de confiança que trabalhava com seguros. Pedimos para ele fazer o seguro do carro novo, mas em vez disso, ele tirou o seguro do Mark X e transferiu para o carro novo sem a gente saber”.

 

Os danos no carro e no poste após o acidente em Mie – Foto: Arquivo pessoal/Cedida

Não foi possível fazer nada a respeito. Vanessa conta que cogitou entrar com um processo, mas desistiu pelos altos custos dos honorários do advogado, serviços de tradução e as audiências poderiam se arrastar por muito tempo. Então, ela e o marido decidiram negociar com a empresa do poste e descobriram que a dívida era de quase ¥ 1 milhão.

 

“Eles verificaram a nossa situação financeira e acertamos o pagamento de ¥10 mil por mês nos seis primeiros meses. Depois nós pagamos mais 30 parcelas de ¥30 mil, até completar os ¥960 mil do poste. Hoje eu passo por lá e penso que o poste é meu, eu que paguei”, brincou.

 

Faltava alguns meses para terminar o financiamento do carro que acabou destruído e ela teve que apressar as parcelas para conseguir dar baixa no registro do automóvel, depois que a placa foi furtada no ferro velho. No total, o prejuízo foi de cerca de ¥2 milhões.

 

“Meu conselho para nós estrangeiros que residimos aqui e não temos domínio do idioma é nunca deixar as coisas nas mãos dessas pessoas de confiança que mexem com documentação do carro. Exija que você mesmo assine os documentos para que isso não aconteça”, sugeriu.

 

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Com a quitação do poste, Vanessa conseguiu comprar um carro novo. O episódio do acidente ficou no passado, mas as lembranças e lições permanecem. 

 

“Eu não tive força e nem dinheiro para correr atrás na justiça, mas creio que a justiça de Deus é maior. Hoje eu saio com todo o cuidado do mundo, apesar de ter cometido um engano e sempre ter sido cuidadosa. Perdi o carro, mas ganhei a vida”, diz.

 

A dívida de uma árvore

 

No mês passado, um acidente que acabou derrubando uma árvore tirou a paz de um casal brasileiro em Isesaki (província de Gunma). Marina Kikuchi (29) conta que o marido Rogerio bateu o carro por volta das 7h da manhã do último dia 18. 

 

Como ficou a árvore após a colisão em Gunma – Foto: Arquivo pessoal/Cedida

O acidente não envolveu outros automóveis e não deixou ferimentos, mas durante a abordagem policial, ele teria sido avisado de que a prefeitura provavelmente mandaria uma cobrança para a casa.

 

“Nós tivemos o seguro do carro cancelado no dia 12 de novembro, pois o meu marido perdeu o emprego e ficamos com dificuldade no orçamento da casa. Na semana do acidente, fomos na seguradora para reativar o seguro e pretendíamos pagar na sexta-feira, mas o acidente aconteceu na quinta e não deu tempo”, explicou.

 

Preocupada com uma possível dívida alta, Marina perguntou em um grupo de brasileiros se alguém tinha noção do custo da árvore. Recebeu uma série de relatos como respostas, de conterrâneos que passaram por situações parecidas ou conheciam alguém que pagou até mais de ¥1 milhão pela queda de uma árvore.

 

“Ficamos muito preocupados e resolvemos ir na prefeitura para perguntar. Eu expliquei o ocorrido e eles informaram que chegaria no máximo a ¥200 mil e que poderia ser parcelado. No fim, ligaram falando que ficou ¥62 mil. São as lições da vida, agora aprendemos que o seguro é prioridade, não tem jeito”, disse.

 

A placa que custou ¥700 mil

 

Há dois anos, Renata Cintielle (28), escapou de uma dívida alta depois de bater o carro em uma placa de trânsito em Takahama (Aichi). Ela conta que estava no terceiro dia do serviço e um pouco atrasada quando o acidente aconteceu.

 

“Eu fui olhar a hora que ia chegar no serviço, estava sem óculos e passei direto na sinalização do tomare (pare). Peguei um carro vindo da esquerda, o da frente e a placa, que acabou ficando inclinada. O custo foi de ¥700 mil”, contou.

 

O carro de Renata Cintielle, depois da colisão contra dois veículos e a placa de pare (tomare) em Aichi – Foto: Arquivo pessoal/Cedida

Felizmente, Renata estava com o seguro em dia, que pagou a placa e os outros custos, incluindo os danos nos automóveis envolvidos no acidente. “Quando você tem seguro é muito fácil de resolver, eles fazem tudo. Eu não conversei com as vítimas, tudo o que tinha que ser feito a seguradora fez. Eu chamei a polícia e fiquei esperando”, relatou.

 

No entanto, o acidente não saiu sem prejuízo financeiro, além dos pontos da carteira e uma suspensão de três meses. “Eu não imaginava que teria que pagar multa, mas fui cobrada em ¥300 mil. Nem foi pelo tamanho do acidente, mas pela gravidade. As vítimas falando que estão com dores e isso fez a multa ficar mais cara”, disse.

 

É difícil prever o prejuízo financeiro que um acidente pode causar, a localidade atingida, a extensão dos danos ao patrimônio público e os custos de conserto podem variar, chegando a milhões de ienes a depender do caso.

 

Um alerta publicado pela revista japonesa sobre automóveis CarMe explicou que um pequeno dano em um poste, na melhor das hipóteses, pode sair por ¥80 mil o conserto e mais de ¥100 mil a mão de obra. A colisão de um caminhão contra o semáforo pode sair em torno de ¥1 milhão se o equipamento tombar.

 

Dirigir com cuidado e atenção é um requisito básico para a segurança, além de obedecer às normas de trânsito. Mesmo assim, os motoristas estão sempre sujeitos a se envolver em acidentes e o seguro se torna um investimento indispensável para evitar que uma fatalidade resulte em uma dívida de anos.