Pagamento da taxa de transmissão do canal é obrigatório para quem tem televisão, mesmo se não assistir ao canal. Dificuldade de entender o sistema e o idioma é a causa da maioria dos conflitos

 

 

 

Texto: Ana Paula Ramos/Record TV Japan
Foto: AdobeStock

 

 

 

Quase todo mundo que mora ou morou no Japão já passou pela experiência de receber a visita de um cobrador da emissora estatal NHK. Eles aparecem de repente, perguntam ao morador se tem TV em casa e se a resposta for positiva, informam: pelas leis do Japão, todo mundo que tem um aparelho de TV em casa precisa assinar o contrato e pagar a taxa de transmissão da NHK.

 

A obrigatoriedade é real e está descrita na Lei de Telecomunicação (Hosouhou) do país. Qualquer cidadão que tenha um aparelho de TV capaz de transmitir o sinal da emissora deve pagar a taxa de transmissão, ainda que não goste do canal. 

 

A legislação é polêmica até mesmo para os japoneses e para os estrangeiros que não conhecem o sistema, os cobradores que surgem na porta com este discurso podem acabar confundidos com golpistas.

 

Não são poucos os relatos de conflitos na comunidade com os cobradores. Quem está há muitos anos no país e decidiu não assinar o contrato, já recebeu inúmeras visitas e passou por discussões calorosas com os cobradores. Há casos de ameaça de processo por parte do funcionário da emissora e estrangeiros que ameaçam acionar a polícia pela perturbação. No fim das coisas, nada é resolvido para nenhum lado.

 

Regina Takahashi Eto tem 52 anos e mora na província de Ibaraki. Ela está no Japão desde 1991 e contou para a Record TV Japan que já recebeu inúmeras visitas ao longo dos anos, em todos os apartamentos que morou e na residência atual. A primeira visita aconteceu ainda no início da vida no país e a brasileira já havia sido informada sobre o canal na época.

 

“Eu sabia porque meus amigos japoneses tinham falado sobre isso. Na primeira vez eu tinha acabado de me casar e fui morar no apartamento da empresa quando o cobrador apareceu. Nós discutimos, ele disse que eu tinha que pagar e eu não entendia bem o japonês. Falei que não queria. Ele insistiu que todo mundo paga, eu disse que era mentira, meus amigos não pagavam”, contou.

 

Regina Takahashi Eto conta que já discutiu várias vezes com os cobradores da emissora – Foto: Arquivo pessoal/Cedida

O cobrador foi embora de mãos abanando. Depois, Regina se mudou para outro apartamento e teve que lidar com mais um cobrador, dessa vez mais insistente que o primeiro.

 

“Ele insistiu muito e eu disse que ia pensar, achando que ele não ia voltar mais. Mas ele voltou umas três semanas depois. A gente ficava do lado de fora porque as crianças brincavam na rua e eles aproveitavam que as portas estavam abertas. Quando ele voltou perguntando se eu tinha pensado, eu disse que não ia pagar e ele ficou furioso e disse que ia me colocar na justiça”, relembrou.

 

Regina não se preocupou tanto, pois não tinha fornecido nenhum dado de identificação pessoal. Mesmo assim, ficou com um pouco de receio depois da discussão. “A gente sabe que a lei funciona no Japão e eu fiquei com medo. Mas nunca me senti fazendo nada de errado, porque não assisto televisão. Não acho que tenho que pagar por algo que não uso”, diz.

 

Quando se mudou mais uma vez, desta vez para uma casa, a brasileira quase acabou fechando o contrato com a NHK sem querer.

 

“Desta vez foi o meu marido, ele estava sozinho quando o cobrador veio. Quando eu cheguei em casa, ele estava apavorado, cheio de papéis nas mãos. Ele disse que a gente tinha que pagar, que o rapaz da NHK explicou que é obrigatório. Eu perguntei se ele tinha assinado algo e ele disse que não, que disse ao cobrador que ia esperar por mim para discutirmos o assunto”, relatou.

 

Como estava decidida a não pagar, Regina convenceu o marido de que não precisava assinar o contrato. “Sorte é que o carimbo fica comigo e sempre decidimos as coisas juntos. Depois o cobrador voltou e abordou o meu filho, mas ele já sabia da história e disse que não tinha dinheiro e o homem foi embora”.

 

Tentativa de dar a TV ao cobrador 

Há momentos em que a discussão com os cobradores é levada para um lado trágico e em outros casos, para um lado cômico.    …. » Continue lendo 

 

 

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